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Em Maio de há quatro anos, já noite dentro, voltávamos lá do norte, de uma deslocação com a equipa de hóquei do Juventude Ouriense e parámos, como era habitual, numa estação de serviço.
Vinha tudo bem disposto, todos passaram pelos sanitários (é uma coisa que quando faz um português, fazem logo dois ou três), uns dirigiram-se ao balcão dos bebes-e-comes, outros fizeram a sua vistoria, também habitual, das revistas em exposição com corpos apetitosos em exposição. Uns mais calmos, outros mais excitados.
Sob o olhar vigilante dos empregados da estação de serviço, tudo estava a correr muito bem, ao contrário do que às vezes acontece por aquelas paragens, com claques, no regresso de jogos de futebol. Muito animados, barulhentos, mas nada demasido, nem a animação, nem o barulho.
Um casal que entrou na loja e bar da estação de serviço começou por mostrar alguma desconfiança por ver tanto fato de treino e alguma agitação, mas logo perdeu os eventuais receios porque, na verdade, o grupo estava mesmo animado, ria e brincava mas não havia sinais de excessos ou de que eles pudessem vir a aparecer.
Talvez estimulados pelo ambiente, e porque eu estava um pouco afastado dos mais exuberantes, dirigiram-se-me, a "meter conversa", decerto tranquilizados pelas minhas barbas brancas (já o estavam há quatro anos...).
- Então... parabéns...
- Obrigado.
- Pelos fatos de treino, já vimos que são de Ourém... bonita terra... o que é que jogam?
- Jogamos hóquei...
- Sim, senhor... e o amigo é treinador, ou massagista, ou dirigente?... jogador não é...
- Pois não, pois não... bem gostava ainda... sou o presidente da direcção...
- Ah! muito bem, muito bem... jogaram onde?
- Em Valongo, ou melhor, em Balongo...
(riram-se)
- Sim, senhor... e ganharam por quantos?
- Não ganhámos... perdemos por 6-1.
- O quê?!... E estão assim a festejar... parecem tão contentes... e perderam?!... e por 6-1!?
- Pois é! Nós somos assim. É assim que encaramos o desporto!
Despedimo-nos. com simpatia mútua e desejos de felicidades.
... Só não lhes disse, para não diminuir o efeito... pedagógico, que apesar de termos perdido (e por 6-1) subiramos à 1ª divisão nacional, e que era, por várias razões (não só desportivas), o dia mais feliz da minha longa carreira desportiva.
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Dias depois, ainda festejando,
a cantar Grândola
com o meu amigo Jorge Godinho
2 comentários:
De onde se pode concluir, como moral desta estória muito bem contada, que por vezes se justifica não contar a verdade toda...:))
Lembra-me perfeitamente de terem perdido e subido de divisão.
Assim é que deveria ser encarado o desporto. O grande problema é que só há um Sérgio.
Adorei esta estória.
Bjs,
GR
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