faz de conta que o que é, é!... avança o peão de rei.

...
o mistério difícil
em que ninguém repara
das rosas cansadas do dia a dia.

José Gomes Ferreira

sexta-feira, 28 de dezembro de 2018

Serei?...


Sou um cidadão comum,
cidadão como um,
que aprendeu com a vida
a ser apenas e tudo isso:
um cidadão comum,
como um e como todos.

Sou um cidadão comum,
cidadão como todos
os de antes e os de depois,
os de antes de eu ter sido
e os de depois de eu ter sido
este cidadão comum.

Como todos e como cada um,
ou seja (se for...),
todos e cada um
de antes de eu ser,
enquanto sou,
e depois de eu ter (s)ido.      

quinta-feira, 25 de outubro de 2018

Para reflexão e uso próprio


CIDADANIA(S)
uma leitura


A perspectiva-concepções que o ser humano vai formando e tendo – de si próprio, da vida, do mundo –  extrema-se entre o olhar para o umbigo pelo interior das suas entranhas, todo enrolado dentro de si, e o que sente e vê com os olhos atirados para fora só a verem à volta, abaixo e arriba, uns verdadeiros cata-ventos.
Outras imagens poderiam ajudar a estas redutoras simplificações e adjectivações. Como a de observar ao microscópio as minúcias invisíveis ou a de usar lentes macroscópicas para ver o que o olho desarmado nem vislumbra à distância de anos-luz. Como a de o ser humano muito se preocupar e só se ocupar com ninharias, ser um coca-bichinhos, ou de o ser humano de tudo se despreocupar, nada o ocupar, ser um cabeça-de-vento.

Não juro, mas estou quase certo que não há casos estremes, exemplares puros. Toda uma imensa gama se estende entre as duas fronteiras. Diria mesmo que cada ser humano é – enquanto é – único.
Depois, nessa misturada que forma e em cada momento transforma o ser humano, nessa miscigenação de genes e de circunstâncias que cada um é, há encontros, desencontros, e encontrões. Há o com-viver, há a socialização. A cidadania…

As cidadanias (a vivência em colectivo, socializada, nas cidades pelo mundo) sempre mais próximas – por terra, por mares, por ares, por ondas… magnéticas ou o que são ou vierem a ser – e sempre mais interdependentes. Interdependência assimétrica mas interdependência inevitável e inelutável.

Com a informação a ganhar cada vez mais determinação.

Em que mundo vivemos?, como o humanizar?
… ou como, um-a-um e em grupo(s), impedir que se deshumanize (mais…), ou – até! – que se destrua?


23/24.10.2018

terça-feira, 2 de outubro de 2018

LIVRES E “À SOLTA”



De pólvora seca?

Estarei a “queimar os últimos cartuchos”…
Mas, que querem?..., ninguém me convence que já não tenho cartuchos para queimar e que, lá por serem os últimos, não vale a pena dispará-los.
Não seria disparatado disperdiçá-los?


Com dores

À maneira de (uma) Pessoa (qualquer):

Qualquer pessoa,
quanto mais velha
mais finge sofrer as dores que deveras sofre.


Muito aquém…

Há muito quem se diga “de esquerda”
            porque não gosta de desigualdades e injustiças
            porque não é racista
            porque não sofre de homofobia (pelo contrário)
            porque gosta de bichos e do resto da natureza
           
E tenha, ainda, outras qualidades…
… mas não vai além!                                


terça-feira, 11 de setembro de 2018

EM VELHO CIMENTO


EM VELHO CIMENTO

Envelhecer é fácil. É rápido. É para milhões. Mas não é para todos… há os que ficam pelo caminho.
O que é difícil é em-velho-ser. Pessoalmente, o que é mesmo muito complicado é o estado em-velho-sou.
Em que estou. De passagem.
E é duro saber que se vai, não tarda muito, “sair de cena” (Philip Roth).
Angustia a consciência de estar “no caminho do nunca” (Jaime Gralheiro, sem interrogação). Tantos passos e gestos e actos que nunca mais, embora lendo e escrevendo “nunca digas nunca mais” (em todas as línguas).
Não amacia estas ásperas certezas e as sempre menos vésperas “um homem sorrir à morte com meia cara” (José Rodrigues Miguéis).
Pouco vale o recurso a citações de prosadores (como de poetas abundaria… já Bocage não sou…) e tentar exercícios de estilo originais e perenes.
Melhor se diria prosa(de)dores. Que elas tantas são, por fora e dentro do corpo, que mais que enumerá-las melhor seria dizer o que não dói!

D’esta Festa em que me vi(vi) em-velho-sido.
10.09.2018

terça-feira, 24 de julho de 2018

Mounti - 23-07-2018


Aqui te nomeamos 
patrono deste blog,
agora que desceste das alturas,
ao contrário do que dizem algumas vozes...,
agora que mergulhaste no chão e no nada,
agora que apenas vives em quem vivo te queria.
Assim, assumimos por inteiro a consigna 
- sempre atento, nunca venerador, a nada obrigado -
que em tua postura encontrámos,
e nos ajudou a manter e reforçar nossa,
nestes tantos anos que con(nosco)viveste.

(temos muito melhores fotografias mas esta acompanha-nos
desde 2007, e tem o tom enevoado dos dias de hoje)



sábado, 7 de julho de 2018

Não-protagonista

Nunca fui espectador passivo.
Sempre procurei ser, pelo menos, crítico e participante da plateia ou com tarefas no palco, ser cidadão responsável e interveniente. Paguei, e pago, alguns custos e custas.
Nunca protagonista, tive - e tenho - alguns papeis relevantes, algumas vezes fazendo sombra (de sombrinha, guarda-chuva ou para-raios...) a 1ªs, figuras.
Hoje, cá por coisas e memórias, sinto-me - guardadas as devidas distâncias - um pouco em figura de Sancho, de dr. Watson, de Friedrich!


quinta-feira, 28 de junho de 2018

espreitad'eus

aqueloutro homem que eu espreito a espreitar-me naquele espelho onde me queria ver sou ainda eu?

domingo, 20 de maio de 2018

Um texto antigo, esquecido e recuperado


CADEIRAS ENTRE 2 TABULEIROS

As cadeiras, assentes em duas das suas quatro pernas, acabrunhadas sobre as mesas e sem terem quem nelas se (as)sentasse, puseram-se a conversar. Para passar o tempo…
Até que uma, ao espreitar ao redor, o chão e a parede mosaicados em quadrados pretos e brancos, teve uma ideia “… e se nós aproveitássemos a folga e as quadrículas, e fossemos jogar uma xadrezada?”; vai daí, outra disse “boa ideia!… mas essa coisa do xadrez é muito complicada … talvez às damas…”; logo uma mais rabitesa veio de pronto resmungar “… ao xadrez, às damas!… cadeiras a jogar, a imitarem quem nelas s’assenta!, onde é que já se viu?, só de cadeiras tontas…”.
Nenhuma lhe ligou, embora a da ideia tivesse ficado um bocadinho sentida (cadeira que não se sente não é filha de boa gente, né verdade?…), e começaram a organizar um torneio. A formar equipas e, curioso…, todas queriam ser do Boavista por ser axadrezado.
No entanto… no entanto, antes de iniciarem o torneio, ainda houve uma cadeira que se levantou do assento e colocou uma questão pertinente: “jogamos no chão ou na parede?”.
Ficaram perturbadas. Ao chão não chegavam por causa das pernas altas, na parede, o tabuleiro ficaria torto e até as rodelinhas brancas e pretas que podiam fazer de conta que eram damas escorregariam… quanto mais com reis e rainhas, e bispos, e torres, e cavalos, e os peões, todos aos saltos e a comerem-se uns aos outros.
Ainda tentaram – só com as damas… – mas foi uma confusão ao quadrado, isto é, aos quadradinhos. Ensarilharam as pernas todas, as de umas nas de outras, e ficaram num monte. À molhada, como se costuma dizer. Mas quem disse a última palavra foi a rabitesa resmungona que disse “… eu não vos disse, suas cadeiras tontas?!”
Zambujal

segunda-feira, 16 de abril de 2018

nada, tudo, pouco e mais à moda de malmequer(o)

comigo, quando nasci, não nasceu NADA
comigo, quando morrer, não morrerá TUDO
... entretanto,
enquanto viver
- entre NADA, TUDO e tantos -,
sou, e terei sido, POUCO

frustre por convicto de poder ser MAIS
Dos que nasceram no "meu tempo"

Uns nem deram os primeiros passos
outros começaram a andar
alguns meteram-se a caminho

Destes,
uns desistiram no difícil caminhar,
outros demitiram-se ou meteram-se por atalhos
alguns teimaram e continuam,
a par e passo

Eu?
sempre quis estar com estes,
tropeçando (sem nunca cair),
levantando-me (se preciso fosse),

ombro com ombro, braço dado,
cabeças levantadas, vozes ao alto
rumo certo e passo acertado.

Em tudo e em todas!
Porquê, então, em nada fiquei?
Não que tenha estado para ficar,
mas sim para ESTAR e SER!
FUI, mas parece que não estive...

domingo, 15 de abril de 2018

procurando desencurralar-me


Uma “curralada”:

coloco-me fora de mim
            (como o outro que quero ser)
a procurar ver como os outros me vêem

domingo, 25 de fevereiro de 2018

Dias úteis e anos in úteis

Útil idade dos dias
a contra pôr
à inútil idade dos anos

EUquações

EU = a eu E tu-outros
... o que é muito diferente de
EU = a EU + TU + Tu + tu + tu + tu + ... os outros

segunda-feira, 19 de fevereiro de 2018

domingo, 18 de fevereiro de 2018

quarta-feira, 7 de fevereiro de 2018

Num dos regressos a/do nicky (o outro)

2018-01-24


Ao Marcelo. Na miséria álacre em que existem - e em que não pouco consentem existir -, os gentios rogam-lhe: afecta-me mais um bocadinho, vai. Como se cantassem tout va très bien, madame la Marquise. Ou o caralho. Nicky Florentino.

terça-feira, 23 de janeiro de 2018

leão que já fui - 3: CTT e serviço público

Era uma vez um rapazito que vinha passar temporadas de férias à aldeia natal do pai. E como eram longos os verões daqueles verdes anos!
Amante do desporto, em acepção boa do vocábulo, o jóvem era sportinguista ferrenho embora não fanático. Como então o futebol também tinha férias, a que se chamava defeso, no verão o interesse pelos acontecimentos desportivos centrava-se no ciclismo. De que era exemplo o que acontecia lá por fora – isto era, por França… –, em que o jornal L’Equipe organizava o Tour para preencher o vazio informativo de um jornal diário desportivo em país sem futebolistas a jogar e sem negócios de transferências (e outros de outras espécies!) para encherem primeiras páginas.
A memória de quem foi esse rapazito traz-lhe a lembrança da ansiedade com que acompanhava as etapas diárias da Volta a Portugal, as vitórias ao sprint do João Lourenço, as escaladas da Serra da Estrela, o Alves Barbosa e o Ribeiro da Silva, herdeiros dos históricos Nicolau (do Benfica) e Alfredo Trindade (do Sporting).
Mas com que dificuldades! Rádio não havia, televisão nem se sonhava, jornais só na sede do concelho e com dias ou até semanas de atraso, sem transporte público (nem privado) para tornar perto a légua de distância. O melhor – ou o menos pior, visto a esta distância de tempo – eram os correios, um serviço público.
E o rapazito, determinado e com a necessária resignação, lá fazia a pé o percurso do Zambujal a Pinhel, à venda do ti’ Francisco da Reca, que tinha posto de correio, levar e trazer a correspondência (como postais dos pais, quando o deixavam ao cuidado da família de outro ti’ Francisco, este de Santo Amaro, em S. Sebastião, ou da família do ti’Zé Alfaiate, ainda mais vizinha)… e do jornal de que fizera assinatura, o jornal do Sporting. Também, quando calhava – e sempre fazia por isso –, para se encontrar e cavaquear com os filhos da casa de Pinhel, o Zé, o Quim, o Amilcar, e os vizinhos Moreira ou Flores (os “Bichos”), em S. Sebastião, o Manel, o Chiquito, as irmãs Maria e Luiza. Se bem se lembra, todos sportinguistas. Vá lá saber-se porquê, talvez por culpa dos 5 violinos…
Entretanto, passaram anos (passam sempre, embora a velocidades sempre mais rápidos…), na vila rasgou-se uma avenida onde veio avultar o edifício dos Correios, que ainda se mantém como referencial. Tudo começou a ficar muito mais perto, com a ajuda, primeiro da bicicleta, depois, do automóvel que já parece ter sempre feito parte da vida de todos nós.
Muito foi acontecendo nos anos que nunca cessam de se suceder. O miúdo cresceu, e tem veleidades que não só por fora. E aprendeu, aprendendo sempre. Andou, correu, caiu e levantou-se na procura de caminhos de, ou para o, futuro. Crendo estar a percorrê-los. Com os outros. Com todos, que de todos os caminhos são.   
Abriu uma estação de correios na Atouguia, sede da freguesia. Toda impante. E sempre que lá tinha de ir – de carro, claro –, para fazer envios ou levantar avisos deixados pelo carteiro porta-a-porta, o rapazito a em velho ser lembrava as caminhadas até Pinhel e rejuvenescia com a satisfação cidadã de estar a dar passos num caminho para o futuro que ajudara, infinitesimamente, a construir. Estava a usar um serviço público cada vez mais ao serviço do público, do povo!
Por isso o chocou (e protestou, com a sua pequena força a querer juntar-se à de muitos para serem e terem força) a privatização dos CTT, e a sequente degradação do que sempre conhecera como serviço público, primeiro incipiente e depois progressivamente melhorando. E, veja-se lá, sendo empresa pública com uma gestão económica de folgados resultados positivos a contribuírem para outros serviços públicos, como os da saúde e da educação.
Triste ficou, tristeza que confirmou quando até o remendo do serviço, que passara a ser (em)prestado numa lojita da Atouguia, encerrou! Tem de ir a Ourém, ao vetusto edifício da Avenida que ainda resiste, em risco de ser pretexto para um negócio qualquer, desde que lucrativo e que encha os atafulhados bolsos dos accionistas ditos investidores privados.
Sente-se, quem já velho é, a dar passos atrás. Mantendo firme a certeza de que o caminho é de luta e em frente.

segunda-feira, 8 de janeiro de 2018

Lembrete

- ... logo à noite, lembra-te, por favor, de me lembrar de lembrar ao senhor José que não se esqueça dos chorões, 'tá bem?
- Tá bem, vou tomar nota para não me esquecer de te lembrar.

A escrituracao digitalizada

Hoje, agora mesmo, deixei-me actualizar pelo “sapo” e apanho com esta, tirada do Público:
 “Um ano depois: Soares e a caca…” 
não consegui ler mais, e ainda não parei de rir!
A falta (fará?) que faz uma , debaixo de um c...