faz de conta que o que é, é!... avança o peão de rei.

...
o mistério difícil
em que ninguém repara
das rosas cansadas do dia a dia.

José Gomes Ferreira

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Desato-me. E dato-me.

Acabei de almoçar. O resto do excelente bacalhau de ontem, aquecido no micro-ondas.
A Zé foi às suas artes-e-andanças das heranças, lá para os entroncamentos, e almocei sozinho. Estava óptimo o ex-bacalhau no forno (recuperado em ondas-micro) com as batatas a murro, mas ainda melhor me souberam os dois copos do excelente tinto da lavra do meu amigo de infância Manel Sardinha, que aqui me deixou como oferta (naquela embalagem de plástico, ó Manel?, então os garrafões do nosso tempo?), que cada vez melhor me sabe (do verbo saber…).
Por isso, me desato, datado que estou. Me desatei a pensar e, agora, me desato a escrever.
Ainda hesitei entre a sesta e o pôr-me aqui a pôr em papel, faz-de-conta…, o que me veio vindo à cabeça enquanto almoçava. Mas, como se pode (v)ler, decidi-me por aqui vir. Desatar-me.
(Depois de lavada a louça, claro!)
Então… é assim:
Se eu não fosse eu, admirava-me! Não que ache que sou um exemplo, e muito menos sou um ídolo de mim. Talvez pelo contrário. Mas… se eu não fosse eu, admirava-me.
Se eu não fosse eu, criticava-me duramente (o que, noutras circunstâncias, poderia considerar auto-critica). Mas há pouco não me deu para isso. Há pouco, enquanto almoçava, admirava-me. Admirava-me por ter sido sempre surdo aos cantos das sereias (e alguns cantos de algumas sereias foram), por – já que estou em imagens zoológicas – me ter mantido, e manter!, teimoso como um burro no que sei que é coerência, respeito por/cumprimento de valores e princípios. Sem transigências. Cujas são, sempre, o começo do fim da coerência… diria o teimoso como um burro. que não zurra mas diz, e escreve, e assina.
Estas são daquelas coisas que eu escreveria, datadas e desatando-me, se ainda escrevesse a minha espécie de diário, de que tenho uns milhares de páginas. Estou sempre a pensar em retomar essa abandonada maneira de comunicar comigo, de que o gosto de (ou o apelo a) comunicar com os outros me desviou para estas veredas bloguistas.
Dato-me, desato-me e adapto-me.

2 comentários:

Justine disse...

"Ganda" texto!!!!!!
Com um beijo:))

GR disse...

Não foste surdo, foste e és COERENTE!
Teimoso? SEMPRE!
Ainda bem, que seria de nós sem a tua solidária teimosia?
Por tudo isto, admiramos-te e muito!
Belo texto.

Bjs,

GR