faz de conta que o que é, é!... avança o peão de rei.

...
o mistério difícil
em que ninguém repara
das rosas cansadas do dia a dia.

José Gomes Ferreira

sexta-feira, 30 de abril de 2010

Brelianas (e de outros como ele) - 3

Mais duas brelianas:


  • Em Amsterdam... onde os marinheiros mijam como eu choro pelas mulheres de Amsterdam.

  • Neste País... que é o meu! (e não é o plat pays...)

E, para me sentir ainda mais "em casa",

duas sergiogodinhas:


  • Hoje é o primeiro dia do resto das nossas vida...

  • ... com um brilhozinho nos olhos...

terça-feira, 27 de abril de 2010

De Amsterdam

Ontem, mal chegados, eles começaram a actualizar a conversa... de viva voz porque de skype, de telemóvel e por outras vias, actualizados estão eles.

Hoje, continuaram! Como se pode ver no canto inferior direito destes lindíssimos campos de tulipas a perder de vista...
Amanhã... vão continuar!

Brelianas (e de outros como ele) - 2

Como zecafonsinas (ao Brel voltaremos, como sempre...):




  • ... a formiga no carreiro vinha em sentido contrário.

  • ... o pintor morreu, o camarada! morreu, assassinado.

  • ... e vou ser (e não vou ser) como a toupeira.

  • ... o que faz falta é animar a malta!

  • ... à sombra de uma azinheira que já não sabia a idade.

segunda-feira, 26 de abril de 2010

Brelianas (e de outros como ele) - 1

Com o que vier, e como vier, à cabeça (e não aos ouvidos que por aí na memória)... tal-e-qual chegar:

(a caminho de Amsterdam)



  • Estou-me nas tintas para a morte (que remédio, digo eu...), mas envelhecer (em-velho-ser...), isso sim, isso chateia-me!

  • Morrer... no fim de uma escorregadela, no fundo de uma tisana...

  • Quando não temos mais que amor para dar...

  • ... deixa-me ser a sombra da tua sombra.

  • ... olha, e trouxe-te bonbons... porque são de tal maneira bons... tão bons como as flores mas estas murcham mais depressa...

  • ... lutar, lutar, lutar sempre, lutar até ao fim para ajudar a alcançar a inatingível estrela!



domingo, 25 de abril de 2010

25 de Abril de 2010 - A manhã perfeita

A manhã recebeu-me. Acolhedora. Clara. Era bem o dia inicial, inteiro e limpo, disse-o Sofia.

Pus um boné, sentei-me ao sol que subira já pela copa das árvores do fundo do quintal. Esplendoroso.

Ela fazia uns exercícios de ginástica, moldando o corpo querido, experimentando até onde o podia tornar mais flexível e seguro. Era também sol.

Era também sol o gato, recuperando-o depois de tanto o ter esperado, e espreitado e aproveitado nas nesgas em que o inventara.

Em planos sucessivos, os verdes. Iluminados.

Dei uns passos, sob o arco de glicínias, cuja primeira floração se está a transformar em tapete macio, mas ainda dossel.

E os pássaros! Os pássaros em concerto. Surpreendente. Como sempre. Como se tivessem ensaiado para ser sempre igual e sempre novo. Sempre com surpresa nos acordes.

Ao longe, uns foguetes. Pelo meio do cantar dos pássaros. Lembrando 1812 e Tchaikovski, como se fossem canhões e a Marselhesa a meterem-se pela música, sendo música.

Não sei quem estaria deitando os foguetes aos céus lavados de azul. Nem porquê os estariam deitando. Sei - ah, isso sei! - que, nesta manhã luminosa, me eram oferecidos, e estralejavam porque esta é, sempre, a manhã dos dias nascidos.

sábado, 24 de abril de 2010

Com reconhecimento

Conhecemo-nos há muitos anos. Faz décadas...
E, hoje, estamos reconhecidos mutuamente (ambos-os-dois) por nos termos conhecido.

Palavras e frases ouvistas(*)

O meu diaagnóstico de mim:
todos os dias são ateus, até nos dias santos e de tolerância de ponto-papa.

Era uma controladora contumázia:
o que ela gostava de controlar as rotundas!, dava sempre, no mínimo, duas voltas ao redondel dele.
______________________________
(*) - com grafia e/ou som de sentido dobro e/ou onomatopeido

quinta-feira, 22 de abril de 2010

As Catarinas e as Marianas da nossa luta

Morreu Catarina Rafael.
Senti a sua morte como a perda de uma amiga, dada a amizade pessoal que tenho com a família, como a perda de uma camarada que também é um dos símbolos da nossa luta, da luta de cada um de nós – de cada mulher, de cada homem – fazendo a luta de todos nós.
E há nomes que parecem predestinados para terem esse valor de símbolo. Como o de Catarina. Porque não há só a Catarina Eufémia, de Baleizão, que tanto nos diz, que tanto cantamos, que é tão nossa. Há também a Catarina Rafael, de Vale de Vargo, que tão nossa é, esta camarada que agora nos deixou, mas de que temos de guardar a lembrança indelével do que foi a sua vida, do que é o seu exemplo.
26 anos de clandestinidade, mais de um quarto de século a fazer (com o seu companheiro, o Joaquim Rafael) - não sentados a um computador como estou agora a escrever, mas compondo com tipos de chumbo, fazendo rolar o compressor manual carregado de tinta, sempre vigilantes a todos os sinais de perigo -, a fazer, operariamente, o Avante!, o Militante, todas as publicações e documentos que mostravam – e eram também – a luta na clandestinidade contra o fascismo, pela liberdade e pela democracia, pelo povo português. Mas também a sua vida, a vida daqueles dois camaradas, com o seu direito a serem felizes, porque iguais a todos nós e tão melhores que todos nós.

Em tempos (há tantos anos!) li um livro Um homem na revolução, e penso como a Catarina e o Joaquim Rafael mereciam um livro, um filme, um DVD, sei lá o quê…, que contasse a história de Uma Família na Revolução. Sim, porque clandestinos, tendo, tantas vezes…, de sair apressadamente de um lugar para defender a luta e as tarefas – como o fizeram da Corredoura, em Ourém, e sempre o fizeram com a heroicidade e a tão indispensável vigilância que lhes permitiu nunca serem presos e garantirem a continuidade da tarefa –, não eram só os dois, era também a filha querida, porque querida foi e na clandestinidade nasceu, a Mariana, que outros nomes teve como Clarinha se chamou quando por terras de Ourém.
Mariana! Mais um nome predestinado para tornar quem o tem um símbolo da luta. Porque há a Mariana Balbina Janeiro, de Baleizão também, essa mulher determinada, valente comoOutra não conheci, e que, por isso, a PIDE barbaramente destruiu com a violência das torturas. Mas também a Mariana Rafael, a filha de Catarina e Joaquim. De que gosto de contar a história, em resumo romanceado (“do cordel”): nasceu na clandestinidade, casou na clandestinidade, teve filhos na clandestinidade, e quando, depois de tanto nos ter ajudado a conquistar a liberdade para nós todos, depois de ter visto os filhos adultos e licenciados (e que lindos eles são, disse-o uma vez, há quase uns 10 anos...), resolveu que era a hora de si, de ser ela a formar-se, e tirou, brilhantemente, um curso superior, ela que nem à escola primária tinha ido porque a clandestinidade não lho tinha consentido.
Quando morre Catarina Rafael, quero dizer uma “frase batida” a vida continua. E continua porque sim, mas também porque a neta, mais uma Catarina! - perdão, a dra. Catarina -, honra a avó e o nome que tem (e os pais), e aí está a Sofia a começar a viver - com que força... -, às portas do futuro e, se for preciso, capaz de as abrir, seguindo o exemplo das Catarinas e das Marianas da nossa luta.

domingo, 18 de abril de 2010

O que anda pelo jardim, neste dia de intermitências

Diz-me ela “andam borboletas pelo jardim”.
Tinha-as visto num intervalo de trégua de chuva, entre os tímidos raios de sol, quando foi, a correr antes que a chuva voltasse, acabar uns trabalhos de jardinagem.
“... e já viste o melro que por aqui anda, enorme, quase do tamanho de uma galinha?”
Sim. Já tinha visto. É enorme, mas não é tão e luzidio como o do Guerra Junqueiro. E é tão enorme que com este o nosso Mounti não se mete. Ou então… sei lá. O fulano é capaz de tudo...

Peguei no aparelhito, e parti em busca (este está a ser um dia especial, esquisito...).
Mas, como seria de esperar, à vista e alcance da lente, nem borboletas nem melro. Parece que não gostam de ser fotografados.
Já não é o caso do gato mais fotogénico da blogosfera (isto achamos nós... e alguns amigos)

Histórias ante(s)passadas- 40- e entrecruzadas, ou entre escudos e euros

1. Em tempos que já lá vão, e muitos tempos são, a gasolina custava 4$60 o litro. E era só uma, nem sei se 95 ou 98 parece que octanas. Ou seja, ao câmbio actual, 2,3 cêntimos.
O que sei, ou do que me lembro, é que chegava a uma bomba de gasolina e pedia ao trabalhador com o emprego de nos atender “20 litros, por favor” (sempre fui assim, educadinho… e para toda a gente).
O trabalhador metia os 20 litros, e enquanto estes iam entrando no depósito, limpava o pára-brisas, perguntava que eu queria que ele visse o nível do óleo e da água.
Pagava com uma nota de 100 escudos, isto é, mais ou menos uma moedita de 50 cêntimos, e seguia viagem com o depósito quase cheio.
Depois, depois houve aumentos. Mas coisa pouca em relação àqueles que, de vez em quando, nos surpreendem nestes tempos de hoje em que estamos em inflação controlada, ou até de deflação, e de salários em perda continuada de poder de compra.


2. Nesses tempos de antes, que tão longe estão e de que não guardo saudades nenhumas a não ser as que de mim e em mim tenho, um amigo que nunca percebi bem se era muito irónico ou muito pouco inteligente (qu’é isto?) dizia-me “comigo, estão os gajos lixados… comigo não ganham eles um tusto… meto sempre o mesmo… chego à bomba e digo meta-me aí 100 escudos, e ando até dar…”.
E acho que o que pensava ter ouvido em primeira mão é estória velha…
Ah! pois é…

Em tempos que já lá vão, e tantos são - 1

Em tempos que já lá vão, e tantos são, os cães comiam as sobras das refeições e roíam uns ossos, e os gatos banqueteavam-se com as espinhas por que esperavam no fundo dos nossos pratos. Até havia os chamados “carapaus de gato” e, nos talhos, vendiam-se ao desbarato aparas e ossos de restos de esquartejamentos… para os animais.
Hoje, os animais domésticos, ou de estimação, não comem sobras nem restos!
(Penso nisto quando atiro para o caixote do lixo as espinhas da excelente sopa de peixe que acabei de almoçar.)
Hoje, os animais domésticos – que nos domesticaram – são gourmets.
Há um negócio que lhes é destinado. Como público-alvo.
Não tenho nada contra, nem me deixariam ter…, tenho é tudo contra a des-Humanidade paralela, coexistente!

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Sobrevivente contumaz

Ah! Como me senti grande ao primeiro volante de um automóvel. Do automóvel do meu pai, um Austin 8 cavalos – BI-13-25 -, ainda sem ter carta de condução, e autorizado para uma pequena volta aqui à volta, e de que desliguei a bicha do conta-quilómetros para que a volta pudesse ser maior!
Ah! Como me senti homenzinho, carta na mão – depois de emancipado –, a poder ir onde quisesse sem ter de “fugir à polícia” e sem fazer arriscadas manobras mecânicas para que não se descobrisse que a volta fora mais larga que o consentido.
Ah! Como me senti adulto, independente, quando me sentei no primeiro carro comprado com algum (muito!) do dinheiro ganho por entrada e resto em letras assinadas para não sei quantos meses, senhor de mim ao volante de automóvel meu.
Ah! Como me sentia excitado cada vez que trocava de carro e subia um degrau na escala automobilística, até me fixar nos Volvos, “pronto, são estes”, nos carros à minha medida e tempo, bons, seguros, confortáveis, nada ostensivos, decidido a que assim seria até ao último.
Ah! Como me soube bem, aos sessentas, atingir a satisfação quanto a um objecto – “é isto que eu quero e não mais!” – que levava a correr por estradas “europeias”, entre Zambujal e Bruxelas e/ou Estrasburgo, e recolher às “boxes”, reformado eu e tembém o objecto, reservado para raios de movimentação na casa das dezenas ou, vá lá, dos centos de quilómetros.
E se o projecto de vida era dedicar-me a uma livraria/espaço cultural em Ourém, a ele sobrevivi quando sobrevivi a um cancro e o projecto não sobreviveu a uns PECs e a outros pequenos grandes pecadilhos, aqui estou eu a sobreviver ao objecto que julgava iria ser o último, e estava a passar dos 300 mil quilómetros.
E o problema (mas que raio de problema!) é que adormeço, ou faz-de-conta que adormeço, a pesadelizar-me sobre a falta de tempo que tenho (e de capacidade de organização e de arrumação) para preparar as coisas para… depois.
E cá continuo a sobreviver. Mas cansado!

domingo, 11 de abril de 2010

Um exercício

A vida é
(tem de ser!)
um exercício quotidiano
(hora-a-hora)
de humildade.

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Pose(s) e posse(s)

Não gosto da pose

Desagrada-me o espectáculo da pose

Repudio o exibicionismo espectacular da pose

Combato a prepotência aliada à exibição do espectáculo da pose

Enojam-me estes gajos:

Servem quem tem posses!

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Olho... e sou poeta! (provisoriamente...)

Quando me dá o viso da poesia, começo (quase) sempre pelo… olhar:

olho os verdes…
olho em meu redor
olho as caras
olho os sorrisos
olho o quintal
olho o rio
olho as serras
olho o mar
olho - ao km. 110 da A1 – os castelos
olho as andorinhas
olho o gato
.

olho os olhos da amada…
… e sou poeta!
.


Olho os botões em flor. Olho, de novo, tudo a nascer. Porque é, mais uma vez, Abril.
.

























Mais uma vez, de novo Abril…
E lamento não ter uma máquina fotográfica que fixe
estas pequenas e desapercebidas maravilhas como elas merecem.
Porque não o serão sempre.
Foram, nos anos passados e vividos. São neste. Serão, talvez…, no próximo.
E depois?

terça-feira, 6 de abril de 2010

Dagoberto Markl

Soube agora, aqui no sapo, que morreu Dagoberto Markl.
Fiquei, estranhamente, triste. Poucas vezes me cruzei com ele, não mais trocámos que meia dúzia de frases, mas era homem de quem gostava. Diferente. Pelo menos, assim me parecia. Afável, quase caloroso, discreto, ou com um contido entusiasmo... por aquilo que, via-se, dava vida à sua vida.
Há anos que não o encontrava. Gostava dele, pelo que dele conhecia, pelo que ele consentira que eu dele conhecesse, nas poucas vezes que com ele me cruzei, pela meia dúzia de frases que trocámos.
Soube, agora, da sua morte. Aqui, no sapo. Pergunto-me se o teria sabido se o Dagoberto não fosse o pai do Nuno Markl. E fui ler o comovido texto do Nuno. Um texto parecido com o pai, a quem o escreve como se só para que ele, o pai que morreu, o lesse.
Ficam as palavras que aí estão. Diria... de homenagem.
.
E uma pequena estória de lembrança me assaltou. Sei lá se a despropósito.
Um dia, o meu pai entrou em casa, aqui no Zambujal, meio zangado, meio risonho:
"Pronto... era o que me faltava! Já deixei de ser o Joaquim Ribeiro e tu o filho do Joaquim Ribeiro, agora passo aqui na terra e já nem sou o ti'Jaquim, sou o pai do Sérgio... era só o que me faltava!"

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Ou é da minha cabeça ou é da qualidade do carapuceiro

No final de uma realização cá pelo burgo, em que participei e de que publiquei umas tantas notas de reflexão por minha conta e risco, acabo de ler um outro balanço, que se diz não o ser, e em que estão observações pertinentes, particularmente sobre a necessidade de melhorar as formas de organização para que futuras e semelhantes iniciativas sejam mais e melhores participadas, mobilizem quem habitualmente não o é e tem tanto para dar.
No entanto, esse mesmo escrito está mesclado por profusas considerações sobre os "outros", os que teriam participado a mais, ou demais, ou mal, ou... sei lá o quê.
Aqui e ali, nessa prolixidade de situações que, a serem justas e consequentes, reduziriam um "bom congresso" a um encontro dos seus correligionários com as "massas" para as trazer ao seio, descobri intenções de endereço. E, com a minha constante preocupação auto-crítica, procurei ver se alguma das carapuças me servia. Talvez, quem sabe... Mas nenhuma me serviu. Poderá ser da minha cabeça, tão deformada ela está. Ou, então, será da má qualidade do "carapuceiro" que, querendo "servir-me", viu baldados os denodados esforços por não encontrar a medida certa!
Por outro lado, como não lhe quero dar importância - para além da que têm, ou poderiam ter, as pertinentes observações que se perdem no emaranhado das intenções agressivas do foro psico/psiquiátrico -, aqui coloco este mero exercício estilístico. De literatura, ou polémica, do cordel.
Não vale mais. E é muito!

sexta-feira, 2 de abril de 2010

2 de Abril de 2010

Faria 100 anos.
O neto mais novo, o Gonçalo, lembrou-o, comovido!

quinta-feira, 1 de abril de 2010

Ora aqui está uma poupa propriamente dita...

... e sem capachinho
.

Asseptizado

Assepticamente, calçam de luvas as mãos que nos vão manusear partes internas, interiores.
Depois, enluvadas, as mãos mexem em tudo o que está à mão, no próprio corpo e nas proximidades, tossem, espirram, assoam-se, protegendo-se com as mãos e delas se servindo para o que preciso for.
Isto antes de introduzir as mãos - de luvinhas calçadas - nos nossos íntimos.
Valham-nos os anti-corpos naturais!
.
[E lembro-me, saudoso, da dra. Cesina Bermudez que, entre duas espreitadelas para dentro da mãe dos meus filhos, remexia o refogado no fogareiro de petróleo e ajeitava a desajeitada trança (ou era carrapito?). Que mulher inesquecível!]

Calar-me? Não!

O que tenho a dizer, digo.
O que tenho a escrever, escrevo.
... e vou pagando as contas
(às vezes bem pesadas...).
Não contem é com acomodação.
Reconheço os erros, os excessos, as inoportunidades
(também a importuna idade...)
e estou sempre pronto à auto-crítica e à correcção.
A CALAR-ME, NÃO!

Coisas que acontecem...

A Lécia olhou para mim quando passava por ela, apressado a caminho do carro e a despedir-me na passagem.
- Sinhor, sinhor... a camisa!
Olhei-me. Tinha o pull-over (nome giro...) levantado acima da cintura de quando metera o telemóvel na bolsa do cinto. Agradeci e corri. Pareceu-me que não era só, que ela queria dizer mais qualquer coisa, no seu portucranianês, mas eu não tinha tempo para ser intérprete...
Só quando me sentei no carro, percebi. Tinha a braguilha desapertada, isto é, deszipada! Lá apertei o cinto e puxei o fecho antes de arrancar...

ODE À PRÓTESE

Os dentes postiços são uma prótese,
os óculos próteses são.
A velhice sobrevive com/às próteses
porque não pode (ou não sabe) viver sem próteses

O SER HUMANO INVENTOU AS PRÓTESES
E AS PRÓTESES REINVENTARAM O HUMANO SER

Já viram algum lince de óculos?
Já souberam de algum crocodilo com dentadura postiça?
Já tropeçaram numa centopeia com pernas de pau?
Já toparam (ao longe) uma elefente de muletas?
Já ouviram falar de gatos com "sonotone"?
Já vos contaram de pássaros com microfone?
Alguém vos contou de poupas de capachinho?
Alguém conheceu formigas em cadeiras de rodas?