faz de conta que o que é, é!... avança o peão de rei.

...
o mistério difícil
em que ninguém repara
das rosas cansadas do dia a dia.

José Gomes Ferreira

segunda-feira, 30 de maio de 2011

Página de "dias de agora"

Nos “50 anos…” deixei aqueles três nomes - Álvaro, Graça, Saramago - como minhas referências históricas, porque na História estão aqueles três homens que conheci e com quem convivi.
E, como me lembrei enquanto decorria a sessão no Conquistas da Revolução, a eles deveria ter juntado o nome de Vasco Gonçalves.
Porque a nossa luta, na associação a criar, é de evitar que um homem com aquela dimensão histórica (e humana, se não é redundante...), e com a enorme importância que teve na nossa História, seja desta apagado, ou que nela apenas fique como insultuosa caricatura que dele querem traçar aqueles que o não conseguem apagar. Como se não tivesse existido, ou nenhuma importância tido.
Acrescentei, agora mesmo - hoje -, o José Gomes Ferreira, que apenas conheci de ler – e de ver ao longe com os seus longos cabelos brancos e ar bom e de poeta –, mas que, ao “descobrir” os seus Dias Comuns (vão no 5º volume), foi como se tivesse vivido com ele o que vivi enquanto ele escrevia o tempo e os acontecimentos que ambos vivemos. Com 35 anos de distância entre nós, vivendo o mesmo tempo e os mesmos acontecimentos. Que ele me fez reviver como que iluminados pela sua cultura, lucidez e militância. 
E, depois dessa “descoberta” que a estes “dias de agora” me trouxe, a redescoberta da “memória das palavras ou o gosto de falar de mim” (que título!) e da “imitação dos dias” (que título!).
São os meus homens históricos!

sábado, 28 de maio de 2011

A memória e as inevitabilidades (das e como escolhas)



uma coisa é o que não é. a inevitabilidade das escolhas tornam a inevitabilidade uma escolha. 
(será felicidade? não sei… e o que é isso de "ser feliz"? sabe-se que se foi feliz, luta-se para o ser - para si e para os/no meio dos outros -, nunca se é porque se está - sempre - a deixar de ser.)

não há mensagem, tem a mensagem que um abraço tem.





sexta-feira, 13 de maio de 2011

O cão é o melhor amigo do homem...

dizem uns...
'inda agora o estou a "ouver" na telavisão!
Pois eu diria que a mulher é a melhor amiga do gato.
E tenho dito!

terça-feira, 10 de maio de 2011

Acordo orto-gráphico - 2

Chamaram-me a atenção para o facto (ou fato?) de mais se usar a expressão partidos "do arco do poder" que do "arco do poder". No entanto, tendo em atenção a circunstância dos acordos ortográficos andarem às voltas (pelo menos, eu ando... nos meus escritos...) com as consoantes mudas, direi que o fa(c?) é circunstancial e consoante. 
Assim sendo, que cada um, em futuro acordo orto-gráphico (para o dia 5 de Junho), use as consoantes mudas consoante as phaça phalar ou não, particularmente a consoante h sonante ou não a seguir à consoante p.
"Partidos do arco do governo"? Phoda-se! Ainda não se fartaram de (nos) phoder?

Acordo "orto-gráphico"

Na próxima revisão do acordo ortográfico, face ao que ouço e vejo, poder deverá passar a escrever-se phoder. Por causa (ou culpa) dos partidos do "arco do phoder"... os portugueses!

domingo, 8 de maio de 2011

Foi no dia 25 de Abril de 2011

No dia 25 de Abril de 2011, depois do desfile, dos encontros e dos abraços, voltei à Rodoviária para regressar a casa (tinha a Escola do Sagrado Coração de Maria, de Fátima, no dia seguinte, para contar como fora o meu 25 de Abril de há 37 anos).
Uma enchente. Os “expressos” de todos os dias, com muitos desdobramentos para que toda a gente pudesse regressar.
Como não ia jantar, fui até ao bar, cruzando gente e mais gente. Comprei no pré-pagamento uma cerveja, um rissol de camarão e um pastel de bacalhau, naveguei até um canto sossegado, próximo da parede envidraçada. Os pombos esvoaçavam no meio do alvoroço e, por vezes, procuravam saídas onde o vidro as impedia, e contra o qual se debatiam.
Um pouco afastada, uma família fazia o seu lanche-ajantarado. Uma família de dois casais, pais e avós de duas crianças muito excitadas e alvoraçadas, em correria atrás dos pombos, pelo meio de tanta gente e das pernas das pessoas.
Ao meu lado, um trio de homens grandes, jovens, negros, bebendo as suas cervejas, formando grupo em grande risota e galhofa. No seu pequeno mundo africano.
Os miúdos – numa “chave” de 6 a 12 anos, decerto acertaria… – não paravam, beneficiando da pouca vigilância dos progenitores de duas gerações. Talvez na esperança de que assim se cansassem e fossem dormir durante a viagem…
Diga-se que, ao princípio, não incomodavam ninguém. A não ser as pombas. Até que uma que pareceu ter entrado em pânico entre a espada das mãozitas que as queriam agarrar e a parede que era de vidro e a iludia de que por ali seria a fuga.
Quando a cena me começava a interessar e, porque não dizer?, me começava a incomodar a indiferença dos pais e avós, vejo um dos três homenzarrões calmamente pousar a sua cerveja, aproximar-se da atarantada pomba e, perante o ar espantado e admirativo das crianças, agarrá-la com as duas enormes manápulas.
Suspense!
Eu estava atento, preocupado, hesitante sobre que fazer, se alguma coisa haveria a fazer. Por mim…
O grande jovem negro, sempre sorridente, aproximou-se da porta do bar da Rodoviária, que dá para a gare das camionetas e para o grande largo interior por onde estas entram, virou para este lado, saiu do grande edifício, abriu as enormes mãos e atirou a pomba aos céus. Por onde ela voou, libertada.
Depois, com a mesma tranquilidade sorridente, voltou para o convívio com os companheiros. Como se nada tivesse feito.
Ao passar por mim, os nossos olhares cruzaram-se. Eu levantei o polegar da minha mão direita. Ele correspondeu. Levantou o polegar da sua mão direita, e o sorriso abriu-se ainda mais, ainda mais mostrando os dentes muito brancos.
E tudo voltou ao que era.
Foi no dia 25 de Abril de 2011.