faz de conta que o que é, é!... avança o peão de rei.

...
o mistério difícil
em que ninguém repara
das rosas cansadas do dia a dia.

José Gomes Ferreira

terça-feira, 7 de abril de 2009

"O Caso do Homem do Guincho" ou... - 15

15.

O outro guarda-republicano e os dois jovens namorados, que entretanto se tinham aproximado, juntaram-se ao Guarda-republicano que via, ao longe, a silhueta do Homem, mais adiante de onde, tantas vezes, tivera de ir socorrer, com apoio de bombeiros, amantes da pesca em situação perigosa.
Gesticulou, gritou – gesticularam, gritaram – mas a distância era muita e o Homem, via-se àquela distância…, não tinha olhos nem ouvidos que não fossem para dentro de si e para o mar que o cercava.
“Temos de fazer alguma coisa…”, disse o Guarda-republicano e pensaram todos.

Os guarda-republicanos dirigiram-se para o jeep, os jovens encaminharam-se para o carro. “Podemos fazer alguma coisa?”, perguntaram. “Não, não me parece… por agora… mas deixem os vossos contactos aí ao meu colega”, respondeu o Guarda-republicano. E foi comunicar com o posto.
Quase exigiu que se montasse, de imediato, uma operação de salvamento, em cooperação com os bombeiros. O Comandante recebeu as informações, respondeu com alguma secura àquela insistência, garantiu que ia pôr tudo em marcha.
O Guarda-republicano voltou a telefonar e quis, ainda, saber o horário das marés. Parecia-lhe fundamental. Quando foi informado que a maré estava a encher e que, daí a umas quatro horas estaria no máximo, mais insistiu para que tudo andasse depressa.
O Comandante quase se irritou: “Oh homem, tenha calma… já falei com o comandante dos Bombeiros de Cascais, deve estar a sair uma viatura para aí. Não saia do local. E tenha calma senão a gente ainda se chateia!”
O outro GNR veio ao encontro do jeep. Os jovens tinham partido, depois de deixar os contactos. “Eh pá!, aqueles dois estavam na marmelada… estragou-se-lhes o arranjinho… apanharam dois sustos seguidos… pouca sorte. Mas eram simpáticos. Iam muito impressionados com a situação do homem lá longe. Disseram que iam fazer umas coisas (não percebi o quê, abalaram aceleradíssimos, especialmente ela) e disseram que talvez voltassem”.
“Está bem, está bem… vou ver se consigo chegar perto do homem… ou se se consegue comunicar com ele…”
“Tu é que sabes. Mas, se fosse a ti, não me metia nisso. Não vêm aí socorros? E como está isso de marés?”
“Espera aí… não temos aí um megafone? Vai lá buscar.”
Aproximaram-se do mar e das rochas. O Guarda-republicano ainda arriscou avançar pelas rochas mais acessíveis, e usou o megafone.
Chamou. Gritou.
Mas, para além da distância e da indiferença em que poderiam estar a embater os sons gritados do megafone, o ruído das ondas à volta do Homem deveria ser tão forte que ele não devia ouvir nada.
Voltou, frustrado, para junto do colega. Que resmungava.
“Raio de chatice. O trabalho que este gajo nos está a dar… Tu tinhas razão, o fulano está mesmo mal. Mas, também, se se quer suicidar que se suicide, porra!”
“É verdade, pá. Desde o Cais do Sodré que parece que ando com ele ao colo. Mas… sabes?... estou convencido que ele não se quer nada matar… está é muito perturbado. E parece-me bom sujeito.”
“Tá bem, pronto. Mesmo que quisesse matar-se teríamos de tentar impedi-lo… mas o gajo caiu-te em graça, estás a levar muito a sério esse papel de anjo da guarda… republicana.”

4 comentários:

Anónimo disse...

Valha-me deus! Estou quase a ter um ataque cardíaco com tanto suspense.
E hoje ainda é só 3ªfª. Ainda faltam três dias para chegar a
6ªfª.

Campaniça

Maria disse...

É claro que o Homem está apenas a ver o mar. Duvido até que esteja a pensar...
E vai achar estranhíssimo quando for "resgatado"...

Até quinta-feira!

Sérgio Ribeiro disse...

Campaniça - é 5ª! e quero tudo menos que o teu coração sofra com as minhas estórias!
Maria - ... a ver o mar, pensando sem "estar a pensar". Resgatado?... mas quem te disse que o será? (eh!eh!)

Beijos de agradecimento para as minhas leitoras comentadoras (vá lá... também para outras que sei que lêem e que nada dizem... aí mais uma ou duas...)

Maria disse...

Não acredito que o homem se amde ao mar...
:)
"resgatado" entre aspas. pois.