faz de conta que o que é, é!... avança o peão de rei.

...
o mistério difícil
em que ninguém repara
das rosas cansadas do dia a dia.

José Gomes Ferreira

terça-feira, 5 de dezembro de 2017

Há quantos séculos!

Oh! Terra e gentes!

Oh! terra e gentes de ilimitada fé
 em sebastiões, que – alfim – voltem do nunca mais,
em henriques, que façam dobrar cabos e gentios,
em 1ºs de Dezembro, que restaurem independência e soberania,
em marqueses, que venham cá abaixo ver isto,
em republicanos, que curem e não acresçam desmandos monárquicos,
em salazares, que saneiem finanças e ponham tudo em estado novo,
em colonialistas, de face humana e sem cor do Minho a Timor,
em militares de Abril, que unidos venceriam pró nobis,
 em soares e quejandos, que semnosco nos levariam à Europa,
em carneiros, amarais, cavacos, portas e outros que tais,
em constâncios, durões, guterres e parecidos figurões
            como, agora, costas e centenos, excelsos na euro-escanção
a belo exemplo do salvador das euro-canções,
            dos recém finados Belmiro, o maior da falcatrua e exploração,
                        e zé-pedro dos pontapés e chutos diversos
isto para não falar de futebóis
com eusébios, figos, ederzinhos (quem foram?)
e todos são ronaldos enquanto marcarem golos,
 alimentarem ilusões e, a prazo, criarem desiludidos passivos.

Oh! gentes!

quantos séculos já temos?  

quarta-feira, 29 de novembro de 2017

leão que já fui -2

"Leão" fui. Cedo me tornei "doente". Em Ourém tinha de ser…. Se em casa o ambiente nada tinha de futebol, houve amigos que muito contribuíram para que o "bichinho" se infiltrasse... 
(eu conto)

2. Meu pai era homem de muitos amigos. Viera cedo para Lisboa, emigrante que fica por perto. Que não se afasta das raízes. Sozinho na grande cidade, com gosto de viver, associativo por maneira de ser, depressa se integrou. No Ateneu Comercial, em colectividades de bailes, jogo (sem pisar o risco do vício), convívio e começo de farras que entravam pelas madrugadas. Mas, entre os amigos mais próximos, estavam sempre “os de Ourém”. Sempre contou coisas – “aventuras de solteiro e bom rapaz, trabalhador e honrado” – em que entrava um Tomás Casimiro ou outro “lá da terra. Primeiro do Zambujal a fazer a 4ª classe, não era homem de muitas leituras, embora fosse de algumas e gostasse muito de teatro.
Tendo casado tarde para a época, aos 35 anos, com a mais nova de três irmãs, depois de se ter sentido atraído pela mais velha, divorciada e… atraente, desse casamento nasci eu, que filho único fiquei, depois de uma gravidez frustrada e sempre lembrada.
E que tem isto a ver com o Sporting e o leão que fui… e talvez ainda seja?
É que, entre os amigos de meu pai, amizade nascida em Ourém e que passara a ser da família, estava o casal Figueiredo e seus 4 filhos – a Maria Antónia, a Fernanda, o António Eduardo e o Luís –, que verdadeiramente me adoptaram. Sobretudo o mais novo, o Luís, que é o primeiro amigo de que me lembro. Pois o “Licho”, como lhe chamava o miúdo que eu era - o que achavam uma gracinha… -, era todo sportinguista, talvez para se afirmar face ao mano António Eduardo, poucos anos mais velho, que era ferrenho benfiquista e tanto era que chegou a dirigente do clube.
Então o Luís Figueiredo fez deste seu amigo, mais novo 7 ou 8 anos, o companheiro e cúmplice na rivalidade entre verde e vermelho, embora décadas mais tarde nos tivéssemos encontrado no lado vermelho das lutas sociais, e convictos de estar no lado certo da vida.

O facto é que a essa primeira amizade, que se prolongou vida fora, e ao seu exemplo e aliciamento, se deve eu ter sido o “leão de Ourém”. Há até uma fotografia – onde estará ela?! – em que o Luís (rapaz espigadote) e eu (miúdo) passeamos nos Castelos (de Ourém, claro!), numa qualquer visita das famílias “à terra”.       

terça-feira, 28 de novembro de 2017

Que trabalhêra!


Eh!, pá... vai à Diva (passe a publicidade!), vou lá eu e o Manuel "Cartucho".

segunda-feira, 27 de novembro de 2017

O corpo é feito de mudança

A cortar as unhas (das mãos... que as dos pés já não!):

que se passa?
não o faço dia sim/dia não
(mas também não é ano sim/ano não!)
e surpreendem-me as mudanças,
não nas mãos
(nem na tesoura...)
mas sim nas unhas.
Na verdade,
já antes o fazia
(quantas centenas de vezes o fiz?!...)
e não notava nada entre os cortes;
mas agora não,
agora noto (e anoto!) as mudanças
por tão rápidas serem:
ele muda o formato,
ele muda a textura,
cada vez mais duras...,
ele muda a consistência,
ele muda a resistência ao corte,

ele o que muda, decerto, é a idade do corpo!

domingo, 12 de novembro de 2017

leão que já fui -1

"Leão" que já fui. E "doente". E "leão de Ourém" (tinha de ser...)

Nasci e cresci em ambiente nada desportivo e futebolístico. Mas o "bichinho" foi-se infiltrando... 
(já conto)

1. Filho único em família pequeno-burguesa, cedo senti o peso e a responsabilidade de vir a ser a realização dos seus sonhos frustrados, por inalcançáveis. Enquanto eu criava os meus próprios sonhos. Por vezes, sonhos em fricção surda ou até em conflito calado. Uma eterna questão: a de se querer que outros (e os nossos, antes de todos!) sejam ou façam o que não pudemos ser ou fazer. Mas adiante...

Meu pai gostava que eu o acompanhasse, e eu - miúdo  - gostava de o acompanhar. Um dia, tinha aí 6/7 anos, sem saber ao que ia fui com ele a um campo de futebol. Já no local, para mim novidade, explicou-me que estávamos numa festa de despedida do Adolfo Mourão, seu colega de trabalho na Gomes & Rodrigues, Lª (no Largo D. Estefânia), como jogador de futebol do Sporting... pois já chegara aos 30 anos.
Foi assim que assisti, com o encantamento das primeiras descobertas, ao primeiro jogo de futebol e a todo o cerimonial de uma homenagem a um grande jogador.
Vim a saber, logo que me foi possível (e agora confirmo pelo Google!), que Mourão tinha sido extremo-direito do Sporting desde os 16 anos, e internacional 17 vezes num tempo em que havia poucos jogos desses, e que um deles fora um "amigável" contra a Alemanha em 1936 (em que o Adolfo se não teria sentido deslocado... mas teria estado entre os seleccionados portugueses que, no Jogos Olímpicos que se seguiram em Berlim, não fizeram a saudação nazi).
Ao longo da adolescência fui-me informando e criei uma "cultura" desportiva-futebolística (ou memória) que por vezes me surpreende. Como agora, em que sei - sem recurso a qualquer ajuda ou "cábula" - que quem substituiu Mourão como extremo-direito do Sporting foi Armando Ferreira, que terminou cedo a sua carreira de futebolista por ter fracturado um menisco, e depois Jesus Correia, que também jogava hóquei no Paço d'Arcos... e trabalhava no Grémio dos Armazenistas de Mercearia.
E assim chegamos aos "5 violinos", mas estas (boas) recordações ficam para mais tarde. 

sábado, 11 de novembro de 2017

POIS! diálogos imaginados

- ... mas oh! doutor... esses remédios e esse tratamento - diga-me com franqueza! - é por quanto tempo?
- oh! meu amigo!... isto vai ser para  sempre...
-... ... ... ah!, já percebi... é até nunca!
- POIS!

quinta-feira, 9 de novembro de 2017

Brevíssimo registo e reportório de fases e frases de um viver a dois (1+1)

  • às vezes bem, outras assim-assim, quase sempre em coexistência pacificada


  • depois de uma refeição - sempre a duas velocidades (como a "Europa"!), uma a 200 à hora, outro "au ralenti" quando não em ponto mort(iç)o... -, diz ela "vou lavar os dentes...", enquanto ele, entre dentes, vai mastigando - desesperadamente devagar - a sobremesa


  • depois de um curto (como é que ele sabe se dormiu um costumeiro tempo de sesta a deshoras?) serão-sofá-e-televisão, diz ela "vou deitar-me e ler um bocadinho...", e ele responde "até já..." que é, sempre, para pelo menos 3 horas depois e muita computação


  • isto, claro! - e além, claro... - dos mútuos e universais "boa noite, dorme bem!" e "bom dia, dormiste bem?"

quarta-feira, 8 de novembro de 2017

GRITA, AGITA, VIVE

Normas anormais

cala as palavras ocas
evita os gestos inúteis
foge dos tempos mortos

diz as palavras necessárias
faz os gestos simples
agarra os tempos todos

nunca pares
olha sempre
escuta os outros!

e parecia uma festa!

AO SOL DO VERÃO DE S. MARTINHO

Abelhas, vespas e zangões
aos milhões…
e uns mosquitos pequenitos
a comporem o ramalhete
da esvoaçante fauna em agitação
num assalto espectacular
à flora em sossegada gestação
... e sem me deixarem repousar
na desejada (e frustrada!) sesta

no desfrute do final da feijoada

e havia sol! e parecia uma festa!

domingo, 5 de novembro de 2017

GLOSA para "no meio do caminho"


NO MEIO DO CAMINHO do anónimo do século xxi


Para este domingo


No Meio do Caminho
Carlos Drummond de Andrade

No meio do caminho tinha uma pedra
Tinha uma pedra no meio do caminho
Tinha uma pedra
No meio do caminho tinha uma pedra

Nunca me esquecerei desse acontecimento
Na vida de minhas retinas tão fatigadas
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
Tinha uma pedra
Tinha uma pedra no meio do caminho
No meio do caminho tinha uma pedra.



NO MEIO DO CAMINHO das minhas infatigáveis memórias

Num dia de 1982 (faz mais dia menos dia de há 35 anos), num sala de um teatro da Praça de Espanha, na apresentação da 1ª edição do MEMORIAL DO CONVENTO, José Saramago começou a sua fala, na voz um pouco gaguejada, a dizer aos amigos que o acompanhavam que "no meio do caminho tinha uma pedra...",  e leu o poema do Carlos Drummond de Andrade. A pedra no meio do caminho do Zé chamava-se Convento de Mafra e muito o acompanhou para o resto do caminho que ele percorreu.
"Nunca me esquecerei desse acontecimento/Na vida de minhas..." infatigáveis memórias.

quarta-feira, 1 de novembro de 2017

terça-feira, 31 de outubro de 2017

COM VIVENDO

A boçalidade
é de qualquer idade!
Desde que boçal tenha sido feito
(pelos genes mais as circunstâncias)
o ser que, hoje, é boçal!

sábado, 28 de outubro de 2017

ambiguidades e outras coisas - (talvez só pela 1ª vez...)

por culpa e em intenção do Jorge Esteves


Aqui vamos nós a LEVANTAR FERRO do Porto.
Demos CORDA AOS SAPATOS no "expresso" da RN em dia de Expresso impresso semanal, mas que não comprámos sabedores que a edição à venda na INVICTA CIDADE não comporta o anexo regional em que miramos o Mirante lá da terrinha,
Quanto a "dar corda aos sapatos", tenho é de os "atacar" porque estes que calço lá no fundo das pernas ainda são dos de atacadores e laço como já poucos o são embora quase todos os calcantes de PARES DE BOTAS usem atacadores, menos - claro - nos BOTAS DE ELÁSTICO. O que é um anacronismo (mas isto é para outra crónica...).
E apesar de não fazer ideia de como seria isso de "dar corda aos sapatos", ainda me lembro de quando tinha de DAR CORDA AOS RELÓGIOS*, o que já não se faz porque agora eles, os relógios, ou estão no telemóvel, ou no computador ou onde menos se espera (no micro-ondas, por exemplo), e funcionam ou  sozinhos (ligados à corrente...) ou por pilhas e, no caso destes, há que, de vez em quando, CARREGAR AS BATERIAS. Esta tem PILHAS DE GRAÇA (para quem?), o que, no CASO VERTENTE (para onde?) não é o caso pois não há pilhas (nem baterias... não querias mais nada?) grátis, indo contrafeito na onda de um cretino que diz que NÃO HÁ ALMOÇOS GRÁTIS!
Em contrapartida chegámos ao fim deste texto COMPRIMIDO que se se pode comprar de graça (obrigadinho) e tomar (ORA TOMA!") sem receita médica.

* - a propósito: hoje teremos de ACERTAR TODOS OS RELÓGIOS PELA HORA DE INVERNO! 

terça-feira, 26 de setembro de 2017

Os surdos ou ensurdecidos

É curioso (?!):
falam muito (e muito alto) mas não falam com ninguém...
ou, se parece que estão a falar com alguém, não ouvem ninguém!

Paráfrase

Alguém terá dito (um Mark Twain, Bernard Shaw, Grouxo Marx, Woody Allen...  ou outro dos que dizem coisas destas) que há três espécies de mentiras e uma delas é a mentira estatística. Eu, que também gosto de dizer coisas, parafraseio: ele há a mentira inventada, ele há a mentira que falsifica a verdade ou a põe de pernas para o ar, ele há a mentira estatística, com a sub-espécie mais usada na actualidade que é a mentira monetarizada, subdividida em ramos como o da cont(h)abilidade e a da dívida utilizada como armadilha.
Sobre os factos alternativos à la Trump falar-se-á noutra oportunidade. Que abundam. Perigosamente. 

segunda-feira, 11 de setembro de 2017

Adrede e adrenalina

"Fazer política" pode ser a coisa mais bonita a fazer porque é estar ao serviço dos outros, é ajudá-los a humanizarem-se, é ser o outro. 
"Ser político" é a "carreira" mais desumanizada de todas quando (e porque) feita a enganar, ludibriar, manipular outros e os outros, a servir-se dos outros.

sexta-feira, 25 de agosto de 2017

O TEMPO, A VIDA, A MORTE, O NORTE

sempre grato ao R.R.


O TEMPO DE AGORA

Quando penso,
              ou digo,
              ou escrevo
                                 AGORA
o primeiro A já é passado
no triplo salto para o futuro,
para o último A...
que logo logo passado é 
e acabou o tempo daquele 
                                           AGORA
mas logo logo chega outro,
até se esgotarem agora mesmo!

sexta-feira, 11 de agosto de 2017

AS MORTES A DESTEMPO - página de um livro quase acabado

INTERVALO PARA UM LÁGRIMA

De súbito, neste desfiar de memórias, os dedos suspendem-se sobre as teclas e em vez de descerem para continuar os contares e as contas  deste rosário, antes de passarem pelo emaranhado dos cabelos, retém-se nos olhos, a secar uma lágrima. Não das artificiais que o muito uso começou a exigir, nem das reais que por vezes se soltam na comoção de um momento.
Uma lágrima cá bem de dentro e fundo. Ao lembrar gente e amizades ligadas ao que as recordações me trazem.
Têm os nomes do Zé Casanova, do Herberto, do João Honrado, do João Lourenço, do Bino Peixoto, agora, há dias, da Isabel M.. Sim, têm estes nomes de quem morreu, talvez a seu tempo embora sempre brutal surpresa. 
Mas, neste escrito, neste intervalo do que escrevo, são as mortes a destempo que me preenchem. 
A do Flávio, e o seu telefonema do hospital para a Festa do Avante!, a sua vida cheia de força, de esperança, de futuro que construía para si-e-os outros, o meu neto de Somos todos netos de Abril; a do João "Barrote", sempre discreto, sempre presente, sempre amigo, sempre como que a apagar-se, um pouco perdido, solidário e solitário, quase diria desistente; a do Paulito, a vê-lo aqui em casa, na véspera das férias e da que se seria a sua última, estúpida, viagem, com o seu entusiasmo contagiante, a falar de projectos, a exigir ideias e trabalho… de teatro, pois de que havia de ser?

Às vezes, é difícil reter as lágrimas que não se choram. Que ficam na garganta e que, ao serem lidas as palavras escritas, estrangulam a voz.

Os dedos descem, tristes mas resistentes, com destino a estas teclas. Para me continuar. Enquanto. E por eles. e por todos.  

segunda-feira, 31 de julho de 2017

GLOSAS DE GOZO... em toalhas de papel

OS  FALS(ÁRI)OS

OS FALSIFICADORES

OS  QUE FAZEM (DE) CONTAS

O QUE FAZ FALTA É AVISAR A MALTA!

sábado, 22 de julho de 2017

Histírórias ante(s)passadas - 46 VISITAS - o 2º esquerdo

A DONA LAURA

A Dona Laura era a vizinha do 2º esquerdo. Era a esposa muito senhora esposa do senhor Armando Mendes, homem discreto, apagado, e era a extremosa e preocupada mãe do Armandinho, um dos miúdos do prédio, com mau aproveitamento escolar, estudante de violino mas mais dedicado - muito mais… – à viola e suas variações, a que se entregava no tempo que deveria ser, segundo a Dona Laura, para os deveres escolares e o estudo dos clássicos do violino, seus concertos e sinfonias.
A Dona Laura era uma senhora. Que pontificava, sem alardes ou alarido, no prédio da Rua do Sol ao Rato, que mudara de 85 para 27 na ordenação toponímica. Impunha-se pela postura de Senhora Dona.

Os miúdos do prédio – o ZéLuís, meu primo, também do 2º andar mas direito, os dois irmãos do 1º andar esquerdo, eu do rés do chão – eram os companheiros do Armandinho. De escada e quintal ao rés do chão nosso.
A Dona Laura tinha as suas referências e preferências. Para exemplo do Armandinho. Eu seria um deles. Um rapazinho atilado, bom aluno, um menino que gostava de ler, que brincava mas era comedido e aproveitava o tempo. 
E foi discreta mas clara na solidariedade para comigo no meu pesar por o meu pai não ter comprado o violino para que eu parecia ter jeitinho, tal como ela fizera para o seu Armandinho. Decisão de que não se conhecia o contributo e opinião do senhor Mendes. Se é que este os tivera...
A Dona Laura era uma senhora. E acompanhava, cheia de simpatia (ou empatia?), a minha adolescência e começo de idade adulta. De (bom) exemplo para o seu Armandinho.

Quando voltei da prisão e fui ao prédio, visitei a Dona Laura. Contente e compungida, mostrou-me a sua incompreensão com uma pergunta insistente e intencional:
Não te percebo, não te percebo… o que é que TU queres mais?
Não lhe respondi. Ia lá ela perceber que o mais que queria era, SÓ!…, contribuir para mudar o mundo sempre em mudança, ajudá-lo num rumo de humanização.

A Dona Laura era uma senhora. 

quinta-feira, 6 de julho de 2017

S.O.S.!

E SE EU,
O GAJO MAIS SENSATO
                          (SEM TATO*?),
COMEÇAR A FAZER DISPARATES,
         A NÃO DIZER COISA COM “CUSA”
                                               (COM “TUSA”?):

que o dinheiro não vale nada e, para o ter, parecer valer tudo
que mais valia ter estado quieto
que Maria vai com as outras
que já estou no tempo in illo…
que me sinto in loco (ou en louco si?)
___________________________________________________________________________

S.O.S.!
Preciso urgentemente de tranquil(a)idade

______________________________________________________________________

Estou em estado de sítio,

isto é, en CURRAL alado
___________________________________________

* - de acordo com o novo Acordo Ortográfico, apesar do desacordo

quarta-feira, 5 de julho de 2017

O (UM) QUE (NOS) FAZ (MUITA) FALTA

AO PAULITO
01.07.2017

com o Luís Costa

O QUE FAZ FALTA…

 S – Se me dão licença… pedia ao Luís Costa que me acompanhasse no que chamaria UM (curto) DUETO A TRÊS…
L – Por mim, pode ser!… mas…. para ser “a três”, falta um!
S – Pois é… e é precisamente O QUE nos FAZ  FALTA…
e o nome do dueto seria mesmo O QUE FAZ FALTA…
L – Já estou a perceber… e a sentir – como tu – a falta
daquele que nos faz falta.
S – Eu sabia que ias entender… que todos íamos entender
e sentir a falta do que nos faz falta.
L – ... e se faz!...
S – Pois… mas é assim a vida (ou o contrário dela)…
mas, quando não nos deixa fazer tercetos não se pode desistir!
... e fazemos duetos.
L – Pois claro. E é o que nos faz falta.
S – Já o cantava o Zeca Afonso…
L – Pois:     "O que faz falta é animar a malta
O que faz falta é acordar a malta
…"
S – Como diria também aquele que nos faz falta!
L – Siga a caravana de Ourém!
S – Mas… antes… para 
O QUE NOS FAZ FALTA
 um enorme aplauso

domingo, 25 de junho de 2017

grito no momento

ardeu, ardeu…
como todos os anos,
mas este ano (já) foi demais!
e ainda não tinha começado o verão.

morreram, morreram…
como era seu (e nosso) destino!
MAS… assim?,
ardendo numa fogueira insandecida,
anónimos e tantos?!

o espectáculo indecente da “informação”
no cenário de cadáveres carbonizados como adereço.
as palavras e os gestos habituais,
o cerimonial hipócrita da lágrima e das gravatas pretas.
tudo multiplicado pelo número de mortos,
pela quantidade de lares destruídos,
pelas dores e dramas reais.

luto nacional à medida das tragédias,
bandeiras a meia haste,
sentidos pêsames,
condolências formais e diplomáticas!

E depois?
No tempo das cinzas,
prossiga a dança!,
the show must go on
com adaptações no guião?

TALVEZ NÃO!

há sucessões e dimensões que provocam mudanças qualitativas!

domingo, 11 de junho de 2017

BREF!...

Bref!*

Breve,
breve me misturarei
no infinito tempo,
que é nada,
que é tudo!

Breve?
Aliás…
sempre breve fui,
desde sempre que fui e sou:
um passar único, irrepetível;
breve sempre,
mesmo e ainda quando o tempo era todo
… ou nenhum… ou sem medida.

Procuro que fique
a marca, a dedada, a pegada,
ainda que não reconhecida,
ainda que esquecida como minha
… mas que minha será,
Porque será do breve tempo em que fui.

--------------------------------------------
* - à la Brel, dit-elle... 
... mas não!, ou talvez sim...
... quantos milhões mais terei plagiado
nesta única – e breve – maneira

de dizer o mesmo que tantos disseram?

terça-feira, 23 de maio de 2017

Os amigos que partem

A Zairinho

foto com meu pai e comigo 
que ela me ofereceu 

domingo, 21 de maio de 2017

ÁMEN!

3 de Junho (de 1969!)

O sistema capitalista parece-me uma prova convincente de que Deus existe.
É tão iníquo que só pode existir graças a uma forte protecção divina.


José Gomes Ferreira
Dias Comuns - VII
Rasto Cinzento

terça-feira, 9 de maio de 2017

Ler a História!

Tenho uma leitura da História. Que não é a das sebentas escritas pelos cronistas dos tidos por vencedores.
Uma leitura pontuada de dúvidas, feita com os óculos das convicções.

terça-feira, 11 de abril de 2017

AQUI PARA AS CURVAS... E A LUTA

AQUI PARA AS CURVAS… E A LUTA!

Os dois amigos (e camaradas, sendo a ordem dos factores arbitrária… no caso) telefonam-se com frequência. Para conversarem, se entre-informarem, para desabafarem, muitas vezes em catarse. As conversas, habitualmente, prolongam-se e as orelhas (e o resto) de certos cavalheiros muito devem arder.
Ainda ontem (ou foi transanteontem?...)

- Viva!
- Vivos estamos…
- Isso vai?
- Claro… tem de ir! E já viste estes gajos…

(… o costume… actualizado… a escrita em dia… )

- … e a saúde?
- Do melhor! Calcula que tenho agora a chatice de renovar documentos todos os anos… Vá lá qu‘inda hoje recebi uns p’ra renovar daqui a 10 anos. Tenho receio de me esquecer…
- Eu lembro-te… É daqui a 10 anos?, em 2027?
- Em Março!
- Fica descansado…

(pequeno pormenor – se não é redundante –: 
um, está nos 82, o outro, o do documento para renovar em 2027, tem 87 anos!)


terça-feira, 14 de março de 2017

MARADO

"Traduzindo":

A MARADA DA VIDA!

os olhos
os dentes
o joelho
o "coiso"
as "coisas"
o interior
o intestino
o ânus
os anos!
a porra maravilha da vida
a marada da prolongada
                                  VIDA

sou um egoísta
gosto (desmesuradamente)
dos outros

domingo, 12 de março de 2017

(talvez...) Angústia

CONversar(!)
                           ... com quem?
                           ... de quê?

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2017

Des a bafo

Tanta coisa a dizer…

&-----&-----&


Tanta coisa a dizer AOS OUTROS!

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2017

No país, na Eurolandia, no mundo (provisoriamente!?) às avessas

Lido e saboreado (com algum amargor...) em Eduardo Galeano (1940-2015):













De pernas para o ar
- a escola do mundo às avessas















..

... à janela!

(Alice no país das maravilhas
Lewis Carroll (1932-1998)

sábado, 28 de janeiro de 2017

palavras ao vento

Demorei tanto a convencer-me que tinha feito 80 anos que quando dei por mim já estava com 81!

Quem de si se esconde perde a juventude.

Quem o feio desalma os bonitos beatifica.


domingo, 15 de janeiro de 2017

ao correr do tempo

Tive sempre (muito) jeito para jovem
                irrequieto, irreverente e esperançoso
Durante décadas cá me safei como adulto
                resistente e "adúltero"... mas coerente
 Falta-me ­– desconfio…  -  a vocação para velho
                arrasta-pés, resmungão, desistente

domingo, 8 de janeiro de 2017

CENAS DA VIDA DOMÉSTICA (ficcionadas)

(QUASE) FEBRIL

A juntar a sinais e sintomas anteriores, ele espirrou três vezes seguidas. Com espalhafato. Embora contido.
Ela respigou. Contida, mas visivelmente. Ou oralmente, com resmungo.
E, em voz alta, carinhosa (não tanto como a que usa para o gato…), decidiu
“… ´tás com gripe… vamos ver a febre…”.
Ele, enquanto metia o termómetro (não pelo lado que ela entendia ser o certo…), foi ripostando:
“… não sinto febre… estou apenas constipado, embora fortemente”.
E tossiu. Fortemente.
Sem mais palavras, passou o tempo necessário para a resposta do termómetro.
Que ele se apressou a ler, vendo o mercúrio entre os 36,8 graus e os 36,9 graus.
“36 e 8… não tenho febre!”, proclamou ele (um pouco) triunfalmente.
Ela pegou no termómetro, mirou-o, revirou-o com todo o cuidado, e concluiu:
“… mais para 36 e 9 que para 36 e 8… já se pode dizer que é febre… vais já para a cama, que eu levo-te um copo de leite quente com mel e um Ben-Uron!”

Ele foi.
Está melhorzinho. Da constipação…

sexta-feira, 6 de janeiro de 2017

Levanta a cabeça... ou

Se
- ao baixares a cabeça -
dos teus olhos se soltarem lágrimas (artificiais ou não),
do teu nariz pingar muco ou ranho,
da tua boca escorrer baba ou resmungo;

se as tuas mãos frias
e os teus dedos incertos
não tiverem outras coisas para nos dizer
ou não sejam capazes de o fazer...

Se não conseguires levantar a cabeça
(sem lágrimas, ranho, baba),
as tuas mãos não ganharem calor,
e os dedos continuarem a errar as teclas...

... desiste
- temporariamente! -,
pousa a cabeça numa almofada,
e vai dormir uma sesta!

quarta-feira, 4 de janeiro de 2017

Crónica de um amanhecer hesitante

Hesito, ergo existo. Olho lá para fora e não chove nem faz sol e, aqui ao lado, ela dedica-se às palavras cruzadas do avante! e protesta perante as gralhas (noutras horas do dia é face às do Jornal de Letras), depois da última etapa do seu pequeno-almoço que, de tão lauto, pequeno é que não é.
Hesito entre o voltar para a cama como me pede o corpo, ou começar pelo tratamento pingado nos olhos que pingam, ou tomar os “pózes” em copo cheio de água em preparação para a colonoscopia, ou banquetear-me com o meu pequeno-almoço que, de tão pequeno, nem de almoço merecia ter o nome após o hífen.
Hesito. Não me mexo de onde estou, e não tenho que me sói dizer porque calo (ou surdino) as queixas que são minhas e não comento aquelas suas com que ela se antecipou, isto depois – ou pelo meio – de alguns trocos sobre coisas várias e a bela crónica lisboeta do Chico Mota dedicada ao Zé Pires, que não foi obituário porque de 2004 mas como que antecipada homenagem ao amigo que trazia a morte (ou o medo dela) consigo.
Hesito. Ainda esboço levantar-me de onde vejo os verdes ainda húmidos e cinzentos para ir mudar de roupa, mas para quê se, daqui a pouco, quando for hora de sesta, vou dar uso ao pijama que agora me convida à redeita imediata. Fico-me pelo esboço ou intenção de acção. Deixo-me ficar assim… pelo menos mais um bocadinho.
Hesito. Mas… tenho de me decidir porque o relógio não pára de medir e de me dizer o tempo que passa por muito que eu o queira quieto. Como me apetece estar.
Reajo. Avanço, decidido – é como quem diz… – para as coisas a fazer, que inadiáveis são e adiadas estão. Pela hesitação.
Por ordem: copázio de água com “pózes”, duas pequeninas torradas com chá açucarado, esta crónica de um amanhecer hesitante.
Aqui está ela.
Vamos ao dia que a manhã vai alta! Ainda de pijama… e pingos nos olhos.

Comecemos pelos mails e pelos blogs.

segunda-feira, 2 de janeiro de 2017

arroubos sobre os rombos

Andámos dias proustianamente em busca da frase perdida. Acusando as idades do que não é mais que o papel destas: somarem anos, e SÓ um a um.
Depois, feliz da juventude recuperada pela memória, ela lembrou-se. Mas ele achou que não tenha sido bem assim. Ou que podia ser melhor...
Ficou assim (para memória futura):

Ele, o gato deles, de vez em quando esquece os rombos da juventude roubada e tem arroubos de arromba!... 
(é como nós, pensámos os dois) 
  

Recuperado ao acaso e por acaso

Todo o Mundo é Ninguém
ou Nada é Tudo
ou Tempo todo começa a ser Nenhum tempo

Todo o mundo: Estás pr’aí a estrebuchar…
Ninguém: Estou a ver se consigo…
Todo o mundo: A ver se consegues… só consegues é fazer-me rir… tristemente
Ninguém: Cala-te! Deixa-me… Deixa-me tentar… Deixa-me ver se consigo.
Todo o mundo: Então não havia de deixar… claro que deixo… Mas Ninguém me deixa rir? Ora essa… Todo o mundo deixa que Ninguém tente lá à sua vontade.
Ninguém: … mas se Todo o mundo me ajudasse…
Todo o mundo: Isso não! Nem penses...era só o que faltava… Todo o mundo a ajudar Ninguém… Tens cada uma! Ajudar-te?! A tentar o quê? Com quem? Para quem? Não vais conseguir Nada.
Ninguém: Contigo, com Todo o mundo talvez Ninguém conseguisse Tudo.
Todo o mundo: Comigo? Não contes com isso. Ninguém pode contar com ajuda. Todo o mundo tem mais que fazer…
Ninguém: O que é que tu, Todo o mundo, tens para fazer que te impede de ajudares Ninguém?
Todo o mundo: Nada. Mas dá-me muito trabalho. E que queres tu fazer?
Ninguém: Tudo… já te disse
Todo o mundo: Não tens tempo!
Ninguém: Tenho o tempo todo. Falta-me é a ajuda de Todo o mundo.
Todo o mundo: Pois é! Ninguém ajuda ninguém. E já não tens nenhum tempo. A culpa é só tua.
Ninguém: Eu sei! Ninguém carrega com a culpa de Todo o mundo. Nada consigo de tudo o que tento. O tempo todo já é nenhum tempo.

27.06.2003