faz de conta que o que é, é!... avança o peão de rei.

...
o mistério difícil
em que ninguém repara
das rosas cansadas do dia a dia.

José Gomes Ferreira

terça-feira, 12 de agosto de 2008

12 de Agosto

Apetece cantar, mas ninguém canta.
Apetece chorar, mas ninguém chora.
Um fantasma levanta
a mão do medo sobre a nossa hora.

Apetece gritar, mas ninguém grita.
Apetece fugir, mas ninguém foge.
Um fantasma limita
todo o futuro a este dia de hoje.

Apetece morrer, mas ninguém morre.
Apetece matar, mas ninguém mata.
Um fantasma percorre
os motins onde a alma se arrebata.

Oh! maldição do tempo em que vivemos,
sepultura de grades cinzeladas,
que deixam ver a vida que não temos
e as angústias paradas!

Miguel Torga (101 anos, hoje)

Um dos poemas que - para mim - melhor "retrataram" um tempo que vivi, de angústias paradas.
E hoje, e hoje?

3 comentários:

Anónimo disse...

E hoje ameaça assemelhar-se cada vez mais a esse tempo... mas ainda mais horrível... porque ainda o não vivemos e não lhe conseguimos (ainda!) vislumbrar o fim.

Maria disse...

Hoje, hoje ainda não estamos lá. Eu disse "ainda". Para lá caminhamos, se baixarmos os braços.
Mas como nós não somos de baixar os braços....

Obrigada, Sérgio!

Justine disse...

Hoje não está lá muito diferente...