faz de conta que o que é, é!... avança o peão de rei.

...
o mistério difícil
em que ninguém repara
das rosas cansadas do dia a dia.

José Gomes Ferreira

quinta-feira, 9 de abril de 2009

ou... "Uma História Com Final (aparentemente) Feliz" - 16

16.

Mal entraram na estrada, os dois namorados olharam-se. Estranhando-se.
Perguntou ele, que ia ao volante: “Não percebo… de repente quiseste zarpar. Logo tu que costumas ser tão solidária, que procuras ajudar em casos como este… embora nunca tivéssemos encontrado nada parecido com isto…”
Respondeu ela: “Pois… eu vi que não tinhas percebido…e quase o mostraste aos GNR… eu queria afastar-me. Podias ter esperado que eu te explicasse em vez de mostrar estranheza…”
“Bom… não vamos desconversar… então qual era a razão da tua pressa?”
“É que quero telefonar já, já, ao Zé da TV e dizer-lhe o que se passa… Como sabes ele foi há pouco nomeado para as reportagens ou lá o que é e pediu-me, pediu-nos, que o avisássemos de qualquer coisa que pudesse interessar…”
“Pediu-te a ti… que a mim não me pediu nada… mas tudo bem… e achas que este caso pode interessar?”
“Que te parece? Um homem que se põe em risco de vida perto do Guincho, a GNR a procurar ajudá-lo e evitar que ele se mate…”
“Um suicídio em directo com a GNR a tentar evitá-lo…”
“ Não brinques que o caso é sério… agora cala-te que já marquei o número do Zé…”
“… do Zé da TV!…”
, resmungou ele. Parou num espaço para parque.
“Estou… Zé? Sim, sou eu. Olha, estava aqui perto do Guincho e vimos (…) sim, estou com ele, claro… e vimos um homem meter-se pelas rochas mar adentro e, pouco depois, chegar um jeep da GNR, com dois mangas, que até nos pregaram um susto, e que estão a fazer um esforço dos diabos, especialmente um deles, para salvar o homem (…) Sim, o homem vê-se, está sentado lá longe, mas vê-se bem. Parece estar a pensar, a olhar para o mar. (…) Sim, está em perigo… e com a maré a subir maior será o perigo (…) O quê? (…) Sim, é naquele espaço aberto (…) Sim, nesse (…) Vamos para lá…”
Um curto silêncio. Ele mostrava, sem o querer esconder, que aquela conversa não lhe agradara. Ela percebia-o. Já várias vezes ele mostrara que aquela amizade lhe desagradava e, antes de vir a pergunta como é que o Zé da TV localizara tão depressa o lugar, antecipou-se:
“Olha, querido, o Zé ficou mesmo interessado. Parece que nem está longe, com uma equipa com operador de câmara e de som e tudo. Aliás, conhece bem estes locais por causa de um ou dois casos de pescadores em perigo, e vem já a caminho… Oh, amor, estávamos nós tão bem os dois…”
E, carinhosamente, pôs a mão no joelho do Rapaz, e deu-lhe um beijo brincalhão na face. Ele esqueceu tudo o resto, só disso se lembrou:
“Pois… estávamos nós tão bem… Vamos embora daqui? Vamos para outro lado?”
“Vamos, vamos, amor… mas, antes, vamos para lá, para onde está o homem e os guardas…”
“É isso que queres?”
“Claro. Este caso do homem do Guincho está a interessar-me muito… e gostava de poder ser útil ao infeliz… ia agora deixar o homem assim…”
“Pronto, está bem!… Não sei em que o possamos ajudar… mas também me custava voltar as costas… Estávamos nós os dois tão bem…”
Foi a vez dele pousar a mão na coxa dela. Como quem, resignado, se despede.
Beijaram-se. Com carinho. Antes de arrancarem, de fazerem meia volta e voltar ao local onde tinham deixado o Homem e os guardas-republicanos a vigiá-lo.

1 comentário:

Maria disse...

... mas isto promete muito mais do que a ida do Homem ao Banco... já temos TV e tudo (para não falar da mão malandreca que se passeia por onde... deve!)

Bom dia!
Beijos