faz de conta que o que é, é!... avança o peão de rei.

...
o mistério difícil
em que ninguém repara
das rosas cansadas do dia a dia.

José Gomes Ferreira

sábado, 18 de abril de 2009

ou... "Uma História Com Final (aparentemente) Feliz" - 20

20.
Do seu estacionamento no terraço da sede do Banco, o helicóptero içou-se aos céus. Nele, o Senhor Administrador, o Director da Agência, o Chefe da Segurança. Além do condutor ou piloto, claro… Mas estes raro contam nas histórias que se contam. Já os chefes da Segurança, não. Estes têm tanta coisa que fazer que, por vezes, merecem algum protagonismo, quando não vedetismo.
Este Chefe da Segurança, que vai com o Senhor Administrador e o Director da Agência, fizera o muito que havia a fazer no curto tempo de alguns telefonemas para que o helicóptero ficasse habilitado a levantar voo daquele terraço e a pousar em espaço aberto lá perto da praia do Guincho. Tudo em minutos…

A chegada do helicóptero foi mais um acontecimento a juntar ao caso do Homem do Guincho. Acontecimento que levantou ondas de poeira, no meio das quais o Zé da TV ordenou à equipa sob sua direcção que captasse uns planos de grande impacto.
(E que não tivesse ordenado, o operador estava ali para isso, e era um profissional competente e amante da sua profissão…)

Lá ao largo, o Homem sentia-se cada vez menos sozinho e cada vez mais figura secundária, após a brevíssima passagem por um protagonismo que nunca desejara. As ondas que passavam a seus pés iam deixando ficar sempre mais água, que subia, subia, e já lhe entrava pelos sapatos. Mas, como não se cansava de lhe gritar o Guarda-republicano, o único para quem parecia que o mais importante era mesmo ele e não o que estavam a fazer a pretexto dele, o que era preciso era manter a calma, muita calma.
A espectacular chegada do helicóptero com as grandes pás a passarem por cima da sua cabeça e a pousarem o volumoso bojo lá adiante entretivera-o uns segundos e julgou-se a ver uma cena das séries inevitavelmente estado-unidenses… Recuperava-se, sorrindo a coisas que pensava… sem ser na livraria, na livrança, no banco, na casa. E pensou na Mulher, preocupado com a preocupação em que deveria estar… se já soubesse.
A enorme libélula metálica pousara e regurgitou apressados vultos, onde lhe pareceu reconhecer o Director da Agência e o Senhor Administrador.
O Homem ficou espantado com a importância que lhe estavam a dar. Tudo por causa de uma livrança de 50 mil euros?!

A reforçada equipa de socorro reuniu logo, com o enorme pêso dos recém-chegados, a quem o Comandante dos Bombeiros e o da GNR prestaram devido tributo de admiração e respeito para não se ser excessivo e não dizer vassalagem.
Sob a superior orientação do Senhor Administrador, com a coadjuvação apagada do Director da Agência, orientação que se resumia a um “faça-se”, para os outros ficavam os pormenores técnicos do “fazer-se”, acertados entre os Comandantes e o Chefe da Segurança, e, também, o piloto do helicóptero, chamado a ter alguma importância na operação.
Tudo a postos para o espectacular salvamento sob os atentos olhos e ouvidos das máquinas encarregadas de levar o evento ao jornal das oito, se é que o Zé da TV não ia conseguir o directo que, afanosamente, negociava pelo portátil, desses que tudo têm e fazem. Negociações difíceis, porque as oito se aproximavam naquele fim de tarde mas, pelo menos, iria conseguir uma chamada a abrir o noticiário: O Caso do Homem do Guincho...

1 comentário:

Maria disse...

Não, não era a livrança de 50 mil euros. Era a casa do Homem, era o noticiário em directo na TV, era... uma camada de nervos porque não sei como isto vai acabar.
Sei que o Homem é resgatado. Ou salvo, Ou sei lá o quê. Mas sei que o Homem não morre. Pronto.

Abraços