faz de conta que o que é, é!... avança o peão de rei.

...
o mistério difícil
em que ninguém repara
das rosas cansadas do dia a dia.

José Gomes Ferreira

segunda-feira, 24 de março de 2014

dias de agora

24.03.2014

Uma quase-ficção para a manhã:

«Farto de (esbrace)nadar, o homem fez  paragem num apeadeiro. Apiedou-se de si próprio. Estava cansado. 
Mas sair do caminho, nunca!
Agora, ia tentar apressar-se (ah!, o tempo a escassear. sempre!). Talvez um barco a remos…
Quando se preparava, no cais, para embarcar, foi interpelado por um pass(e)ante:
“O amigo vai para a Ilha*?”
“Claro!, sempre em frente, embora com muitas curvas, e ondas, e marés…”
“Mas vai sozinho?”
“Não!, a companheira acompanha-me… tem os seus próprios caminhos, e estilos, e barcos. Tem as suas amizades, e o Pilates, e a Graça, e o ioga, e os cortes de cabelo “à japonesa”, e outras coisas lá só dela…mas acompanha-me companheira.”
“Pois!… são assim. E nós assim somos… Mas leva muita bagagem?!”
“Pouca coisa. Três livros-fundadores de mim – A crise da Europa, A cultura integral, Rumo à Vitória – e o Beethoven do Roman Rolland traduzido pelo Lopes-Graça (que tem estado à espera), um gira-discos e “viniles” … para sonorizar a leitura. Isto para começar... Ah!, mais uma oftalmologista, um dentista, um ortopedista, uma dermatologista e uma farmácia. E, de vez em quando, serei visitado por amigos como o Martinho, o António Ferreira, o Joaquim Gama, a quem darei consultas (vai ser tudo ao contrário…).”
“… e filhos?,... e netos?...”
“Esses estão sempre comigo – mesmo quando não estão! – porque estão nos genes. E crescem para cima e para a frente do tempo.”
“Olhe… boa viagem!”
“Obrigado! Já estou atrasado. Até logo. Volto sempre…”

E o homem lá foi. Remando, cada vez mais remansamente. Perdendo-se no horizonte mas nunca perdendo o horizonte. Da Ilha deserta* povoada de gente nova sempre a chegar.»


·       * -  Chame-se ela Pasárgada, Ítaca ou qualquer outro nome desses de ilhas do Egeu ou de nenhures

quarta-feira, 5 de março de 2014

Pinça mentes em glosa obrigada a mote

Sabia tanto que apenas sabia que pouco sabia
Sabia tanto que apenas sabia que lhe faltava saber tudo
Sabia tanto que apenas sabia que muito tinha de aprender
Sabia tanto que apenas sabia que não lhe sobrava tempo

O velho actor

O velho actor esperou as pancadas de Molière para, depois, ouvir a primeira "deixa" e entrar em cena.
Demoraram... (aliás, não vierem como acontece a muitos velhos hábitos que caem em desuso.)
Esperou!... e adormeceu. 

Só acordou quando as palmas vieram premiar a sua excelente interpretação daquele papel.