Ah! Como me senti grande ao primeiro volante de um automóvel. Do automóvel do meu pai, um Austin 8 cavalos – BI-13-25 -, ainda sem ter carta de condução, e autorizado para uma pequena volta aqui à volta, e de que desliguei a bicha do conta-quilómetros para que a volta pudesse ser maior!
Ah! Como me senti homenzinho, carta na mão – depois de emancipado –, a poder ir onde quisesse sem ter de “fugir à polícia” e sem fazer arriscadas manobras mecânicas para que não se descobrisse que a volta fora mais larga que o consentido.
Ah! Como me senti adulto, independente, quando me sentei no primeiro carro comprado com algum (muito!) do dinheiro ganho por entrada e resto em letras assinadas para não sei quantos meses, senhor de mim ao volante de automóvel meu.
Ah! Como me sentia excitado cada vez que trocava de carro e subia um degrau na escala automobilística, até me fixar nos Volvos, “pronto, são estes”, nos carros à minha medida e tempo, bons, seguros, confortáveis, nada ostensivos, decidido a que assim seria até ao último.
Ah! Como me soube bem, aos sessentas, atingir a satisfação quanto a um objecto – “é isto que eu quero e não mais!” – que levava a correr por estradas “europeias”, entre Zambujal e Bruxelas e/ou Estrasburgo, e recolher às “boxes”, reformado eu e tembém o objecto, reservado para raios de movimentação na casa das dezenas ou, vá lá, dos centos de quilómetros.
E se o projecto de vida era dedicar-me a uma livraria/espaço cultural em Ourém, a ele sobrevivi quando sobrevivi a um cancro e o projecto não sobreviveu a uns PECs e a outros pequenos grandes pecadilhos, aqui estou eu a sobreviver ao objecto que julgava iria ser o último, e estava a passar dos 300 mil quilómetros.
E o problema (mas que raio de problema!) é que adormeço, ou faz-de-conta que adormeço, a pesadelizar-me sobre a falta de tempo que tenho (e de capacidade de organização e de arrumação) para preparar as coisas para… depois.
E cá continuo a sobreviver. Mas cansado!
Ah! Como me senti homenzinho, carta na mão – depois de emancipado –, a poder ir onde quisesse sem ter de “fugir à polícia” e sem fazer arriscadas manobras mecânicas para que não se descobrisse que a volta fora mais larga que o consentido.
Ah! Como me senti adulto, independente, quando me sentei no primeiro carro comprado com algum (muito!) do dinheiro ganho por entrada e resto em letras assinadas para não sei quantos meses, senhor de mim ao volante de automóvel meu.
Ah! Como me sentia excitado cada vez que trocava de carro e subia um degrau na escala automobilística, até me fixar nos Volvos, “pronto, são estes”, nos carros à minha medida e tempo, bons, seguros, confortáveis, nada ostensivos, decidido a que assim seria até ao último.
Ah! Como me soube bem, aos sessentas, atingir a satisfação quanto a um objecto – “é isto que eu quero e não mais!” – que levava a correr por estradas “europeias”, entre Zambujal e Bruxelas e/ou Estrasburgo, e recolher às “boxes”, reformado eu e tembém o objecto, reservado para raios de movimentação na casa das dezenas ou, vá lá, dos centos de quilómetros.
E se o projecto de vida era dedicar-me a uma livraria/espaço cultural em Ourém, a ele sobrevivi quando sobrevivi a um cancro e o projecto não sobreviveu a uns PECs e a outros pequenos grandes pecadilhos, aqui estou eu a sobreviver ao objecto que julgava iria ser o último, e estava a passar dos 300 mil quilómetros.
E o problema (mas que raio de problema!) é que adormeço, ou faz-de-conta que adormeço, a pesadelizar-me sobre a falta de tempo que tenho (e de capacidade de organização e de arrumação) para preparar as coisas para… depois.
E cá continuo a sobreviver. Mas cansado!
5 comentários:
Cansados se calhar andamos todos. Um pouco. O melhor mesmo é descansarmos o mais possível, sempre vigilantes, porque 'cheira-me' que vêm por aí dias de cansaço maior...
O Volvo, depois de arranjado, ficará como (quase) novo)...
Beijo, solidária
Assim é a vida, não é? Uma luta de sobrevivência que valha a pena ...
(Belo texto)
Os amigos querem 300, 600.. muitos mais quilómetros dessa tua incansável vontade de fazer coisas.
Pedro da rua Paisana
Cansado do tempo, do conta-quilómetros, dos PECs,
Mas não cansado da vida!
Maravilhoso texto e não me canso de o ler!
Grd BJ,
GR
Cansado do tempo, do conta-quilómetros, dos PECs,
Mas não cansado da vida!
Maravilhoso texto e não me canso de o ler!
Grd BJ,
GR
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