faz de conta que o que é, é!... avança o peão de rei.

...
o mistério difícil
em que ninguém repara
das rosas cansadas do dia a dia.

José Gomes Ferreira

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

"Outro" Casquilho - também provocatório

desenho a tinta china, 1977

«Este desenho faz parte de uma série feita por Guilherme Casquilho em 1977 no Baixo Alentejo, na Zona de Intervenção da Reforma Agrária, prolongada ainda nesse ano no litoral alentejano com inúmeros outros desenhos cujo tema é a faina piscatória. Guilherme Casquilho foi em grande parte da sua obra um «pintor do trabalho», nomeadamente dos homens e mulheres dos campos alentejanos. Foi também um dos que deram expressão artística «de massas» (na pintura de telas e murais, nos «autocolantes», na ilustração de publicações) à Revolução de Abril. Comunista, Casquilho foi ainda um infatigável obreiro da Festa do «Avante!» - um de entre numeroso grupo de artistas plásticos que contribuíram para dar à Festa, desde a sua primeira edição, na FIL em 1976, o cunho de grande realização política e cultural de massas, com a exposição de arte em espaço aberto, os seus grandes painéis e manchas de côr, numa «arte de rua» que em breve outros eventos (e a própria Cidade) adoptariam. Casquilho nasceu em Montelavar, Sintra, em 1930 e morreu em Lisboa, em 10 de Janeiro de 1991. Frequentou a Escola de Artes Decorativas António Arroio e a ESBAL. Realizou em 1957 uma exposição individual na Galeria Pórtico e participou em exposições gerais de artes plásticas como a 1ª Exposição de Artes Plásticas da Fundação Calouste Gulbenkian, o 1º Salão de Artistas de Hoje, a 1ª Bienal de S. Paulo ou a 1ª Bienal de Sofia. Está representado no Museu Municipal Armindo Teixeira Lopes, em Mirandela. Foi activista do Mud-Juvenil e aderiu ao PCP em 1974.» (de avante!)

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Histórias ante(s)passadas - na prisão - 14A

Fomos transferidos, o Herberto e eu, na mesma “viagem” da carrinha “em navette” Aljube-Caxias
Já não era a “navette” Aljube-António Maria Cardoso da “más memórias”. Fizera-a recentemente para o chefe de brigada da PIDE, o Abílio Pires, representar a “cena” de mais uma intimidação e de ameaças, berrando-me coisas que eu escondera e que viera a saber posteriormente, lamentando-se (!) por não ter mais tempo para tirar algumas dessas coisas mais “a limpo” uma vez que estava nos 6 meses de detenção e tinha que ultimar o processo. Muito legalista… Em “compensação”, e a modos de represália, informou-me que se decidira enviar-me a tribunal, nos “economistas do sector intelectual”. Eu iria ver como “elas o vão morder”!
.
O meu encontro com o Herberto foi… emocionante. Aproveitei uma distracção dos guardas e pides que nos acompanhavam para lhe dar a mão e a apertar. Fortemente, fraternamente.

Fizemos, emocionados, o trajecto para Caxias.
Era uma nova etapa.
Em Caxias, fomos levados para o reduto norte, para as “casamatas”, que estavam num nível térreo, ou abaixo do chão, e ficámos os dois e a nossa “bagagem” à porta de um espaço onde estavam outros detidos, que víamos e a quem falámos através das grades, e que não conhecíamos, ou conhecíamos vagamente ou de nome. Foram as primeiras “apresentações”.
Depois de entrarmos, e das apresentações formais, foi a certeza de que o nosso “estatuto” mudara. Agora, era ainda mais “a sério”. Passáramos de “detidos” a réus antecipadamente condenados.
Houve episódios que não vêm para estas estórias. Para estas estórias vem a recepção calorosa, camarada, e o termos, nessa primeira noite de Caxias, ouvido cantar (o Gaspar Teixeira) - e cantado todos nós - “Noites de Moscovo”.
Ainda hoje ouço esse cantar no primeiro serão em Caxias e sinto um arrepio.

terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

Di-vaga-ção

Nalguns intervalos do trabalho em que me ocupo (do trabalho que libertou e liberta o ser humano, e não da venda de força de trabalho ou do seu uso necessário à comunidade… quando a sociedade assim estiver organizada), faço incursões por uma estante onde estão “coisas da poesia”. Desta vez, saiu-me Soma Pouca, do Carlos Aboim Inglez.
Logo me lembrei da apresentação que o camarada e amigo Pedro Carvalho fez dos meus “50 anos…”, em que, quase a terminar, disse:

«Dito isto, muito mais haveria para dizer, nos detalhes e pequenos pormenores que sobressaem em cada página deste livro, mas talvez resumisse esta vivência com um poema de Carlos Aboim Inglez, “Soma Pouca”, o camarada que fez o convite formal para o Sérgio entrar para o Partido,


Soma Pouca é esta
duma vida esparsa
Tanto que se tece
e quanto se esgarça

Tempo sincopado
em versos datados
Que fio os percorre
cerzindo os hiatos

Um fio que persiste
tão doce e agreste
Esta esperança em riste
que o futuro investe»

Mais atento folheei o livro, e fiquei parado no último verso do poema Na morte do Zé (José Dias Coelho, assassinado pela PIDE em 19 de Dezembro de 1961):
É noite. O tempo é frio. A esperança amarga.

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Histórias ante(s)passadas - na prisão - 12A

(Desde 25 de Dezembro não venho aqui contar estórias. A última escrevi-a em Ho Chi Minh ville, e estava eu, na estória contada, na sala dos operados, no Aljube. Fazem-me falta. Por isso, a elas volto).
Havia uma porta a separar a “sala dos operados” da “enfermaria geral”, no último piso do Aljube. Eu, estando em trânsito para Caxias, transitara da segunda para a primeira, por troca com o Custódio Maldonado, que para Caxias não iria.
Na "enfermaria geral" tinham ficado os companheiros que lá deixei, e logo outros vieram juntar-se. Entre outros, gente hoje famosa, das artes. E o Herberto! Com quem eu tinha uma enorme necessidade de contactar.
Na porta que separava as duas salas havia uma fechadura, de que estava cuidadosamente tapado o buraco da fechadura, decerto por um marceneiro. Mas, na madeira, fomos fazendo, pouco a pouco e dos dois lados, um orifício por onde pudesse passar o papel-alumínio dos maços de tabaco, muito bem enrolado. Assim, começaram a circular mensagens entre as duas salas.
O certo é que o buraco começou alargar-se. Para que as mensagens passassem com maior facilidade e, às tantas, começámos a poder espreitar-nos.
E não me esqueço de, numa bela tarde, termos recebido uma mensagem “do outro lado”, em que se dizia “vamos fazer uma foto de família… espreitem”. Assim fizemos. E, enquanto um deles e um de nós estavam de vigilância ao guarda – que, por vezes, era só o servente –, espreitámos pelo buraquito e vimos… os camaradas em pose, como se estivessem arrumados para uma fotografia.
Ainda estávamos a usufruir do gozo que aquela diversão nos provocara, quando recebemos um canudinho de papel-alumínio, vindo do outro lado, com uma intimação: “Então… e vocês daí?!, não pousam para nós?”.
Claro que sim. Ajeitámo-nos, muito arrumadinhos, e… tiraram-nos a “fotografia”.

domingo, 22 de fevereiro de 2009

Logotipismo...

Esta vai ser a nova "bandeira" (sem prejuízo das outras) de todos os meus blogs:
Sempre atento, nunca venerador, e a nada obrigado

pinça mentes

Há os especialistas. Os que sabem tudo de uma coisa, e nada do resto. De que talvez devessem saber uns mínimos...
Há os generalistas. Os que sabem nada de tudo, e de tudo falam e escrevem como se de alguma coisa soubessem coisa alguma.
-----*-----
Cá por mim, nunca fui uma coisa (uma vocação, uma profissão, uma dedicação, uma matéria de estudo, uma atenção) a tempo inteiro. Salvo, talvez, economista e militante desde que o sou, e apaixonado quando estou... e tenho estado sempre.
Tenho procurado ser um pouco de tudo o tempo todo. Mudando frequentemente. Feito de vida que de mudanças é feita. Ou seja, tenho sido vividamente humano. Intensamente.

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

pinça mentes

Pensar que o capitalismo é o fim da História revela - também! - uma enorme falta de humildade por se basear na ideia de que toda a História se passa no tempo da "nossa história".
---*---
E eu? Conto porque vivo ou vivo para contar?

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Do que gosto mais? De estar vivo, e vivo!

Ao sair da reunião, na Voz do Operário (é preciso preparar bem as comemorações do 35º aniversário do 25 de Abril!), hesitei. Qual o caminho a tomar para ir até Sete Rios, ao terminal rodoviário? Não valia a pena tomar um táxi porque o tempo não pressionava (estranho…), fazer, a pé, o percurso inverso da vinda, até ao metro do Intendente, não me estava a apetecer muito, embora o sol convidasse e, na volta, fosse a descer o que custara alguma coisa a subir. Mas valera bem o custo…
Estava nesta dúvida, nada cruel, quando a passagem do eléctrico, do 28, com o destino Estrela, me decidiu. Assim seria.

Há que anos não entrava num eléctrico!
Agora, entra-se pela frente, paga-se ao condutor (por acaso uma condutora, bem morena, com todo o ar de fundas raízes caboverdeanas). Já não há os cobradores que percorriam o carro e ameaçavam os penduras com o alicate.
Procurei um lugar sentado, coisa que raro havia mas que encontrei, e como gostava. Na fila dos bancos individuais, logo… ali à janela. E só para mim.
E foi cá um passeio por uma cidade a descobrir! Sempre. Bela como nenhuma outra.
O percurso pareceu escolhido para encantar o turista que eu era na cidade iluminada e aquecida pelo sol. Ruelas estreitíssimas pela cidade velha, vias únicas em que o eléctrico que vem para cá tem de esperar que passe este que vai e onde vou, tangentes a pessoas que andam pelos passeios em passeio e na lida diária, um carrocel por uma das colinas que sete serão.
De repente, a chapada de luz de S. Tomé, o Tejo a oferecer-se à vista, embora do outro lado da janela em que tinha o privilégio de ir. Depois, Santa Luzia, a continuar a oferta começada um pouco antes, no outro das santidades.
Logo, a descida em que a passagem pelo antigo Aljube despertou recordações sempre vivas. Cá bem dentro. Largo da Sé, descida para a Baixa, onde cheguei a pensar descer mas de que desisti. Ia ali tão bem, de tudo esquecido e tudo lembrando.
A jovem caboverdeana ao volante, que não é volante mas manípulo, atacou a subida até à Victor Cordon, seguida da descida para de novo se subir, pela rua onde está o Hospital da Ordem Terceira dos meus dois meniscos, as traseiras da António Maria Cardoso, para onde vinha, trazido em carrinha do Aljube e dos “curros”, para os interrogatórios e a tortura.
Mas… adiante. Que logo ali está o largo do S. Carlos e, depois, o do Chiado, as duas igrejas, o largo Camões, deixando à direita a Rua do Mundo, da Prelo e de mais coisas vivas na memória, como o Teatro da Trindade da revista de finalistas, e outras menos confessáveis. Como as que, ainda à direita, me são trazidas pelo Bairro Alto. Também as dos jornais, sobretudo do Diário de Lisboa, na Luz Soriano
Nova descida, pelo sobe-e-desce da Calçada do Combro, de que fiz uma das minhas crónicas no DL que recordo e que, pelo impacto que então tiveram, pensei que seria para sempre, na ingénua ilusão de verdes anos. Tudo esquecido, só a ser de mim lembrado. Como agora, quando descia aquela calçada, à janela do eléctrico para a Estrela.
De repente, o esperado, e decerto muito repetido, engarrafamento. Os eléctricos vão pelos trilhos, deles não podem sair, o estacionamento dos automóveis ocupa passeios, as cargas e descargas ocupam o espaço de passagem. Alguma tensão, colorida de buzinadelas irritadas. Espreitei o Récord do vizinho do banco da frente, e decubro o Henrique Calisto numa entrevista de página inteira. "Tenho de comprar o jornal..." Estou mesmo vietnamófilo! (Sobre esta entrevista, farei outros respigos e comentários… vietnamófilos).
Lá se desenrolou o novelo, e subiu-se a Calçada da Estrela, com passagem pela Assembleia da República. Como tudo está diferente! Ainda espreitei, à esquerda, para o jardim e para a Rua Miguel Lupi e o ISCEF que hoje é ISEG. Para a direita não olhei. Habituei-me a evitar a Rua da Imprensa onde “habitam” os Presidentes do Conselho que deviam ser Primeiros-Ministros.
Subiu-se outra calçada, que não é a de Carriche ou do António Gedeão mas da Estrela, e chegámos, eléctrico e eu lá dentro, ao Largo também da Estrela.
Fim de viagem. Fiquei com pena. Devia ter tomado a carreira que vai até aos Prazeres. Não importa. Sai do carro eléctrico-carreira 28 como quem se despede, e atirei-me para o Jardim da Estrela, depois de passar pelo quiosque onde comprei o dito Récord com o Henrique Calisto, em férias de Vietname.
O Jardim da Estrela! Tão na mesma e tão diferente. Atravessei-o, saboreando o passeio de hoje – ah! este sol… – e as recordações. Ali foi que, e acolá que… olha o coreto, onde está aquele sítio em que?, mudou de lugar ou eu tinha-o mal arrumado dentro de mim?
Atravessados tantos anos na travessia do jardim, eis-me na rotunda com a estátua do Pedro Álvares Cabral, à direita a escola do João de Deus (como se alargou!) e, no passeio deste lado esquerdo para quem sai do jardim, o meu velho Liceu Pedro Nunes. Não resisti a entrar. No grande átrio, olhei-me nas paredes e no que está exposto. Fixei-me na lápide ao professor Jaime Leote, de que tantas vezes me lembro, como agora ao ler o Chagrin d’école do Pennac (mas como é que eu faltei a esta homenagem ao Jaime Leote?!).
Num placard, vejo que o Medeiros Ferreira vem fazer uma conferência sobre a União Europeia. Quando? Hoje, a esta hora! Decidi-me. Quero ir. Tentei convencer a empregada-guardiã, que ainda telefonou, simpática, mas nada conseguiu – Sabe?..., não é pública e, aliás, a conferência está a terminar!
Senti pena. Ainda tentei uma subida-escapadela pela aquela escadaria tantas vezes subida, que espreitei, e ir lá acima aos pátios: desculpe, mas não pode ser… estamos em obras! Com mais pena fiquei. E com penas sai do “meu” Pedro Nunes.
Na rua, ao longo do gradeamento, confirmei que o liceu está em obras. Operários faziam a sua pausa do almoço e estavam a “apanhar sol”, conversando lagartamente.
Desci a Avenida, de que me lembro com um passeio a meio, espreitei, neste percurso feito de espreitadelas para dentro e para fora de mim, o Jardim Cinema, deixei-me ir andando.
Chegara a hora de almoço. Porque não a Parreirinha ou a Esplanada, ambas do Rato? Tentei. Uma deixou de existir, a outra nem fui ver porque dois “desgostos” seguidos seria demais para um senhor da minha idade e a viver o que estava a viver.
Decidi-me pelo restaurante do começo da Rua do Sol ao Rato que sabia que estava aberto. Porquê? Porque sabia, pronto. É aquele que está no espaço entre o cubículo dos jornais de há sei lá quantas décadas, e que desapareceu, e a “loja do sr. Neves”, e era uma carvoaria de onde saltou o gato que arranhou o estafado Tarzan quando voltávamos, o meu pai, ele e eu, do passeio ao Parque Eduardo VII, cujo era, então, um parque.
Entrei, sentei-me, fui recepcionado por empregados que conheço muito bem mas que me não conhecem de lado nenhum (nem da televisão…). São os mesmos, mas estão um bom bocado mais velhos… Confirmei-o.
Sopa do lavrador e carapauzinhos com açorda. Para beber? Uma meia garrafinha de Borba vqprd. Tinto, claro!
E ali fiquei, saboreando o passeio saboreado e os carapauzitos que eram dos de comer todinhos (tadinhos), e a açorda, e o tintinho, gatafunhando na toalha de papel. Umas coisas aqui transcritas. Outras que o serão. Talvez…

domingo, 15 de fevereiro de 2009

Diálogos ao espelho

«Viste aquele comentário?»
«Vi-os todos, que nenhum me é indiferente...»
«Mas... aquele?»
«Pois... aquele... Claro que não é por causa dos meus defeitos ou qualidades, das minhas perfeições ou imperfeições! É por aquilo que sou, que é a minha pele, pelo que defendo e pelo que luto.»
«Pois... mas também é pela tua maneira de lutar!»
«Pois...»

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

diálogos ao espelho

«Então... e aquela insistência em te chamarem "senhor deputado"? Até parece que ficas chateado...»

«E fico, e fico. Claro que fico. É que, porra!, já estou cansado de insistir que não fui deputado (nem deportado), mas que estive em deputado (assim a modos de deportado)..."

Diálogos ao espelho

"Não penses que és perfeito, que só tens qualidades... vê bem como tanta gente te ataca, como mal abres a boca te saltam logo em cima (sentidos figurados, claro!)... alguma razão terão..."
"Ah pois vejo... se eu fosse perfeito, se só tivesse qualidades ainda mais inimigos (salvo seja) teria, ainda mais gente haveria a saltar-me em cima mal abrisse a boca (que raio de sentidos figurados...)!"

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

espólios

Estamos a tropeçar continuamente no nosso próprio espólio. No que salta do meio de livros e papeis velhos, no que está dentro de nós, no que, estando dentro de nós, procuramos - desesperadamante... - no caos dos livros e papéis velhos... e alguns perdidos.

Ontem, o dia acabou mal...

Hoje, a manhã acordou solarenga, o Mounti espreguiça-se lá fora como se renascido. E eu, quando procurava outra coisa (claro!), encontrei umas pastas da Fundação Jacques Brel («... aujourd'hui, em 1992, la Fondation Jacques Brel s'intéresse à la scolarité des enfants hospitalisés.»)!

Mas o que veio fazer companhia ao sol que parece querer iluminar o dia foi este pedacinho:

«La philosophgie de la Fondation Jacque Brel pourrait se résumer par ces lignes de BREL:


"Un homme, c'est fait pour bouger,

c'est pas fait pour s'arrêter,

c'est fait pour continuer,

pour mourir en mouvement éventuellement,

mais ce n'est pas fait...

Tout le malheur vient de l' imobilité.

Toujours."»


Traduzir? Não!

Só se forem as duas últimas linhas. Para melhor as gravar cá dentro.


Toda a infelicidade vem da imobilidade.

Sempre!

espólios

Isto está mau
mete água a nau
cresce a náusea
há um cheiro nauseabundo
neste imundo mundo

E há quem o cheire,
quem o sinta,
quem o veja,
quem tenha a água (será água?) pelo pescoço
E NÂO LUTE! ,
e fuja dos que lutam,
e ataque os que lutam,
e só peça... que não se façam ondas
... pois entre mortos e feridos
alguém há-de escapar (eles, claro!)

Só há que,
neste mundo prostituto,
no meio de tanta puta,
CONTINUAR A LUTA!

(encontrado no espólio de autor anónimo do século xx)

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

pinça mentes

Prefiro, num conjunto de vinte espectouvintes ou leitores, encontrar um ou dois ou três que tentem, comigo, perceber o que tentei explicar, a ter os vinte que ouviram ou os vinte que leram a ouvirem ou a lerem, no que disse ou escrevi, o que traziam para ouvir ou ler, e que, depois, irão repetir o que antes diziam aos outros, os argumentos e as mesmas palavras de ordem, sem tirar nem pôr, ou pouco tendo acrescentado.

Prefiro? Não é bem isso… não sou capaz, nem quero, que seja de outra maneira.

Meias (nas) memórias

Então... eu conto de outra maneira. Mais ficcionada. Por isso, talvez mais verdadeira:

A minha avó Damásia, sentada numa cadeira baixinha, na varanda envidraçada que dava para o pequeno quintal, com as mãos ágeis enredando numas enormes agulhas fios de novelos de lã, tricotava uns peúgos ou umas peúgas (como então se dizia). E ia sussurrando, à maneira de ladainha, "uma meia meia feita/outra meia por fazer...".
O meu avô Albino, precocemente reformado da Administração do porto de Lisboa, no tempo em que as reformas eram só para os funcionários públicos, andava por ali, a fazer horas para ir jogar o seu dominó no Jardim Cinema (ou outras "saídas" lá dele...), e resmungava audivelmente "pois, pois... nossa senhora faz meia/com linha feita de luz/o novelo é lua cheia/e as meias são para jesus (dizia a gaja...).
A minha avó sorria, e ripostava "lá estás tu, homem!, c'as tuas coisas... 'inda Deus te castiga... as meias são p'rós nossos netos, os nossos Meninos Jesus... uma meia meia feita/outra meia por fazer".
E duravam anos aqueles peúgos (ou aquelas peúgas), aquecendo os nossos pés que cresciam. Na memória ainda estão bem vivos (ou vivas).

Meias (nas) memórias

Um poema "munta giro" no jangada de pedra, lembrou-me estas duas "pérolas":

Uma meia meia feita
outra meia por fazer

(dizia a minha avó)

Nossa senhora faz meia
com linha feita de luz
o novelo é lua cheia
e as meias são para Jesus

(dizia a gaja... isto acrescentava o meu avô)

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

entendamo-nos!... falemos a sério...

"Tens razão... isto de ser ou não ser sério tem que se lhe diga..."
"O que é ser sério? Claro que é uma conversa em que nos entendemos e em que... nos desentendemos."
"Para além do grau de subjectividade, entendemo-nos com quem (todos!) os que têm um mínimo de seriedade, e desentendemo-nos com quem não tem um pingo de seriedade."
"Por isso, talvez não valha a pena..."
"Por isso, é indispensável, é urgente, deve ser permanente, a discussão connosco (ao espelho, por exemplo) e com os outros, sobre o que é ser sério!"

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

... vamos lá a ver se nos entendemos...

"... nunca disse nada disso... Pelo contrário, o que eu digo é que se pode ser sério sem se ser marxista!"
"... ah!, e digo mais - e não menos importante -, digo que já acho que não se pode ser marxista sem se ser sério..."
"... isto é o que eu acho... e por isso o digo..."

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Frases feitas - umas bem, outras mal

Na minha aldeia, todos são primos e primas. - Cá pelo Governo, uns têm tios e primos, outros também.
Quanto mais prima, mais se lhe arrima. - Quanto mais primo, mais se lhe arruma.
O meu sonho é uma casa na praia para os meus filhos. - O meu sonho é uma casa off-shore para a minha mãezinha.
Tantas vezes o cântaro vai à fonte que... - Tantos faxes se mandam que...
Quem anda à chuva, molha-se. - Quem anda ao Sol, queima-se.
Quanto mais me bates, mais goste de ti. - Quanto mais te minto, mais votas em mim.
Com papas e bolos, se enganam os tolos. - Com cabalas e ardis, se convencem os imbecis.