faz de conta que o que é, é!... avança o peão de rei.

...
o mistério difícil
em que ninguém repara
das rosas cansadas do dia a dia.

José Gomes Ferreira

sexta-feira, 31 de julho de 2009

Será menino ou menina?

Fui filho e sou pai do tempo em que havia alguma expectativa que se prolongava por meses: será menina ou menino? E hesitava-se no nome a dar ao/à bébé, para o que os padrinhos também metiam a colherada. Maria João ou João Maria?
As salas de espera das maternidades eram locais de roer unhas. Por todas as razões e mais esta de Será menino ou menina?, isto quando os partos não eram em casa porque, nestes casos, que muitos eram - sobretudo quando fui filho... nascido no rés-do-chão da Rua Tomás da Anunciação, ali à esquina de Campo de Ourique -, os pais (e os avós e mais parentes e amigos) esperavam, ansiosos, num qualquer compartimento da casa, se houvesse..., pela novidade. Será menina ou menino?
E os enxovais eram feitos na dúvida. Em cor-de-rosa a atirar para o azul ou em azul a atirar para o cor-de-rosa.
E havia palpites, a partir da barriga da mãe ser mais ou menos bicuda. mais ou menos arredondada.
E levava-se o bébé, ou a bébé, ao registo e, na grande maioria dos casos, à pia de água benta para a, ou o, lavar do pecado original de ter sido concebido/a em acto pouco digno do paraíso.
Tudo mudou. Não bem tudo... mas já se sabe, quase logo a seguir à concepção, se será menina ou se será menino, se se chamará Maria ou Manuel, se estes nomes ainda se usassem...
Mas, agora, há uma outra novidade, a substituir a novidade que era a da resposta ao sexo da criança. Agora, o recém-nascido parece que vai ter logo logo, a juntar ou até antes do nome... uma conta bancária. De 200 €.
Por este caminho, ainda transferem a Conservatória do Registo Civil e a tal pia baptismal para uma dependência da Caixa Geral dos Depósitos (se a concorrência não entrar em jogo, ou não vivamos nós numa livre "economia de mercado").
Os/as bébés vão aprender a dizer banco antes de balbuciarem papá ou mamã. E, ao crescerem um pouquinho, só vão aprender a tabuada depois de decorarem o seu número de conta e o código do multibanco.
Pois é, nestes tempos em que gostaria de ser avô, em vez da dúvida será menina ou menino?, será neto ou neta? vamos todos, pais, mães, avós e avôs, ter a certeza de que os pobres nascituros vão ter um número de conta bancária!

Acordei cansado... Acontece!

Não me sinto cansado
Sinto-me cansado DE
Sinto-me cansado de algumas coisas
... coisas de merda!

Não estou cansado de lutar
Estou cansado de lutar EM
Estou cansado de lutar em certas lutas
... lutas filhas-da-puta!

segunda-feira, 27 de julho de 2009

Desabafo triste

O meu pai dizia, em jeitos de fanfarronada, que de homem para homem não vai força de boi. Dizia-o ao contar contar algumas das suas aventuras de rapaz, com boémia e brigas, aqui pela terra e quando à conquista de Lisboa, e queria ele dar a saber que não tinha medo de ninguém... que humano fosse porque de homem para homem não havia diferenças que não fossem humanas. Gravei o dito e pouco (ou nada) usei o que talvez quisesse ser uma lição.
Porque desarquivei, esta manhã, esta lembrança? Porque me vi a pensar em como são diferentes os homens (e as mulheres), e como elas se reflectem nas fragilidades de alguns (algumas) que, de tão estranhas, bem pouco humanas me parecem. Há pequenas coragens que quando não se assumem como ínfima e humana coerência se revelam grandes cobardias.
Ah!, olho à volta e vejo que de homens (e mulheres) para homens (e mulheres) vão diferenças de força que ultrapassam fronteiras que humanas deveriam ser.
Pronto, desabafei. Não me venham é alguns (algumas) dizer que são isto mais aquilo quando não têm força para o traduzir numa tomada de posição consequente, na assumpção que é dar a cara (ou o nome), numa assinatura num papel.

sexta-feira, 24 de julho de 2009

Nâo há mais nada para dizer...

De vez em quando, e com uma frequência quer me desgosta, irrito-me com o que o homem (o camarada?) escreve ou diz. Vocifero, zango-me.
(isto sem falar de outras zangas, mais pessoais, maias mágoas, mais fundas, mais tristes porque menos da razão).
Mas, também de vez em quando, rejubilo com o que o escritor põe no papel ou noutros receptáculos do que pensa e com que faz prosa, não como o Monsieur Jourdain, de Molière mas como tão bem sabe. Como ninguém. Por isso, é Nobel.
O homem pensa. Sempre. Nem sempre bem (a meu critério, critério que eu cuido que dele também deveria ser). O escritor escreve o que pensa, e escreve, sempre, bem. Tem bem que gozo ler. Mesmo quando me irrita, me faz vociferar, zangar-me.
Acabo de ler um texto do homem-escritor, e quero aqui reproduzi-lo. Para que os raros vistantes saibam que docordel.blogspot.com também alberga textos de excepção.
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Julho 24, 2009 por José Saramago
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De mim se há-de dizer que depois da morte de Jesus me arrependi do que chamavam os meus infames pecados de prostituta e me converti em penitente até ao fim da vida, e isso não é verdade. Subiram-me despida aos altares, coberta unicamente pela cabeleira que me desce até aos joelhos, com os seios murchos e a boca desdentada, e se é certo que os anos acabaram por ressequir a lisa tersura da minha pele, isso só sucedeu porque neste mundo nada pode prevalecer contra o tempo, não porque eu tivesse desprezado e ofendido o mesmo corpo que Jesus desejou e possuiu. Quem aquelas falsidades vier a dizer de mim nada sabe de amor. Deixei de ser prostituta no dia em que Jesus entrou na minha casa trazendo-me a ferida do seu pé para que eu a curasse, mas dessas obras humanas a que chamam pecados de luxúria não teria eu que me arrepender se foi como prostituta que o meu amado me conheceu e, tendo provado o meu corpo e sabido de que vivia, não me virou as costas. Quando diante de todos os discípulos Jesus me beijava uma e muitas vezes, eles perguntaram-lhe porque me queria mais a mim que a eles, e Jesus respondeu: “A que se deve que eu não vos queira tanto como a ela?” Eles não souberam que dizer porque nunca seriam capazes de amar Jesus com o mesmo absoluto amor com que eu o amava. Depois de Lázaro ter morrido, o desgosto e a tristeza de Jesus foram tais que, uma noite, debaixo do lençol que tapava a nossa nudez, eu lhe disse: “Não posso alcançar-te onde estás porque te fechaste atrás de uma porta que não é para forças humanas”, e ele disse, queixa e gemido de animal que se escondeu para sofrer: “Ainda que não possas entrar, não te afastes de mim, tem-me sempre estendida a tua mão mesmo quando não puderes ver-me, se não o fizeres esquecer-me-ei da vida, ou ela me esquecerá”. E quando, alguns dias passados, Jesus foi reunir-se com os discípulos, eu, que caminhava a seu lado, disse-lhe: “Olharei a tua sombra se não quiseres que te olhe a ti”, e ele respondeu: “Quero estar onde estiver a minha sombra se lá é que estiverem os teus olhos”. Amávamo-nos e dizíamos palavras como estas, não apenas por serem belas e verdadeiras, se é possível serem uma coisa e outra ao mesmo tempo, mas porque pressentíamos que o tempo das sombras estava a chegar e era preciso que começássemos a acostumar-nos, ainda juntos, à escuridão da ausência definitiva. Vi Jesus ressuscitado e no primeiro momento julguei que aquele homem era o cuidador do jardim onde o túmulo se encontrava, mas hoje sei que não o verei nunca dos altares onde me puseram, por mais altos que eles sejam, por mais perto do céu que alcancem, por mais adornados de flores e olorosos de perfumes. A morte não foi o que nos separou, separou-nos para todo o sempre a eternidade. Naquele tempo, abraçados um ao outro, unidas pelo espírito e pela carne as nossas bocas, nem Jesus era então o que dele se proclamava, nem eu era o que de mim se escarnecia. Jesus, comigo, não foi o Filho de Deus, e eu, com ele, não fui a prostituta Maria de Magdala, fomos unicamente aquele homem e esta mulher, ambos estremecidos de amor e a quem o mundo rodeava como um abutre babado de sangue. Disseram alguns que Jesus havia expulsado sete demónios das minha entranhas, mas também isso não é verdade. O que Jesus fez, sim, foi despertar os sete anjos que dentro da minha alma dormiam à espera que ele me viesse pedir socorro: “Ajuda-me”. Foram os anjos que lhe curaram o pé, eles foram os que me guiaram as mãos trementes e limparam o pus da ferida, foram os que me puseram nos lábios a pergunta sem a qual Jesus não poderia ajudar-me a mim: “Sabes quem eu sou, o que faço, de que vivo”, e ele respondeu: “Sei”, “Não tiveste que olhar e ficaste a saber tudo”, disse eu, e ele respondeu: “Não sei nada”, e eu insisti: “Que sou prostituta”, “Isso sei”, “Que me deito com homens por dinheiro”, “Sim”, “Então sabes tudo de mim” e ele, com voz tranquila, como a lisa superfície de um lago murmurando, disse: “Sei só isso”. Então, eu ainda ignorava que ele fosse o filho de Deus, nem sequer imaginava que Deus quisesse ter um filho, mas, nesse instante, com a luz deslumbrante do entendimento pelo espírito, percebi que somente um verdadeiro Filho do Homem poderia ter pronunciado aquelas três palavras simples: “Sei só isso”. Ficámos a olhar um para o outro, nem tínhamos dado por que os anjos se tinham retirado já, e a partir dessa hora, pela palavra e pelo silêncio, pela noite e pelo dia, pelo sol e pela lua, pela presença e pela ausência, comecei a dizer a Jesus quem eu era, e ainda me faltava muito para chegar ao fundo de mim mesma quando o mataram. Sou Maria de Magdala e amei. Não há mais nada para dizer.
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(em O Caderno de Saramago)

Começar de novo, sempre!

Para um amigo que não conhece estes (e tantos mais não conhece, como eu não conheço tantos que ele bem conhece...), e Simone e Ivan merecem ser conhecidos, e logo num vídeo que também é prova de uma grande amizade, da amizade que tanto prezamos:
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terça-feira, 21 de julho de 2009

novaiorquinas (do cordel) - 16

Tenho de partir para outra. Mesmo que a outra seja... Nova Iorque. Ou o Zambujal!
Parece que fico agarrado às viagens feitas. Saboreando-as com a ajuda das fotos e das recordações que elas me trazem.
Não que as outras coisas não vão acontecendo, mas o esvaecer do vivido nestas últimas viagens tem sido (talvez) demasiado lento. Sobretudo S. Tomé, Vietname, Nova Iorque. Uma pulsão a empurrar para falar de, para escrever sobre. Para mais, partilhada. Lembras-te de...? E então quando...?
É bom, mas como tudo que é bom, é preciso não abusar. Por isso, já foi posto o ponto final (o que não quer dizer definitivo...) nas novaiorcadas do anónimo, vou agora colocá-lo aqui. Talvez com uma do cordel que melhor ficaria como reflexão lenta no anónimo. Deixá-lo...
O caso é que, no jardim das esculturas do MoMA há um pequeno lago. Logo junto à cabra do Picasso dos nossos encantos e repouso e convívio. Pois nesse lago, na tão imitada Nova Iorque, que tanto precisa de imitar para se adornar com um passado de séculos e séculos antes de Hudson e dos holandeses, há quem atire moedas como se em Roma estivesse. E uma senhora ali petrificou, marmorizada, não se sabe bem se no gesto turístico de atirar moedads para o pequeno lago, se no esforço para recolher algumas que outros tenham para lá atirado. Ela ali está. Toda nuínha, rechonchuda, em posição incómoda e em risco de "ir ao banho".

Ela ali está. E eu vou partir para outras. Não sem antes contar o que me fez sorrir, e que foi ver um puto, não sei de que nacionalidade mas bem impregnado do novaiorquismo à tio Patinhas, no afã de mergulhar o bracito na água e de retirar moedas do lago e, às mãos cheias, as ir levar à família, ali discretamente a um canto e, também sorridente como eu, muito compreensiva... e metendo as moedinhas nos bolsos!

sexta-feira, 17 de julho de 2009

Com tristeza

Vivo com uma imensa alegria. Mas, de vez em quando, dá-me cá uma tristeza...
E pergunto-me como é possível.
Pergunto-me como (me) é possível viver ao lado, como se indiferente me fosse, do Festival de Teatro de Almada.
Pergunto-me como é possível acontecerem coisas como a que a Folha Informativa nº 13 nos conta. (ver aqui).

quarta-feira, 15 de julho de 2009

novaiorquinas (do cordel) - 15

No final do cruzeiro à roda de Manhattan, que foi um dos "pontos altos" desta viagem e estadia em Nova Iorque, eis que descobrimos, no meio de porta-aviões, transatlânticos monstruosos, arranhacéus que se multiplicam com os reflexos uns nos outros, no meio dessas enormidades uma bandeirita portuguesa a tremular. "É a Sagres!, é a Sagres!" disseram-se, todos contentes quase eufóricos, os tontos dos portugueses misturados naquela gente toda a excursionar.
E, depois de desembarcados, lá foram eles à procura do sítio em que estaria a caravela!
Encontraram-no, claro, percorridos caminhos portuários, ou para-marítimos de que são peritos nas descobertas. E fotografaram-se. Patrioticamente.

segunda-feira, 13 de julho de 2009

novaiorquinas (do cordel) - 14

As malas feitas, fazem-se horas... à espera do táxi. Tempo aparentemente perdido porque tempo de não fazer nada. Tempo de reflectir, como em todo o outro tempo. Mas, neste, de reflectir.

À espera do avião... ou o avião à espera de nós para nos regressar.

Foram férias? Decerto, e talvez não. Talvez não porque estivémos como se daqui fossemos, em "nossa casa" (obrigados, Danda), com vizinhos, num 16º andar de um prédio com 34 (baixinho, baixinho), indo às lojas... como se daqui fossemos. Talvez não porque faltou o tempo extra habitual de estar "num sítio", de "apanhar sol", de ler e escrever como se não houvesse mais nada para fazer...
Bye, New York!

sexta-feira, 10 de julho de 2009

novaiorquinas (do cordel) - 13

Um dos emblemas de Nova Iorque são os yellow cabs. Utilizámo-los algumas vezes, até porque são acessíveis (apanham-se facilmente e não são nada caros). Quanto aos condutores, há de tudo e melhorámos substancialmente a impressão que nos deixou o primeiro, o que nos trouxe do aeroporto a casa da nossa amiga.
E pensávamos despedir-nos de NY a bordo de um desses objectos, mas a nossa amiga - que nos "estragou com mimos"... -, como mais um "mimo" requisitou um outro táxi, a uma companhia de que habitualmente se serve... e foi um sarilho.
O carro era bom, diria mesmo excelente, mas o motorista era um... cromo. Atípico como todos os "americanos" típicos. Para além de falar uma língua que não chegámos bem a perceber qual era, não parou um segundo de fazer outras coisas enquanto conduzia e, por último, para culminar a sua actuação, depois de nos ter perguntado em que companhia viajávamos, e de lhes termos dito ser a KLM, aproveitou para uma longa dissertação sobre aviões e companhias respectivas, em grande parte ininteligível, e deixou-nos na porta da Air France... porque, decretou ele, a KLM já não existia. Resultado: tivémos de percorrer uma parte do aeroporto Kennedy, de aerotrain e a pé (com as malas!), para chegar ao terminal 4 de onde partem os aviões da KLM, que tem uma ligação com a Air France e com a Delta... essas coisas dos negócios e negociatas.
Olha se não temos ido com tempo de folga!

quarta-feira, 8 de julho de 2009

novaiorquinas (do cordel) - 12

- Vamos lá parar um bocadinho e descansar os pés...

- Boa ideia... já não posso mais. Depois de tanto museu...

- ... aqui... neste banco do Central Park.

- Uff... um banco para (as)sentar, como tu já escreveste.

- A propósito... não disseste nada sobre o meu "post" a teu respeito...

- Foi pior a emenda que o soneto...

- O quê... não te fiz justiça?

- Mas eu não queria que me fizesses justiça... queria é que não me tivesses tratado como uma dondoca... sopas depois do almoço...

- ... sabes que não é isso que penso de ti...

- ... às vezes parece... e achas que é equilibro os museus mais a dondoquice?!... olha que no MAD estavam lá umas dondocas novaiorquinas...

- É verdade. Até fazia impressão. Mas tu não é isso. Não é esse equilíbrio... tu é também a literatura, o cinema, as fotos, a arquitectura...

- Pára com isso. Gosto do que é bonito, e nisso incluo roupa e essas coisas.

- Também eu gosto do que é bonito... é por isso que...


E a conversa (de ficção!) continuou.

terça-feira, 7 de julho de 2009

novaiorquinas (do cordel) - 11

O "cronista" penitencia-se. Expontaneamente. Antes de reclamações e indemnizações devidas. Ela não são são só montras e compras. De modo nenhum. De museus, gentes e bichos também faz as suas (e nossas) viagens. Que organiza com equilíbrio... e com aquela "queda" para as montras e compras.

O que ela desfrutou do centenário do Bacon - um dos seus preferidos - no Met! E aí vamos nós, hoje, a caminho de outros museus que ela meteu no programa. Se houver umas lojistas no caminho, ou nos próprios museus, não perdoará. Mas tem toda compreensão deste que se vai cronicando, às vezes injustamente, e que se assina .

segunda-feira, 6 de julho de 2009

novaiorquinas (do cordel) - 10

Depois do encontro casual com uma equipa de agitação e propaganda, numa esquina ali mesmo ao pé do Teatro Apollo, no âmago de Harlem, fiquei com vontade de passar pela Revolution Books. Confirmei a morada na "net".
Como a rua era compatível com intenções e projectos de ela, foi muito fácil tudo conciliar na manhã de hoje. E aí fomos nós.
Não foi difícil encontrar, não foi como com a Tifanny's...
Mas, depois de um fim de semana prolongado em que muitas lojas estiveram fechadas, esta "revolution books" terá prolongado o encerramento. E não descobri nenhum aviso de quando é que a "revolution" iria abrir!... Paciência.
Mas não foi por isso que não entrei em lojas. Depois de Chelsea, em Greenwich Village, sobretudo na Beecker St., e no Soho, foi um fartote, com um almoço pelo meio.
Ela não perdoa! Lambuza as montras, entra aqui e ali, e ali e acolá. Às vezes, o que mais me cansa, depois de longas camnhadas, é o entrar numa loja, de coisas giras ("lindas de morrer", dit-elle), mas que vejo e revejo num quarto de hora, e ficar por lá enquanto para ela um dia não chegaria... porque nunca apreciou tudo como desejaria e, se pudesse, voltaria no dia seguinte. Sem eu estar a pressioná-la... como me acusa.
Mas, hoje, descobrimos uma solução de compromisso. Há os bancos de (as)saltar, que são muitos, mas há, também, os bancos de (as)sentar em jardins perto de lojas. Que também são muitos, nesta cidade. Está-se bem, a observar gentes e a escrever notas para "estas coisas".

novaiorquinas (do cordel) - 9


E há gente, gente, gente. De todas as cores, idades e tamanhos.

Nativos, poucos. Mesmo que se alargue estes aos que o passaram a ser considerados como naturais, ao longo de gerações. Sim, porque os nativos nativos eram de pele vermelha e foram quase todos exterminados, ou estão em reservas. E houve outros vermelhos que ou se pintaram de outra cor, ou exterminados foram, ou continuam, como se reserva fossem, a resistir. Para o futuro. Também aqui

Gente, gente, gente. De todas as origens, cores e tamanhos. Com abuso do tamanho grande. Muito por culpa da comida. Comem muito e mal. Desde pequeninos, quando a gordura é formousura. Por isso ficam grandes, gordos e feios (nem todos, nem todas!....). Alguns e algumas com pneus em socalcos ou conglomerado-se num só pneu tipo TIR. E barrigas rotundas, gordas maiores e diferentes das das grávidas. E há grávidas! O que é, sempre e em todo o lado, muito bonito!

E nós, contentes. No meio de gente.

domingo, 5 de julho de 2009

novaiorquinas (do cordel) - 8

As cidades são feitas de contrastes. Quanto maiores as cidades, maiores os contrastes são. E se a cidade se chama Nova Iorque, que dizer?

Encontrar pequenos quintais na Venda Nova, entre Amadora e Lisboa, é quase natural.

Aperceber-se o viajante, em Nova Iorque, que em cada recanto se colocou um pequeno jardim, que há parques a rodear arranha-céus (ou vice versa?, como é o caso do Central Park) vai sendo natural, após ter começado por surpreender um pouco. Agora encontrar, ao virar de uma esquina - se bem que em Harlem... -, um quintal "à nossa maneira", com tomates, feijões e outras verduras, e uma casinha de madeira muito bem arranjada lá no fundo... ah! isso, depois de um certo encantamento, merece foto. E ser contado.

sábado, 4 de julho de 2009

novaiorquinas (do cordel) - 7

Neste dia da independência, o dia será dedicado a mais visitas. A museus ainda não visitados. Certos de que será no meio de gente, de muita gente. Nestes lugares e espaços habitados de gente. Por isso vivos. E, a propósito de gente, uma estória de ontem, ao jantar.
Entrámos no restaurante italiano, depois de bem analisada a informação sobre os preços e terem parecido acessíveis (mais as inevitáveis taxas e tips formais e informais mas obrigatórias...).
Uma jovem, muito jovem, atende-nos, com profissionalismo e simpatia. Enquanto fazíamos a escolha, pergunta-nos de onde somos. "... de Portugal?, de onde?". Para não entrar em pormenores, a Zé respondeu que éramos de Lisboa, antecipando-se à que poderia ser a minha resposta que, claro, meteria Ourém e mais proximidades...
Espanto nosso! A jovem começou a falar, com entusiasmo, de Lisboa. Que visitara com um grupo de outras jovens. Do que gostara e muito, e parece que tudo foi. Sobretudo das pessoas.
Lá fizemos o nosso melhor para não desmerecer a imagem que ela trouxera da nossa terra.

sexta-feira, 3 de julho de 2009

novaiorquinas (do cordel) - 6

Afinal... estava lá!

É certo que havia informações confusas no "guia" que nos aconselha, na "net" que nos guia, mas... "quantas vezes já aqui passámos!?", "é verdade, duas ou três...".

Quem não estava era a Audrey e o seu pequeno almoço! Mas ela, além do gozo da miragem gulosa da montra (e de um salto ao interior da loja), teve uma satisfação extra: foi mesmo ali, à porta da Tiffany & Co., que um dos pedintes que por aqui há, com animais que lhes servem de apoio para a mendicância, passou. Com uns "gatinhos amorosos", irresistíveis (veja-se o miúdo!):


E a troco destas festinhas debaixo do queixo do gatinho (na verdade, "amoroso"), lá foram uns trocos para o dono-patrão.

quinta-feira, 2 de julho de 2009

novaiorquinas (do cordel) - 5

De repente (mentira... foi a pouco e pouco), a sandália "deu o berro". Em pleno Central Park, farta de andarilhices, escancarou a bocarra! Ainda tentei andar descalço (ninguém notaria, aqui anda-se de toda a maneira), mas os meus mimosos pés não aguentaram mais que uns metros. Única solução à vista: alugar um "transporte público", uma "byke". Das que se nos andavam, insistentemente, a oferecer-se para nos transportarem, puxando por nós à custa de pedalada.
Lá se fez o contrato com um jovem alto e de bom aspecto (apesar do cheiro a suor). Lá nos instalámos e lá fomos.
Confesso que não me sentia muito bem, e tive ganas de, nas subidas (felizmente poucas e pouco íngremes), saltar do banco e ir dar uma ajuda, empurrando.
O "puto" era simpático no seu estranho linguajar para-pedagógico, de guia meio improvisado. Era o seu trabalho de verão, disse-nos. Mas feito com profissionalismo, pois escolhia bem os ângulos panorâmicos e contava coisas aprendidas, embora privilegiando informações, digamos, de revistas de sala de espera de dentista: o John Lennon, a Madona, o Michael, a Jacqeline Kennedy Onassis, o Woody Allen, o Elton, a Cosa Nostra, os seus apartamentos, os custos, os pormenores de vidas íntimas e (pouco) privadas, sempre com filmes e concertos a servirem de referência.
E fez questão em levar-nos até ao museu onde queríamos ir, pelo meio do trânsito novaiorquino.
À despedida, depois das contas feitas, ao trocarmos nomes como se fossem cartões, a grande surpresa-coincidência: chama-se Serguei, é de origem russa! Acabámos a tratar-nos por Serioja e, cheios de pena, a despedir-nos com obrigados e spassibas.
Ele há coisas!
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(as próximas, aqui, também trarão ilustração... que é que são menos que as lá do anónimo?)

quarta-feira, 1 de julho de 2009

novaiorquinas (do cordel) - 4

Ao fim do terceiro dia, o ritmo abrandou um pouco com a chuva e com a ida de metro e comboio a Newark. Talvez tenha sido o que me valeu...
É que, de manhã, cheguei a assustar-me. Ela parecia querer esgotar Nova Iorque ao terceiro dia. Saiu para fotografar um fogo, e o aparato bombeiral. Depois, voltou e aí fomos nós à procura do pequeno almoço na montra de Tiffany's. Não a encontrámos. Nem à montra, nem à Audrey Hepburn que, desconfio, já se "apagou"... tinha um ar tão frágil... (se calhar - diz ela - só um "certo ar" era frágil).
Mas ela não desistiu desse cinematográfico pequeno-almoço. Além de que NI é inesgotável, eu é que não sei se o serei. Com tanto andar, por este andar...
Ainda de manhã, de repente vimo-nos numa outra flor(est)a, no meio e parte de uma outra fauna. Em Times Square. Foi giro!
E a tarde também o foi, com a ida a Newark. Um mergulho num meio de emigrantes portugueses. Ouvindo e falando em português, vendo o noticiário da RTP. Uma experiência.
A chuva é que começou a cair e estragou um bocado os encontros.
Amanhã, há mais Nova Iorque!