faz de conta que o que é, é!... avança o peão de rei.

...
o mistério difícil
em que ninguém repara
das rosas cansadas do dia a dia.

José Gomes Ferreira

sexta-feira, 28 de maio de 2010

Dit-elle

«É bom este tempo de anoitecer tarde!...»
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quarta-feira, 26 de maio de 2010

Nocturno

Não. Não se trata de estado de espírito. Não se preocupem...
É, apenas, uma foto em que tropecei duas ou três vezes quando procurava uma outra e que parecia desafiar-me a que a colocasse. Aqui está.
Um nocturno captado no quintal numa noite de luar, reflectido na piscina ainda coberta:


sábado, 15 de maio de 2010

Deste canto da sala

Deste canto da sala, onde vou lendo e trabalhando,
para estar com ela,
enquanto recupera de maselas...

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... com o sol
ainda a entrar e a reconfortar-nos com esta luz única porque só aqui, a esta hora e só para nós.

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Où que me portent mes voyages la Grèce me blesse

Quantas vezes ouvi esta tão bela Melina Mercouri, e, quantas vezes..., sussurrando, troquei a Grécia por Portugal?

Será um fado?

segunda-feira, 10 de maio de 2010

estórias... - 42-Só nos saem duques...

Ontem, foi o Benfica, com toda a histeria dos festejos da vitória (que continuaram por hoje), e a violenta contra-manifestação no Porto, e mais a violenta contra-contra manifestação policial, que me levaram à escrita de uma estória de desporto.
Hoje, entre a visita de ex-ministros das finanças a um dos seus e a visita de Bento XVI à nossa terra e o anúncio (ou só aviso-ameaça?) do aumento do IVA e os 24 que vão à África do Sul dobrar o Cabo da Boa Esperança, ainda sobrou tempo de informação mediática para nos darem pormenores sobre o estado de saúde de um senhor Juan Carlos, ao que dizem rei de Espanha, e foi esta parte do noticiário que me lembrou um outra estória. Fidalga.
Aí vai ela (não terá sido exactamente assim., mas trata-se de ficção... do cordel):
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O meu pai tinha um viciozito, sim, não chegava a ser vício. Era o viciozito da jogatina. Nada de muito grave, mas suficientemente grave para perturbar o ambiente familiar. Porque as sessões de jogo muitas vezes se prolongavam pela noite e madrugada dentro a entrar na manhã, o que não era nada agradável para a minha mãe (nem para mim, à medida que me ia apercebendo), mas também descobria nela alguma resignação (diria, sob protesto...) feminina. Se calhar, isto é um suponhamos..., a minha mãe preferia que ele "perdesse a noite", sabendo ela onde ele a tinha perdido, do que ele viesse para casa a horas mais apropriadas sem ela saber de onde ele vinha, ou não querendo saber, ou procurando saber através de algum vestígio na roupa ou no odor. No do meu pai, era só tabaco, porque nesse tempo se fumava... mas só os homenes, e então à mesa com pano verde era grande o consumo.
Bom, eram assim aqueles tempos...
Pois um dia, já comigo adolescente, nuns momentos de descontração, que não eram muito frequentes como parece quase nunca serem entre pais e filhos, ele contou-me uma estória me me veio agora à memória.
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- Queres que eu te conte uma coisa que me aconteceu, aqui há tempos, há uns bons anitos, no Ateneu Comercial de Lisboa?
- Sou todo ouvidos...
- ... estávamos a formar uma mesa de jogo com os parceiros habituais...
- Mas não é na Casa do Alentejo que tu vais jogar?
- Agora é... mas nesse tempo era no Ateneu e, como te tenho dito, sempre joguei e continuo a jogar comedidamente, nunca arrisco mais do que posso...
- Pois... mas...
- Já temos falado sobre isso... mas agora queria conta-te a história...
- Conta, conta...
- Estávamos a ver se formávamos uma mesa, e faltava dos nossos parceiros habituais. Então um dos nossos amigos, um fulano muito "da alta", lembrou-se de ter visto a jantar sózinho num restaurante da Rua Jardim do Regedor um seu conhecido com quem costumava fazer umas sessões de jogo, parece que em Cascais... era alguém dos meios do então rei de Espanha, por ali exilado, e perguntou-nos se veriamos inconveniente em o ir convidar... se ainda estivesse no restaurante, Claro que ninguém se opôs, apesar das regras apenas permitirem formar mesas com sócios... mas dada a necessidade e as credenciais...
- E então, ainda apanharam o gajo?
- Gajo?... essa vossa linguagem... Ainda por cima esse a quem tu chamas gajo estava no restaurante, aceitou o convite, era simpatiquíssimo e foi um excelente parceiro. Mas o engraçado da história não está aí.
- Sim, até agora não teve lá muita graça...
- Pois não. A graça está em que, quando o fulano chegou, todo pinoca, cheio de "nove horas", o nosso parceiro o apresentou como... duque de não sei quê, e sabes qual foi a minha reacção?
- Sei lá...
- Muito prazer, é a primeira vez que aperto a mão a um duque fora do baralho.
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Ri-me mesmo a sério, e ainda hoje rio.

Uma estória... - 41-...de desporto

Hoje, apetece-me contar uma estória "desportiva". Porque será?
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Em Maio de há quatro anos, já noite dentro, voltávamos lá do norte, de uma deslocação com a equipa de hóquei do Juventude Ouriense e parámos, como era habitual, numa estação de serviço.
Vinha tudo bem disposto, todos passaram pelos sanitários (é uma coisa que quando faz um português, fazem logo dois ou três), uns dirigiram-se ao balcão dos bebes-e-comes, outros fizeram a sua vistoria, também habitual, das revistas em exposição com corpos apetitosos em exposição. Uns mais calmos, outros mais excitados.
Sob o olhar vigilante dos empregados da estação de serviço, tudo estava a correr muito bem, ao contrário do que às vezes acontece por aquelas paragens, com claques, no regresso de jogos de futebol. Muito animados, barulhentos, mas nada demasido, nem a animação, nem o barulho.
Um casal que entrou na loja e bar da estação de serviço começou por mostrar alguma desconfiança por ver tanto fato de treino e alguma agitação, mas logo perdeu os eventuais receios porque, na verdade, o grupo estava mesmo animado, ria e brincava mas não havia sinais de excessos ou de que eles pudessem vir a aparecer.
Talvez estimulados pelo ambiente, e porque eu estava um pouco afastado dos mais exuberantes, dirigiram-se-me, a "meter conversa", decerto tranquilizados pelas minhas barbas brancas (já o estavam há quatro anos...).
- Então... parabéns...
- Obrigado.
- Pelos fatos de treino, já vimos que são de Ourém... bonita terra... o que é que jogam?
- Jogamos hóquei...
- Sim, senhor... e o amigo é treinador, ou massagista, ou dirigente?... jogador não é...
- Pois não, pois não... bem gostava ainda... sou o presidente da direcção...
- Ah! muito bem, muito bem... jogaram onde?
- Em Valongo, ou melhor, em Balongo...

(riram-se)

- Sim, senhor... e ganharam por quantos?
- Não ganhámos... perdemos por 6-1.
- O quê?!... E estão assim a festejar... parecem tão contentes... e perderam?!... e por 6-1!?
- Pois é! Nós somos assim. É assim que encaramos o desporto!
Despedimo-nos. com simpatia mútua e desejos de felicidades.
... Só não lhes disse, para não diminuir o efeito... pedagógico, que apesar de termos perdido (e por 6-1) subiramos à 1ª divisão nacional, e que era, por várias razões (não só desportivas), o dia mais feliz da minha longa carreira desportiva.


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Dias depois, ainda festejando,
a cantar Grândola
com o meu amigo Jorge Godinho

sábado, 8 de maio de 2010

Crise

E não vem ninguém comprar (e beber comigo...) a porra de uma bebida!
Está cá uma crise...

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Dizeres e fazeres - 2

Antes de mim (ou... vá lá... antes de nós) era o caos!
Agora, comigo... é o caos!... mas a culpa é do caos antes de mim e que eu vim resolver!
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Mas, antes de ti..., o caos não era tão grande quanto tu o dizias
e, agora..., o caos parece bem maior do que tu o dizes!

Dizeres e fazeres - 1

- «Eu sou frontal no que digo!», diz ele.
E, depois, aos (e como de) costumes, disse... nada.
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Eu, por mim, não digo que sou frontal... sou frontal no que digo. E no que faço.
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- « Mas tu és... comunista!»
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Ah! pois sou.
Sou comunista. Frontalmente! E sei porquê.
E tu... és o quê?


terça-feira, 4 de maio de 2010

De que mundo sou?

Vivo aqui. Os meus vizinhos são aqueles com quem vivo paredes meias, mesmo que as paredes não sejam a meias porque campos as separam. Mas é a gente com quem me cruzo todos os dias, ou quase todos, nestes caminhos que são os da vida.
É com quem quotidianamente convivo… Damo-nos as salvações, ouço-lhe as vozes ou os carros quando passam na estrada, às vezes (e não poucas!) provam amizade ao trazer-me premissas, ovos, uma galinha, azeite, um garrafão do vinho novo. Não para “pagar favores”, que o único favor que lhes faço é ser seu vizinho, com eles conviver e, por isso, ser solidário quando há razões para mostrar solidariedade.
Alguns são velhos amigos. Do tempo de cachopada, de adolescência, de dias inteiros passados atrás de uma bola, ou à porta do Xico ou no Campo de S. Sebastião, de adultos nos descobrirmos. E de sempre nos reconhecermos.
Mas, por vezes, sinto que há mundos a separarem-nos. Não as paredes meias, nem os campos e campos, mas vivências que nos aproximaram esporadicamente e nos afastaram insanavelmente. Nunca fui o senhor economista, ou o senhor deputado, ou o senhor doutor, mas sou o doutor (e o comunista!), tenho mais livros e jornais em casa que toda a aldeia junta, sei de coisas e falo de coisas que não são as coisas que eles sabem e de que eles falam.
Queria tanto estabelecer pontes! Procuro-as, mas pouco encontro para além de uns copos e das recordações comuns. Falar o quê?, de quê?, falar do PEC?, argumentar pelo sim à IVG (e em que condições), e ouvir de resposta «valha-me Deus, que pecado!, tirar a vida a inocentinhos…» pela boca de quem fez sabe lá quantos "desmanchos", com a graça de deus porque sobreviveu aos enormes riscos?, conversar com professores que por aqui procuram a tranquilidade e nada dessas «coisas da política»?
Mas em que mundo vivo? Não é neste e com esta gente, de que sou e de que gosto de ser?

A Dora, com a minha mãe e as irmãs Luisa e Maria "Santo Amaro",

numa foto de há mais de meio século


Tudo isto viaja dentro de mim, mas um dia destes bateu-me violentamente à porta (por esse lado de dentro). Morreu a Dora! A Maria da Adoração Costa, uma vizinha que foi bem mais que vizinha, e de cuja morte apenas soube umas horas depois do enterro. E tinha estado aqueles dias em casa, com o carro visível, se calhar entrando e saindo para pequenos percursos nele montado ou a pé. Ninguém me disse nada!
A Dora era uma muito jovem mãe solteira que vivia com a mãe no Vale da Perra e que, numas férias, veio trabalhar cá para casa, para “criada”, como então se dizia. Veio à experiência, agradou à minha mãe, foi para Lisboa connosco.
Há 60 anos! E ficou anos em nossa casa. Não sei quantos. Quantos quis, até mudar de querer, de vida, de estado. Casou com o Zé da Barroca, velho amigo de futeboladas e festas de aldeia, de quem teve mais dois filhos, e que cedo «foi para adubo», como ele dizia.
Depois, quando a minha mãe precisou de quem a tomasse a seu cuidado, e antes da solução inevitável da ida para um lar, o de Vilar dos Prazeres, onde eu a visitava quase todos os dias até à sua morte, aos 96 anos, ainda foi da Dora que me lembrei e com ela se tentou a continuação da vida na casa da Rua do Sol, e foi como se duas amigas se reencontrassem.
E muitas vezes nos encontrávamos, até porque ela tinha, com outras senhoras vizinhas, o hábito de dar passeios para «fazer bem à saúde», e connosco se cruzava.
E, agora, morreu a Dora e eu apenas soube umas horas depois do enterro. Queria ter-me despedido dela, dar um abraço aos filhos, filha e netas.
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De que mundo sou?, com quem convivo?

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Desato-me. E dato-me.

Acabei de almoçar. O resto do excelente bacalhau de ontem, aquecido no micro-ondas.
A Zé foi às suas artes-e-andanças das heranças, lá para os entroncamentos, e almocei sozinho. Estava óptimo o ex-bacalhau no forno (recuperado em ondas-micro) com as batatas a murro, mas ainda melhor me souberam os dois copos do excelente tinto da lavra do meu amigo de infância Manel Sardinha, que aqui me deixou como oferta (naquela embalagem de plástico, ó Manel?, então os garrafões do nosso tempo?), que cada vez melhor me sabe (do verbo saber…).
Por isso, me desato, datado que estou. Me desatei a pensar e, agora, me desato a escrever.
Ainda hesitei entre a sesta e o pôr-me aqui a pôr em papel, faz-de-conta…, o que me veio vindo à cabeça enquanto almoçava. Mas, como se pode (v)ler, decidi-me por aqui vir. Desatar-me.
(Depois de lavada a louça, claro!)
Então… é assim:
Se eu não fosse eu, admirava-me! Não que ache que sou um exemplo, e muito menos sou um ídolo de mim. Talvez pelo contrário. Mas… se eu não fosse eu, admirava-me.
Se eu não fosse eu, criticava-me duramente (o que, noutras circunstâncias, poderia considerar auto-critica). Mas há pouco não me deu para isso. Há pouco, enquanto almoçava, admirava-me. Admirava-me por ter sido sempre surdo aos cantos das sereias (e alguns cantos de algumas sereias foram), por – já que estou em imagens zoológicas – me ter mantido, e manter!, teimoso como um burro no que sei que é coerência, respeito por/cumprimento de valores e princípios. Sem transigências. Cujas são, sempre, o começo do fim da coerência… diria o teimoso como um burro. que não zurra mas diz, e escreve, e assina.
Estas são daquelas coisas que eu escreveria, datadas e desatando-me, se ainda escrevesse a minha espécie de diário, de que tenho uns milhares de páginas. Estou sempre a pensar em retomar essa abandonada maneira de comunicar comigo, de que o gosto de (ou o apelo a) comunicar com os outros me desviou para estas veredas bloguistas.
Dato-me, desato-me e adapto-me.

sábado, 1 de maio de 2010

Brelianas (e de outros como ele) - 4

Comecei a "preencher" tempo de viagem, e antes de começar a trabalhar. Frases, palavras, sons... coisas brelianas na cabeça. Tomei nota de algumas. E a lista vai longa. De coisas "à Brel (e à maneira de outros como ele)".

E esta aznavouriana não me sai da cabeça. Não por quaisquer razões pessoais. Bem pelo contrário. Esta é mesmo ficção!

  • Tu te laisse aller... e porquê?

(E vai com som!)

Dificilmente encontro «história de vida» melhor contada. Aliás, Aznavour é, para mim, um dos melhores contadores de estórias em três minutos que conheço. Se não o melhor...