faz de conta que o que é, é!... avança o peão de rei.

...
o mistério difícil
em que ninguém repara
das rosas cansadas do dia a dia.

José Gomes Ferreira

quarta-feira, 29 de novembro de 2017

leão que já fui -2

"Leão" fui. Cedo me tornei "doente". Em Ourém tinha de ser…. Se em casa o ambiente nada tinha de futebol, houve amigos que muito contribuíram para que o "bichinho" se infiltrasse... 
(eu conto)

2. Meu pai era homem de muitos amigos. Viera cedo para Lisboa, emigrante que fica por perto. Que não se afasta das raízes. Sozinho na grande cidade, com gosto de viver, associativo por maneira de ser, depressa se integrou. No Ateneu Comercial, em colectividades de bailes, jogo (sem pisar o risco do vício), convívio e começo de farras que entravam pelas madrugadas. Mas, entre os amigos mais próximos, estavam sempre “os de Ourém”. Sempre contou coisas – “aventuras de solteiro e bom rapaz, trabalhador e honrado” – em que entrava um Tomás Casimiro ou outro “lá da terra. Primeiro do Zambujal a fazer a 4ª classe, não era homem de muitas leituras, embora fosse de algumas e gostasse muito de teatro.
Tendo casado tarde para a época, aos 35 anos, com a mais nova de três irmãs, depois de se ter sentido atraído pela mais velha, divorciada e… atraente, desse casamento nasci eu, que filho único fiquei, depois de uma gravidez frustrada e sempre lembrada.
E que tem isto a ver com o Sporting e o leão que fui… e talvez ainda seja?
É que, entre os amigos de meu pai, amizade nascida em Ourém e que passara a ser da família, estava o casal Figueiredo e seus 4 filhos – a Maria Antónia, a Fernanda, o António Eduardo e o Luís –, que verdadeiramente me adoptaram. Sobretudo o mais novo, o Luís, que é o primeiro amigo de que me lembro. Pois o “Licho”, como lhe chamava o miúdo que eu era - o que achavam uma gracinha… -, era todo sportinguista, talvez para se afirmar face ao mano António Eduardo, poucos anos mais velho, que era ferrenho benfiquista e tanto era que chegou a dirigente do clube.
Então o Luís Figueiredo fez deste seu amigo, mais novo 7 ou 8 anos, o companheiro e cúmplice na rivalidade entre verde e vermelho, embora décadas mais tarde nos tivéssemos encontrado no lado vermelho das lutas sociais, e convictos de estar no lado certo da vida.

O facto é que a essa primeira amizade, que se prolongou vida fora, e ao seu exemplo e aliciamento, se deve eu ter sido o “leão de Ourém”. Há até uma fotografia – onde estará ela?! – em que o Luís (rapaz espigadote) e eu (miúdo) passeamos nos Castelos (de Ourém, claro!), numa qualquer visita das famílias “à terra”.       

terça-feira, 28 de novembro de 2017

Que trabalhêra!


Eh!, pá... vai à Diva (passe a publicidade!), vou lá eu e o Manuel "Cartucho".

segunda-feira, 27 de novembro de 2017

O corpo é feito de mudança

A cortar as unhas (das mãos... que as dos pés já não!):

que se passa?
não o faço dia sim/dia não
(mas também não é ano sim/ano não!)
e surpreendem-me as mudanças,
não nas mãos
(nem na tesoura...)
mas sim nas unhas.
Na verdade,
já antes o fazia
(quantas centenas de vezes o fiz?!...)
e não notava nada entre os cortes;
mas agora não,
agora noto (e anoto!) as mudanças
por tão rápidas serem:
ele muda o formato,
ele muda a textura,
cada vez mais duras...,
ele muda a consistência,
ele muda a resistência ao corte,

ele o que muda, decerto, é a idade do corpo!

domingo, 12 de novembro de 2017

leão que já fui -1

"Leão" que já fui. E "doente". E "leão de Ourém" (tinha de ser...)

Nasci e cresci em ambiente nada desportivo e futebolístico. Mas o "bichinho" foi-se infiltrando... 
(já conto)

1. Filho único em família pequeno-burguesa, cedo senti o peso e a responsabilidade de vir a ser a realização dos seus sonhos frustrados, por inalcançáveis. Enquanto eu criava os meus próprios sonhos. Por vezes, sonhos em fricção surda ou até em conflito calado. Uma eterna questão: a de se querer que outros (e os nossos, antes de todos!) sejam ou façam o que não pudemos ser ou fazer. Mas adiante...

Meu pai gostava que eu o acompanhasse, e eu - miúdo  - gostava de o acompanhar. Um dia, tinha aí 6/7 anos, sem saber ao que ia fui com ele a um campo de futebol. Já no local, para mim novidade, explicou-me que estávamos numa festa de despedida do Adolfo Mourão, seu colega de trabalho na Gomes & Rodrigues, Lª (no Largo D. Estefânia), como jogador de futebol do Sporting... pois já chegara aos 30 anos.
Foi assim que assisti, com o encantamento das primeiras descobertas, ao primeiro jogo de futebol e a todo o cerimonial de uma homenagem a um grande jogador.
Vim a saber, logo que me foi possível (e agora confirmo pelo Google!), que Mourão tinha sido extremo-direito do Sporting desde os 16 anos, e internacional 17 vezes num tempo em que havia poucos jogos desses, e que um deles fora um "amigável" contra a Alemanha em 1936 (em que o Adolfo se não teria sentido deslocado... mas teria estado entre os seleccionados portugueses que, no Jogos Olímpicos que se seguiram em Berlim, não fizeram a saudação nazi).
Ao longo da adolescência fui-me informando e criei uma "cultura" desportiva-futebolística (ou memória) que por vezes me surpreende. Como agora, em que sei - sem recurso a qualquer ajuda ou "cábula" - que quem substituiu Mourão como extremo-direito do Sporting foi Armando Ferreira, que terminou cedo a sua carreira de futebolista por ter fracturado um menisco, e depois Jesus Correia, que também jogava hóquei no Paço d'Arcos... e trabalhava no Grémio dos Armazenistas de Mercearia.
E assim chegamos aos "5 violinos", mas estas (boas) recordações ficam para mais tarde. 

sábado, 11 de novembro de 2017

POIS! diálogos imaginados

- ... mas oh! doutor... esses remédios e esse tratamento - diga-me com franqueza! - é por quanto tempo?
- oh! meu amigo!... isto vai ser para  sempre...
-... ... ... ah!, já percebi... é até nunca!
- POIS!

quinta-feira, 9 de novembro de 2017

Brevíssimo registo e reportório de fases e frases de um viver a dois (1+1)

  • às vezes bem, outras assim-assim, quase sempre em coexistência pacificada


  • depois de uma refeição - sempre a duas velocidades (como a "Europa"!), uma a 200 à hora, outro "au ralenti" quando não em ponto mort(iç)o... -, diz ela "vou lavar os dentes...", enquanto ele, entre dentes, vai mastigando - desesperadamente devagar - a sobremesa


  • depois de um curto (como é que ele sabe se dormiu um costumeiro tempo de sesta a deshoras?) serão-sofá-e-televisão, diz ela "vou deitar-me e ler um bocadinho...", e ele responde "até já..." que é, sempre, para pelo menos 3 horas depois e muita computação


  • isto, claro! - e além, claro... - dos mútuos e universais "boa noite, dorme bem!" e "bom dia, dormiste bem?"

quarta-feira, 8 de novembro de 2017

GRITA, AGITA, VIVE

Normas anormais

cala as palavras ocas
evita os gestos inúteis
foge dos tempos mortos

diz as palavras necessárias
faz os gestos simples
agarra os tempos todos

nunca pares
olha sempre
escuta os outros!

e parecia uma festa!

AO SOL DO VERÃO DE S. MARTINHO

Abelhas, vespas e zangões
aos milhões…
e uns mosquitos pequenitos
a comporem o ramalhete
da esvoaçante fauna em agitação
num assalto espectacular
à flora em sossegada gestação
... e sem me deixarem repousar
na desejada (e frustrada!) sesta

no desfrute do final da feijoada

e havia sol! e parecia uma festa!

domingo, 5 de novembro de 2017

GLOSA para "no meio do caminho"


NO MEIO DO CAMINHO do anónimo do século xxi


Para este domingo


No Meio do Caminho
Carlos Drummond de Andrade

No meio do caminho tinha uma pedra
Tinha uma pedra no meio do caminho
Tinha uma pedra
No meio do caminho tinha uma pedra

Nunca me esquecerei desse acontecimento
Na vida de minhas retinas tão fatigadas
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
Tinha uma pedra
Tinha uma pedra no meio do caminho
No meio do caminho tinha uma pedra.



NO MEIO DO CAMINHO das minhas infatigáveis memórias

Num dia de 1982 (faz mais dia menos dia de há 35 anos), num sala de um teatro da Praça de Espanha, na apresentação da 1ª edição do MEMORIAL DO CONVENTO, José Saramago começou a sua fala, na voz um pouco gaguejada, a dizer aos amigos que o acompanhavam que "no meio do caminho tinha uma pedra...",  e leu o poema do Carlos Drummond de Andrade. A pedra no meio do caminho do Zé chamava-se Convento de Mafra e muito o acompanhou para o resto do caminho que ele percorreu.
"Nunca me esquecerei desse acontecimento/Na vida de minhas..." infatigáveis memórias.

quarta-feira, 1 de novembro de 2017