faz de conta que o que é, é!... avança o peão de rei.

...
o mistério difícil
em que ninguém repara
das rosas cansadas do dia a dia.

José Gomes Ferreira

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Meias (nas) memórias

Então... eu conto de outra maneira. Mais ficcionada. Por isso, talvez mais verdadeira:

A minha avó Damásia, sentada numa cadeira baixinha, na varanda envidraçada que dava para o pequeno quintal, com as mãos ágeis enredando numas enormes agulhas fios de novelos de lã, tricotava uns peúgos ou umas peúgas (como então se dizia). E ia sussurrando, à maneira de ladainha, "uma meia meia feita/outra meia por fazer...".
O meu avô Albino, precocemente reformado da Administração do porto de Lisboa, no tempo em que as reformas eram só para os funcionários públicos, andava por ali, a fazer horas para ir jogar o seu dominó no Jardim Cinema (ou outras "saídas" lá dele...), e resmungava audivelmente "pois, pois... nossa senhora faz meia/com linha feita de luz/o novelo é lua cheia/e as meias são para jesus (dizia a gaja...).
A minha avó sorria, e ripostava "lá estás tu, homem!, c'as tuas coisas... 'inda Deus te castiga... as meias são p'rós nossos netos, os nossos Meninos Jesus... uma meia meia feita/outra meia por fazer".
E duravam anos aqueles peúgos (ou aquelas peúgas), aquecendo os nossos pés que cresciam. Na memória ainda estão bem vivos (ou vivas).

3 comentários:

cristal disse...

...mas assim fica muito melhor contadinho...

Maria disse...

Sabes que quando me lembro muito das coisas que as avós faziam ou nos diziam vem-me sempre à memória uma frase que elas diziam "quando vamos pra velhos lembramo-nos de coisas que não lembram ao diabo".
Será que estou a ir pra velha?
:)

Obrigada por esta memória
Um beijo

Justine disse...

E continuam a aquecer!

Maria: eu estou com a mesma doença que tu...será epidemia? :))