faz de conta que o que é, é!... avança o peão de rei.

...
o mistério difícil
em que ninguém repara
das rosas cansadas do dia a dia.

José Gomes Ferreira

terça-feira, 28 de abril de 2009

ou... "Uma História com Final (aparentemente) Feliz" - 24

24.

A quase surpreendente atitude serena e firme do Homem veio frustrar o que o Senhor Administrador planeara, em que o jantar poderia servir para tentear a receptividade do Homem e da Mulher para uma campanha publicitária em que “o caso” e os personagens fossem tema, discreto, subliminar. “O banco que salva…” ou “Não desespere… conte sempre com este banco” ou “O banco que está onde se (des)espera”. E outras ideias que os criativos trabalhassem.
Mas tudo dependeria, claro, da aceitação do Comendador. A última palavra pertenceria, como sempre, a este. Que comandava tudo. O Senhor Administrador estava apenas a congeminar.
E, enquanto congeminava em como dar a volta à situação, e apenas projectos, em que o jantar era um passo, apercebeu-se que o Director da Agência ainda esboçava uma insistência. Interveio logo “não… não há que insistir… temos de compreender a necessidade do casal conversar… conversaremos noutra altura… até porque tenho algumas ideias…”. Como quem pisca o olho.
O Homem foi um pouco seco:
“O Senhor Administrador desculpe… agradeço a sua compreensão…
Por outro lado, não sei que ideias possa ter... e em que eu entre. Nem quero, agora, saber. A única coisa que pretendo é uma resposta para o problema da livrança, situação conhecida, e que eu, aqui neste gabinete, tomara por decidida – o que muito me perturbou – e que, afinal, não estaria… interpretei mal…
O que aconteceu entretanto nada altera… a não ser, evidentemente, o facto, para mim merecedor de uma gratidão sem preço, do banco ter dado um enorme contributo para me ser salva a vida, que – já o disse – estupidamente pus em risco.”
Caiu algum embaraço entre os três homens. Que pouco durou porque quase logo veio o anúncio, trazido pela Secretária, a prolongar extraordinariamente as horas extraordinárias, de que o motorista telefonara, já em Lisboa, e estava a chegar com a Mulher do Homem.
O Homem voltou a surpreender:
“Os senhores desculpem… peço-lhes que não a façam subir. Que ela espere por mim lá em baixo, à porta… eu vou ao seu encontro.
Compreendam… Queria encontrar-me com ela lá em baixo, fora deste gabinete em que nenhum de nós, nem os senhores nem os dois, ela e eu, estaria à vontade num encontro tão especial para os dois…”
“Com certeza, com certeza…”
, disseram os outros dois com muito pouca certeza do que estariam certos. Mas fizeram, logo, com que as coisas acontecessem como o Homem queria que acontecessem.
E se, com certeza ou sem ela…, os senhores, Administrador e Director de Agência, se viram forçados à descrição, não seria este Narrador, que discreto deseja ser, que iria trazer para aqui, para a praça pública, o primeiro encontro, íntimo e emocionado, do casal que tinha tanto para conversar. Mas lá entre os dois!

2 comentários:

Maria disse...

E pronto, lá cortou o Homem a hipótese do senhor administrador aparecer como o bom da fita na novela das oito...
:))

Abreijos
Até quinta, aqui

Anónimo disse...

Coitadinho, afinal o sr. administrador até é "boihome".

Campaniça