faz de conta que o que é, é!... avança o peão de rei.

...
o mistério difícil
em que ninguém repara
das rosas cansadas do dia a dia.

José Gomes Ferreira

sexta-feira, 25 de agosto de 2017

O TEMPO, A VIDA, A MORTE, O NORTE

sempre grato ao R.R.


O TEMPO DE AGORA

Quando penso,
              ou digo,
              ou escrevo
                                 AGORA
o primeiro A já é passado
no triplo salto para o futuro,
para o último A...
que logo logo passado é 
e acabou o tempo daquele 
                                           AGORA
mas logo logo chega outro,
até se esgotarem agora mesmo!

sexta-feira, 11 de agosto de 2017

AS MORTES A DESTEMPO - página de um livro quase acabado

INTERVALO PARA UM LÁGRIMA

De súbito, neste desfiar de memórias, os dedos suspendem-se sobre as teclas e em vez de descerem para continuar os contares e as contas  deste rosário, antes de passarem pelo emaranhado dos cabelos, retém-se nos olhos, a secar uma lágrima. Não das artificiais que o muito uso começou a exigir, nem das reais que por vezes se soltam na comoção de um momento.
Uma lágrima cá bem de dentro e fundo. Ao lembrar gente e amizades ligadas ao que as recordações me trazem.
Têm os nomes do Zé Casanova, do Herberto, do João Honrado, do João Lourenço, do Bino Peixoto, agora, há dias, da Isabel M.. Sim, têm estes nomes de quem morreu, talvez a seu tempo embora sempre brutal surpresa. 
Mas, neste escrito, neste intervalo do que escrevo, são as mortes a destempo que me preenchem. 
A do Flávio, e o seu telefonema do hospital para a Festa do Avante!, a sua vida cheia de força, de esperança, de futuro que construía para si-e-os outros, o meu neto de Somos todos netos de Abril; a do João "Barrote", sempre discreto, sempre presente, sempre amigo, sempre como que a apagar-se, um pouco perdido, solidário e solitário, quase diria desistente; a do Paulito, a vê-lo aqui em casa, na véspera das férias e da que se seria a sua última, estúpida, viagem, com o seu entusiasmo contagiante, a falar de projectos, a exigir ideias e trabalho… de teatro, pois de que havia de ser?

Às vezes, é difícil reter as lágrimas que não se choram. Que ficam na garganta e que, ao serem lidas as palavras escritas, estrangulam a voz.

Os dedos descem, tristes mas resistentes, com destino a estas teclas. Para me continuar. Enquanto. E por eles. e por todos.