faz de conta que o que é, é!... avança o peão de rei.

...
o mistério difícil
em que ninguém repara
das rosas cansadas do dia a dia.

José Gomes Ferreira

sábado, 28 de janeiro de 2012

Uma espécie de concurso

Fora do meu cantinho de trabalho e vida para estes anos, por exultantes motivos - que muitas vezes me levarão a migrar -, trouxe "trabalho para fora de casa", até porque há compromissos a cumprir, como a participação, hoje â tarde, numa iniciativa em Carnaxide, no Centro de Trabalho.

A ler uma entrevista, de que não digo a data nem com quem, surgiu-me a ideia/exercício de transcrever frases e de fazer um espécie de concursos. Algum dos eventuais passantes, quer arriscar

quem foi que o disse e quando?

À pergunta sobre que pensa da previsão do primeiro-ministro (à data) de que, com os empréstimos (a "ajuda") "a nossa economia poderá reequilibrar-se dentro de quatro anos" 

frase 1  - não é assunto para me pronunciar levianamante: tenho responsabilidades como economista.
frase 2 - os empréstimos ajudam a resolver as dificuldades de pagamentos externos.
frase 3 - Ponto importante é o das consequências a médio e longo prazo.
frase 4 - Como se trata de empréstimos e não de donativos, será necessário pagar juros e os próprios capitais.
frase 5 - muitos dos empréstimos contém cláusulas impondo as compras nos países em que se aplicam no país que empresta...
frase 6 - O capitalismo tem os seus códigos de fraternidade - mas os efeitos sobre a balança de pagamentos que se está a ajudar são, por vezes, pesados.
frase 7 - numa situação precária como a portuguesa, o "banqueiro" domina o jogo, agora que está a emprestar e, depois, quando se tratar de cobrar juros e indemnizações.
frase 8 - Eles, nos EUA, na RFA, no Fundo Monetário Internacional e no Banco Mundial (vão sendo sempre os mesmos), sabem das dificuldades e da sua provável persistência; seguram-se, impondo um juro político que vai da "brigada NATO" até à liberdade de movimentos das forças de direita.

Chega? Mas havia tanto mais e tão interessante! Mais algo virá com a resposta, 2ª feira, aos eventuais concorrentes. 
Arrisquem, embora nada haja para petiscar...

Não era para vir para aqui. Mas, já que veio, fica... com uma prova do "exultante motivo"
D. Neto, o 1º

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

"Purificado"

Excerto de "dias de agora":

Eis-me "purificado" de um terrível pecado mortal que por vezes me assaltava, apesar de morigerado pela amizade de alguns dos invejados/as que, cheios de caridade cristã, me diziam atribuir-me ou partilhar comigo a benção de ser avô.
Obrigado a todos.
O céu está-me mais acessível liberto desse mortal pecado.
E a "purificação" está a trazer consigo outras bençãos colaterais. Assim como questiono quanto tempo pode durar o "canto do cisne", me pergunto quantos dias viverei em "estado de graça".  

domingo, 22 de janeiro de 2012

"Cenas" em toalha de papel à volta de um jantar sozinho

  • São dois casais na mesa da direita. Comem silenciosamente, ou sem que os sons venham até mim ou me atraiam o ouvido e a atenção. Convocado efusivamente por uma delas, chega um 3º homem (tipo Orson Wells...). A animação instalou-se. E a desanimação. Cada uma com os seus intérpretes. Invadindo a minha mesa. Só apanho (porque me é atirado pelos ares próximos...) EU fiz, EU vou fazer, EU gosto de, EU não gosto de, ... que desgosto d'ele. Os outros dois homens apagaram-se... e pagaram a conta, empurrando o grupo para fora do restaurante logo que lhes foi sendo possível!
  • Ali, na mesa em frente, um protagonista da opereta tipo vienense, em cena na Avenida de Roma, Os viúvos tristes.
  • Abundam as mesas de pessoa só. Como esta em que me sento e aponto mentes.
  • Ali, o gajo no engate. Será que, acolá, é a gaja no engate? Quem vai ganhar? Se calhar dá empate. Ou perdem os dois!
  • À volta, todo o "descharme" do mundo.
  • Aqui, à minha esquerda, 6-homens-6, da várias cores, reformados do tempo colonial, com todos os tiques, comendo marisco alarvemente, bebendo cerveja às canecas, falando de futebol, das "glórias do passado", berrando unanimemente "qu'hoje não têm gajo nenhum que lhes chegue aos calcanhares".
  • Os grandes candidatos ao Óscar (que seria renhidissimo com este juri) seriam o Matateu e o Eusébio, e, para haver um angolano, veio o Peiroteo (tinha que entrar um branco... e eu lembrei-me do Zé Águas, mas também do Coluna, cá para os meus botões...), e coitado do Mantorras!, que ficará sempre a grande frustração com o correspondente zurzir em médicos e dirigentes!
  • O prazer da solidão povoada.
  • Ou de... la solitude, je suis d'un autre pays que le votre, d'une autre quartier, d'une autre solitude, biologiquement je m'arranje avec l'idée que je me fasse de la biologie, je pisse, j' éjacule... (será assim, oh, Léo?)
  • Às vezes, assim, em solitude, assalta-me a vontade de "apanhar" uma bebedeira... mas ela foge-me, ou esconde-se atrás da (ou mascara-se de) lucidez.

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

estórias de sussexo e de insussexo - 2

Nas viagens que então fizemos, algumas ficaram na memória com episódios a pedirem para ser contados como estórias de sussexo e de insussexo.
Eram conhecidas algumas características do senhor ministro (um jovem e corajoso capitão que tomara sozinho o aeroporto de Lisboa, em 25 de Abril de 1974), tal como a sua propensão para se relacionar intimamente com o belo sexo (que redonda maneira de dizer…).
Recebida a delegação – o ministro, um elemento de cada ramo das forças armadas e eu –, logo no almoço com o embaixador em Berlim, e respectiva esposa, houve um episódio que (talvez…) fique para outra estória.
Nesta, conta-se que a delegação, recebida com todas as honras, teve reunião com o ministro do trabalho de lá, e outras, e, para uma manhã, estava programada uma visita a instalações militares, da qual logo me exclui por ser paisano. Surpresa tive quando o ministro-capitão, no jantar da véspera, me disse que também não participaria na visita militar, e aproveitaria para ver comigo o discurso que eu estava a preparar para ele dizer na reunião da OIT, em Genebra, para onde seguiríamos depois.
Ora nessa manhã, após o pequeno-almoço, saíram os tropas, e ministro e eu voltámos aos nossos quartos com a combinação de nos encontrarmos mais tarde. Que eu lhe telefonasse…
Lá telefonar, telefonei... mas ninguém me atendeu. Pelo que resolvi ir à procura dele, convicto que fora erro de comunicação. Na recepção, disseram-me que o sr. ministro estava na sala de jogos, que era na cave, a jogar ping-pong com a intérprete (que me esqueci de dizer que era… uma verdadeira estampa!).
Por dever de ofício, fui lá abaixo. E deparei com uma maneira muito diferente de praticar desporto: uma esbelta alemã a fugir à volta da mesa de ping-pong, com um ministro português a correr atrás dela. Inopinadamente, pus fim àquela modalidade desportiva com pouco futuro.
Acho que o ministro nunca me perdoou…

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

estórias de sussexo e de insussexo - 1

Naqueles tempos e lugares, os portugueses eram olhados como heróis. Sobretudo, os capitães.

Estava um grupo de portugueses, do movimento da Paz, em Budapeste. Um, responsável, do Conselho Português para a Paz e Cooperação, um professor universitário, de Coimbra, um trabalhador da indústria, do Barreiro, um trabalhador da agricultura, de Viseu, um “capitão de Abril”.
No hotel, estava também uma equipa feminina de atletismo da Polónia. Cujas atletas nos olhavam com a admiração com que nós as olhávamos a elas…
Por insistência do “nosso capitão”, promoveu-se um convívio num quarto daquele corredor. Três para três (o professor retirava-se cedo e quedo, o nosso trabalhador rural era tímido e não falava línguas). Convívio com algumas cervejas trazidas do bar e troca de impressões sobre as terras e a(s) vida(s).
Convívio que não estava a correr ao desejo do “nosso capitão”. Que, por isso propôs um jogo. Uma espécie de roleta. Uma garrafa de cerveja no chão posta a rodar e, para onde apontasse o gargalo, o designado ou tirava uma peça de roupa, ou cantava uma canção da terra dele ou dela.
Boa ideia!
Assim se fez.

E, nesta crónica, poupam-se pormenores e incidentes. Apenas se deixa contado que, até acabar a noite, isto é, até nos despedirmos cada um e uma para as respectivas caminhas, fomos 5 a cantar alternadamente, e também em coral, canções das nossas terras, e um capitão a tirar peças de roupa e a terminar “fardado” de camisola interior (das de alcinhas), cuecas e peúgas e a resmungar que só ele é que sabia jogar aquele jogo.