faz de conta que o que é, é!... avança o peão de rei.

...
o mistério difícil
em que ninguém repara
das rosas cansadas do dia a dia.

José Gomes Ferreira

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Histórias ante(s)passadas - 34

Em "nome do pai" se escreveu a última história ante(s)passada.
E não havia a intenção de continuar a “fórmula”. Mas parece que algo começou com ela. A estória da vida de um homem que nasceu ao acabar o século XIX, numa pequena aldeia, e dela partiu, homem feito, com bagagens e “armas” - uma que era , então, muito valiosa (e rara), a quarta classe - e se “fez a si próprio”, e levando consigo, no mais fundo de si, o prolongamento das raízes de aqui.
Antes disso, ainda por cá andava em 1917, pelas cercanias e a olhar para azinheiras, particularmente em Outubro desse ano…
Em Lisboa nos anos 20, começou a trabalhar duro. Mas sempre com grande disponibilidade para se “ambientar”, para continuar a estroina para que tanto treinara na “Aldeia”, na Vila Nova.
Especializou-se em papéis e seus artefactos. Na Gomes & Rodrigues (Caneta de Ouro, no Largo da Estefânia), na Papelaria Fernandes (no Largo do Rato, e de que era dono, ou sócio, Agostinho Lourenço, director da PVDE). E o senhor Joaquim Ribeiro fez, ao que consta, brilhante carreira profissional. Apesar das noitadas, e dos patrões…
Quando vivia em quarto alugado perto do Rato, na Rua de S. Bento, procurou relacionar-se com – ou catrapiscar – as raparigas daquele tempo e daquelas paragens, com uma aura de solteirão (aos 30 anos!) e bastante atrevidote. Ao que parece, começou por se “interessar” por uma louraça divorciada (ou por uma divorciada louraça, vá lá saber-se...) que morava na Rua do Sol ao Rato, mas por funfuns e gaitinhas, caiu na rede da mais novinha das três irmãs, da inocentezinha, da “sonsinha”, da Judite. E para casamento! Aos 35 anos, o que era então considerado idade provecta. E não estaria, talvez…, nos seus propósitos e modos de vida.
Lá assentou. Sem ter de todo renunciado a umas saídas nocturnas…
As raízes levadas do Zambujal, marcavam muito a sua organização de vida. Frequentava e vestia-se na alfaiataria Lemos, na Rua Augusto, de um amigo de Alburitel, só comprava camisas e correlativos na camisaria Trezentos, no Chiado, de um amigo de Caxarias, só cortava o cabelo, morasse onde morasse, no Nunes, da Rua Luciano Cordeiro, de um amigo do Alqueidão. (E, quando chegou e enquanto teve idade, lá ia este cronista à Luciano Cordeiro cortar o cabelinho, fazer provas de fatos e de capa e batina na Rua Augusta, comprar gravatas no Trezentos do Chiado…)
Em 1939, Joaquim Ribeiro tomou uma importante decisão: estabeleceu-se. Não de porta aberta mas, como está averbado no BI que ilustra esta estória e que, aos 43 anos anos era… ,"válido perpetuamente", como “agente comercial”, representante de “fabricantes e negociantes”.
Deles se falará. Bem como, claro, dos frutos que deram aquelas bem cuidadas raízes.

4 comentários:

Anónimo disse...

Fico a saber que a tua mãe não era de Ourém.
É muito comevedora a fidelidade que o teu pai tinha à terra. Nem que tivesse que calcorrear meia Liaboa encontrava oa conterrâneos e era a eles que dava o dinheiro a ganhar e não a uns outros quaisquer. Não admira que tivesse fundado a Casa de Ourém.

Campaniça

Maria disse...

Como se diz, manteve na cidade grande os laços que trazia da terrinha. Uma questão de fidelidade, que me agrada tanto...

Justine disse...

Falas do teu pai com ternura(e também com respeito e lucidez), e logo me assalta o coração as imensas, incuráveis saudades que tenho do meu.

M. disse...

Eu acho que é um dom falar-se assim de um pai. Parabéns!