faz de conta que o que é, é!... avança o peão de rei.

...
o mistério difícil
em que ninguém repara
das rosas cansadas do dia a dia.

José Gomes Ferreira

terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

tal pergunta, tal resposta - 9

A menina de voz simpática, agradável, adequada ao emprego precário de atender as pessoas que telefonam "para lá":

- ... há mais alguma coisa em que lhe possa ser útil?
- O quê?!... não lhe foi possível ser-me útil na "coisa" que me levou a telefonar...
E não a estou a culpar... mas, por favor, poupe-me a essa frase final com que a robotizaram para terminar todas as conversações!

tal pergunta, tal resposta - 8

- Tem horas?
- Não! Tenho relógio...

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

tal pergunta, tal resposta - 7

- Qual o segredo da sua longevidade?
- Não ter morrido mais novo!... "segredo" para que tive a ajuda de séculos de humanidade e do Serviço Nacional de Saúde.

tal pergunta, tal resposta - 6

- Então... aqui a conviver com os seus amigos?
- Não!... estamos aqui a jogar dominó para matar este tempo de espera... ou vice-versa... ou vice-versa.

Personagens

Nestas "ficções do cordel", começam a tomar corpo (coisa que, aliás, já têm) uns/umas personagens:
.
* - a mais-que-tudo
* - o filho-dos-paineis
* - o filho-do-metro-e-noventa-e-tal
* - o filho-da-mais-que-tudo
* - o mano- Xavier
* - o primo-Faria
* - a cunhada-Graça
* - o Zé-da-guita
.
e há outros na calha, saídos dos blogs...
.
Tenho de fazer alguma coisas com eles, e com outros figurantes (e figurinhas, e figurões).

sábado, 23 de fevereiro de 2008

Nós e os netos...

Eu...... neto de mim
Tu...... avó de ti

tal pergunta, tal resposta - 5

Perguntei ao "mano Xavier", sempre muito dado à ironia - melhor (ou pior?) que ele só o "primo Faria":
- Está a correr bem a viagem não 'tá?
- Está... o pior vão ser as compras p'rós netos! (e sorriu, feliz, o raio do avô...)

tal pergunta, tal resposta - 4

- O senhor ainda não tem netos?..."
- Não!... não terei netos!..."

Luso-galaico

1.
- Obrigado...
- De nada...

2.
- Gracias...
- Não tem de quê...

tal pergunta, tal resposta - 3

- " E porque é que fez assim?"
- "Actuei de acordo com as boas práticas ..."

"...as boas práticas"!... A culpa é do "mano Xavier" que, na altura própria, não encontrou melhor maneira de em português dizer isto.
E ele cheio de remorsos que não o largam...

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

tal pergunta, tal resposta - 2

No hospital, durante a visita ministerial, a pergunta sacramental, com o sorriso para ganhar votos: "... o senhor... está melhor?".
A resposta pronta, seca: "Não! Estou pior... por isso é que estou aqui..."

tal pergunta, tal resposta - 1

Um dia, perguntaram a uma velha senhora de Boston se tinha viajado muito e ela, com um daqueles sorrrisos a que chamam bondosos, respondeu : "Eu?!... não tive necessidade de viajar... já nasci em Boston!"

domingo, 17 de fevereiro de 2008

Convoco-vos

Também aqui - como fiz no anónimo - convoco todos a visitarem o blog maisangular.blogspot.com !
É do meu amigo e conterrâneo Pedro Gonçalves, fotógrafo, que foi a Guiné-Bissau e trouxe de lá muito do que encontrou em África e a que chama amor a África. E (digo eu) às mulheres, e aos homens. E à vida.
Vejam só esta amostra:

E por mim - cá para mim - nem sei se não estarei a aproveitar este pretexto para pôr umas fotos do Pedro nos meus "blogs"... já que não as posso pôr todas!

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

Poemas cucos - 11

Desta vez, o "cuco" moderou-se (?) e vem contar uma estória.
O poema ao lado - e que abaixo se reproduz sem "cuquisses" - foi lido há 40 anos (ou teria sido há 50?) e fez-me um profundo efeito. Tanto que, de vez em quando, quando as "coisas" estão a precisar de um abanão me sai o que retive desse poema. Não como o autor o termina, mas como eu retive e apropriei. Ao longo destes 40 anos (ou terão sido 50?) não sei quantas vezes berrei a raiva cresce e a esperança multiplica-se. Como "coisa minha"!, por mim criada, inventada, gritada ou escrita.
Mas não... ou apenas (e muito é!) "cuquice".
Aqui há uns tempos, poucos..., a refolhear livros e cadernos de poesia, saltou-me a separata do Notícias do bloqueio - 1, com o poema do Egito Gonçalves e tudo ficou claro, como se pode ver:

Notícias do bloqueio

Aproveito a tua neutralidade
o teu rosto oval, a tua beleza clara
para enviar notícias do bloqueio
aos que no continente esperam ansiosos.

Tu lhes dirás do coração o que sofremos
nos dias que embranquecem os cabelos...
Tu lhes dirás a comoção e as palavras
que prendemos - contrabando - nos teus cabelos.

Tu lhes dirás o nosso ódio construído
sustentando a defesa à nossa volta
- único acolchoado para a noite
florescida de fome e de tristezas.

Tua neutralidade passará
por sobre a barreira alfandegária
e a tua mala levará fotografias,
um mapa, duas cartas, uma lágrima...

Dirás como trabalhamos em silêncio,
como comemos silêncio, bebemos
silêncio, nadamos e morremos
feridos de silêncio duro e violento.

Vai pois e noticia com um archote
aos que encontrares de fora das muralhas
o mundo em que nos vemos, poesia
massacrada e medos à ilharga.

Vai pois e conta aos jornais diários
ou escreve com ácido nas paredes
o que viste, o que sabes, o que eu disse
entre dois bombardeamentos já esperados.

Mas diz-lhes que se mantém indevassável
o segredo das torres que nos erguem,
e suspensa delas uma flor em lume
grita o seu nome incandescente e puro.

Diz-lhes que se resiste na cidade
desfigurada por feridas de granadas
e enquanto a água e os víveres escasseiam
aumenta a raiva
.....................e a esperança reproduz-se.

Não aguento!

Que mundo este em que nos querem obrigar a viver!
Que mundo este em que todos os truques se usam, todos os estratagemas se inventam para que uns poucos explorem um número cada vez maior.
Que mundo este em que que uns diligentes funcionários defendem o seu precário emprego argumentando de maneira falsa, incoerente, por vezes melíflua, para que milhões se acumulam nas mãos de quem tem milhões à custa do euro a euro espoliado, quando não roubado, a quem nem cêntimos tem de seus!
Mas nós não aceitamos este mundo. Assim.
A raiva cresce e a esperança multiplica-se!
(enquanto ouvia um telefonema para uma companhia de seguros que já recebeu, há meses, o recibo de um imigrante cujo carro estacionado foi destruído para comprovar o recebimento de um cheque ... que, agora meses passados, querem impor que vá buscar ainda não se sabe bem onde, aproveitando, de forma miserável, o escasso domínio da língua portuguesa)

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

Hoje:

Porque... vale a pena lutar!

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

Poemas cucos - 10 e 10bis

Poemas cucos[1]
(traduzidos ou adaptados “à maneira”)



À maneira de António Jacinto (para começar…)
e de Manuel da Fonseca (para acabar…)



Os grandes desafios



Naquele tempo,
a malta vinha do liceu,
punha os livros no chão,
a fazerem de balizas,
os que usavam calças compridas arregaçavam-nas,
os que usavam ainda calções não precisavam…
e no pátio das traseiras da mercearia do pai do Alfeu
(ó Alfeu abre o cu que lá vou eu…)
a malta fazía grandes desafios!

Naquele tempo,
os que vinhamos a férias (e grandes eram as férias…)
juntávamo-nos no largo da igreja
com os que cá viviam
e pequenas ou nenhumas férias tinham
(ah!, os óculos escuros do Orlando!)
e íamos jogar bilhar p’ró Central
ou escapávamo-nos para a largueza em frente dos Correios
(ih!, tão larga iria ser a avenida e tão estreita é!),
ou para a Feira do Mês, em frente da cadeia e do César dos pássaros,
e que grandes desafios fazíamos
(alguns de nós de pé descalço...)




“como era a Tuna do Zé Jacinto
tocando a marcha Almadanim!...”



Meus companheiros de bola de trapo e pé descalço...
como o tempo passou!
Cabelos brancos ou onde é que eles vão,
barrigas redondas, andar arrastado.
No livro dos assentos da vida,
somando somando,
somando anos e anos,
lembrando casos de ontem,
esquecendo coisas de hoje

Na vila quieta,
sem vida
sem nada

- onde estão os dias amarelos verdes azuis encarnados?,
onde está aquela alegria antiga, os berros de gooolo!,
os gritos de toma lá que já almoçaste/merda que me aleijaste...?
Ó meus amigos desgraçados,
se a vida é curta e a morte infinita,
despertemos e vamos
Eia!,
vamos fazer qualquer coisa de louco e heróico
como era jogar à bola onde hoje só há carros a passar,
nós a correr atrás de uma bola de trapo
... e alguns de pé descalço.
_________________________________
[1] Os cucos são aves conhecidas por chocarem os ovos em ninhos feitos por outros/as; também se aplica o epíteto a algumas “aves” humanas que se aproveitam do trabalho dos outros/as

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

Poemas cucos - 9

Poemas cucos[1]
(traduzidos ou adaptados “à maneira”)

À maneira de Nicolás Guillén

PROBLEMAS DO SUBDESENVOLVIMENTO

Monsieur Dupont chama-te inculto
porque ignoras
qual era o neto preferido de Víctor Hugo.

Herr Müller pôe-se aos berros
porque não sabes
o día exacto
em que morreu Bismark.

O teu amigo Mister Smith,
inglês ou irlandês, não sei,
fica perturbado
por não saberes
que o God save the King é, agora, God save the Queen

Aquele gajo que se chama President Bush
(e vão dois…)
que não sabe nada de nada
fica ainda mais burro
por tu desconheceres que ele mora numa Casa Branca

O Señor Dom Juan,
esse teu vizinho,
fica espantado ou furibundo
por traduzires bocadillos por bocadinhos

Está bem...
E depois?
Quando for a tua vez,
manda-lhes dizer otorrinolaringologista,
pergunta-lhes onde nasce o Mondego,
quem era Luís de Camões,
e em que lugar deste planeta morreu Bento Gonçalves.

Ah! e pede-lhes um favor:
que te falem sempre em português!

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[1] Os cucos são aves conhecidas por chocarem os ovos em ninhos feitos por outros/as; também se aplica o epíteto a algumas “aves” humanas que se aproveitam do trabalho dos outros/as

terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

Poemas cucos - 8

Poemas cucos [1]
(traduzidos ou adaptados “à maneira”)

À maneira do “capitão” Pablo Neruda



Na minha pátria de montes e de rios
há um povo




Na minha pátria há montes.
Na minha pátria há rios.

Vem comigo!

A noite e o frio sobem aos montes.
A fome e a névoa descem aos rios.

Vem comigo!

Quem são os que sofrem?
Não sei quem são, mas sei que são meus irmãos.

Vem comigo!

Não sei quem são, mas chamam-me.
São meus irmãos e gritam “sofremos!”.

Vem comigo!

E dizem-me
“o teu povo, o teu povo infeliz,
entre os montes e os rios,
entre a raia e o mar,
com frio, fome e dores,
não quer lutar sozinho,
o teu povo que contas e cantas,
espera por ti, amigo, camarada, irmão!”

E tu, ó tu que eu amo!,
frágil, pequeno grão vermelho de trigo.

Vem comigo!

Será dura a luta
- a vida é dura, amor –
mas sei que virás comigo!


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[1] Os cucos são aves conhecidas por chocarem os ovos em ninhos feitos por outros/as; também se aplica o epíteto a algumas “aves” humanas que se aproveitam do trabalho dos outros/as

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008

Poemas cucos - 7

Poemas cucos [1]
(traduzidos ou adaptados “à maneira”)


À maneira de José Gomes Ferreira

E agora?
Agora nada.
Mais poemas.
De outros e meus (se for capaz...).
Para não morrer à míngua de ser.
Parece que só sei viver através das palavras!
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[1] Os cucos são aves conhecidas por chocarem os ovos em ninhos feitos por outros/as; também se aplica o epíteto a algumas “aves” humanas que se aproveitam do trabalho dos outros/as.

sábado, 2 de fevereiro de 2008

Poemas Cucos - 6

Poemas cucos[1]
(traduzidos ou adaptados “à maneira”)

À maneira de Brecht

Quão difícil é governar e gerir!

1. Todos os dias os ministros dizem ao povo quão difícil é governar.
Sem os governos os PIBs cresceriam para baixo?,
e o desemprego diminuiria ao mesmo tempo que aumentam os desempregados se o primeiro-ministro não fosse tão engenheiro?
Sem o ministro da saúde as mulheres poderiam parir em trânsito ambulatório,
e os professores e as professoras poderiam ser assim tão enxovalhados sem a ministra da educação?
Sem o ministro dos negócios estrangeiros, e das invasões e ocupações para defesa dos direitos humanos, haveria guerra?,
e mudaria o ano sem a mensagem do presidente da república?

Nada disto seria provável e, se houvesse de risco de vir a acontecer, até poderia o ano novo não começar a 1 de Janeiro mas só quando SEXA estivesse disponível para dizer a sua mensagem aos portugueses.

2. É também difícil, ao que nos é dito, dirigir uma fábrica e fazer semear e colher.
Sem o patrão, as paredes ruiriam e as máquinas iriam para a sucata?,
se algures se fizesse um tractor, ele poderia andar e lavrar sem as ordens de quem manda?
Que seria da indústria sem industriais?,
e que seria da propriedade rural sem proprietários rurais?
Quem produziria bolas de sabão e balões e bolhas especulativas?,
quem é que semearia centeio onde já se tivessem plantado batatas?

3. Se governar fosse fácil não havia necessidade de espíritos tão esclarecidos como os dos chefes.
Se o operário soubesse usar a sua ferramenta, e se o camponês soubesse distinguir uma foice de um martelo, não haveria necessidade nem de caval(h)eiros da indústria nem de proprietários caval(h)eiros.
E é só por estarem as gentes tão mal informadas e estúpidas que há necessidade de uns poucos tão inteligentes.

4. Ou será que governar e gerir só é assim tão difícil porque a exploração e a mentira são coisas que só alguns herdaram e apenas raros teriam aprendido bem e pratiquem melhor?
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[1] - Os cucos são aves conhecidas por chocarem os ovos em ninhos feitos por outros/as; também se aplica o epíteto a algumas “aves” humanas que se aproveitam do trabalho dos outros/as