faz de conta que o que é, é!... avança o peão de rei.

...
o mistério difícil
em que ninguém repara
das rosas cansadas do dia a dia.

José Gomes Ferreira

sábado, 25 de abril de 2009

"O Caso do Homem do Guincho" ou... - 23

23.

Com o pé em terra firme, era evidente que o Homem, “recuperado” pelo Senhor Administrador e o Director da Delegação, estava num estado a precisar de cuidados. Desde os sapatos encharcados até à cabeça zonza.
Já tudo fora providenciado pela logística do banco, som ordens rápidas e prontamente cumpridas. Enquanto um carro (com condutor, claro) viria na A1 com a Mulher do Homem, excitada mas contida, outro carro (com motorista, claro) viera buscar os três - o Homem, o Director da Agência e o Senhor Administrador - e levara-os para a sede do banco.
Ali, com a Secretária a fazer horas extraordinárias que a função justificava que lhe não fossem pagas – tal como as dos motoristas – e a esperar a chegada, já com uns sapatos novos, umas meias, fatinho completo e camisa, colocados nos anexos ao gabinete do Senhor Administrador.
O Homem, logo que reentrado naquele lugar de onde saíra para a sua “aventura de um dia”, fora encaminhado para a sala de banho, tomara um reconfortante duche, vestira-se lavado e novo, usara o champô do Senhor Administrador para lavar a cabeça. Por dentro e por fora.
Já se sentia outro, ele, quando voltou ao gabinete, onde o Senhor Administrador e o Director da Agência olhavam a televisão e trocavam impressões.
Tudo eram sorrisos e palmadinhas nas costas “o que tu foste fazer…”, disse o Director da Agências, “o que o senhor foi fazer… (falou o Senhor Administrador) o meu amigo deve ter interpretado mal as minhas palavras… a resposta que lhe dei não foi uma recusa… era, sim, um abrir de hipóteses, de perspectivas, de alternativas…”
O Homem sentia-se outro, mas ele. De repente, sabia o que queria e o que dizer “agradeço muito aos dois – e ao banco – terem-me salvo a vida que, estupidamente, pus em risco… mas agora queria afastar-me um pouco deste episódio… Se me permitissem, queria ir para casa e amanhã falaríamos do caso da livrança. Pode ser?”.
“Claro… (tartamudearam os dois)… mas tínhamos convidado a sua esposa – que deve estar a chegar – para irmos jantar todos…”
“Eu sei... agradeço muito… mas assim que ela chegar quero ter uma conversa a dois… percebem?!... tenho de lhe pedir desculpa pelo que a fiz sofrer… e explicar outras coisas… a sós!… é prioridade absoluta… desculpem… amanhã falarei convosco.”

2 comentários:

Anónimo disse...

Vamos ver o que ele lhes vai dizer. Paciência para esperar até terça-feira.

Campaniça

Maria disse...

Como é que deixei passar este sem te deixar um abraço?
A minha mania de ler em RSS....