24.
A quase surpreendente atitude serena e firme do Homem veio frustrar o que o Senhor Administrador planeara, em que o jantar poderia servir para tentear a receptividade do Homem e da Mulher para uma campanha publicitária em que “o caso” e os personagens fossem tema, discreto, subliminar. “O banco que salva…” ou “Não desespere… conte sempre com este banco” ou “O banco que está onde se (des)espera”. E outras ideias que os criativos trabalhassem.
Mas tudo dependeria, claro, da aceitação do Comendador. A última palavra pertenceria, como sempre, a este. Que comandava tudo. O Senhor Administrador estava apenas a congeminar.
E, enquanto congeminava em como dar a volta à situação, e apenas projectos, em que o jantar era um passo, apercebeu-se que o Director da Agência ainda esboçava uma insistência. Interveio logo “não… não há que insistir… temos de compreender a necessidade do casal conversar… conversaremos noutra altura… até porque tenho algumas ideias…”. Como quem pisca o olho.
O Homem foi um pouco seco:
“O Senhor Administrador desculpe… agradeço a sua compreensão…
Por outro lado, não sei que ideias possa ter... e em que eu entre. Nem quero, agora, saber. A única coisa que pretendo é uma resposta para o problema da livrança, situação conhecida, e que eu, aqui neste gabinete, tomara por decidida – o que muito me perturbou – e que, afinal, não estaria… interpretei mal…
O que aconteceu entretanto nada altera… a não ser, evidentemente, o facto, para mim merecedor de uma gratidão sem preço, do banco ter dado um enorme contributo para me ser salva a vida, que – já o disse – estupidamente pus em risco.”
Caiu algum embaraço entre os três homens. Que pouco durou porque quase logo veio o anúncio, trazido pela Secretária, a prolongar extraordinariamente as horas extraordinárias, de que o motorista telefonara, já em Lisboa, e estava a chegar com a Mulher do Homem.
O Homem voltou a surpreender:
“Os senhores desculpem… peço-lhes que não a façam subir. Que ela espere por mim lá em baixo, à porta… eu vou ao seu encontro.
Compreendam… Queria encontrar-me com ela lá em baixo, fora deste gabinete em que nenhum de nós, nem os senhores nem os dois, ela e eu, estaria à vontade num encontro tão especial para os dois…”
“Com certeza, com certeza…”, disseram os outros dois com muito pouca certeza do que estariam certos. Mas fizeram, logo, com que as coisas acontecessem como o Homem queria que acontecessem.
E se, com certeza ou sem ela…, os senhores, Administrador e Director de Agência, se viram forçados à descrição, não seria este Narrador, que discreto deseja ser, que iria trazer para aqui, para a praça pública, o primeiro encontro, íntimo e emocionado, do casal que tinha tanto para conversar. Mas lá entre os dois!
“Com certeza, com certeza…”, disseram os outros dois com muito pouca certeza do que estariam certos. Mas fizeram, logo, com que as coisas acontecessem como o Homem queria que acontecessem.
E se, com certeza ou sem ela…, os senhores, Administrador e Director de Agência, se viram forçados à descrição, não seria este Narrador, que discreto deseja ser, que iria trazer para aqui, para a praça pública, o primeiro encontro, íntimo e emocionado, do casal que tinha tanto para conversar. Mas lá entre os dois!
2 comentários:
E pronto, lá cortou o Homem a hipótese do senhor administrador aparecer como o bom da fita na novela das oito...
:))
Abreijos
Até quinta, aqui
Coitadinho, afinal o sr. administrador até é "boihome".
Campaniça
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