faz de conta que o que é, é!... avança o peão de rei.

...
o mistério difícil
em que ninguém repara
das rosas cansadas do dia a dia.

José Gomes Ferreira

quarta-feira, 20 de agosto de 2008

Histórias ante(s)passadas - 35

Passemos, então, aos fornecedores e representantes.
Uma verdadeira escola. De tudo.
A “casa comercial” do meu pai representava artigos de papelaria e correlativos, de diversa proveniência. Por isso, o meu pai estava muito relacionado com empresas do Norte, como a Vieira Araújo, (julgo que) & Companhia, Lª (Viarco), fabricante de lápis, pastas… e chapéus. Lembro-me de termos sido recebidos, familiarmente, em casa do senhor que dera o nome (e o resto) à empresa, com grande hospitalidade.
Mas, entretanto, um dos seus vendedores, com quem o meu pai tinha relações de amizade, Mário Lino, estabeleceu-se (naquele tempo não se falava em empreendedorismo e era bem mais são) e o agente comercial Joaquim Ribeiro passou a representar os produtos Molin. Acompanhei, miúdo atento, tudo isto e, não sei porquê, “cai nas graças” de Mário Lino e família, que até me levaram a passar na sua casa no Porto (na Rua do Almada) alguns dias que não esquecerei, Também porque, talvez para tentar compensar a hospitalidade, não tinha ainda 10 anos, quis fazer o mesmo que fazia em Lisboa: “ajudar”. E não é que teria ajudado mesmo num problema de importação de rolamentos, com a designação alfandegária de “acessórios de peças”?! Ficou na (minha) história…
Entre as recordações, lembro que nas suas idas a Lisboa, Mário Lino nos convidava a irmos ao cine-teatro Ginásio ver filmes da Marika Rök, artista emblemática da Alemanha nazi. Hoje, desconfio das simpatias que então haveria por aquele lugar e filmes… Simpatias que meu pai nunca partilhou, ele que assinou as listas do MUD e teve alguns problemas por ser ”oposicionista" (ou "não afecto ao regime" como escrevia a PIDE nas fichas) e pelo seu anti-clericalismo. Noutra estória contarei um.
Só mais uma referência com nome. Quando Américo Barbosa criou a sua empresa, a Âmbar, que veio a atingir dimensão apreciável (Complexo Industrial Gráfico, SA) houve negociações (a que assisti, como “colaborador”) para que meu pai o representasse.
Mas o meu pai era pouco de exclusividades, até porque acarinhava muito os seus próprios produtos. Blocos e papel de carta Ourém (claro!, com os castelos), blocos Miúdo e papel de carta Sergito, com a minha fotografia (a que está ali em cima) estampada.
Já fui marca! Há uns 60 anos…

3 comentários:

Maria disse...

Dos blocos Sergito não me lembro (não era nascida... ou seria, recém...) mas dos lápis e dos blocos com o castelo na capa fui fiel gastadora...
... já na altura tinha a manira de escrever, porque bonecos não era comigo...

Abreijo

Anónimo disse...

Que ternura esta fotografia!
Agora está tudo massificado, é tudo igual e quase sem significado. "Vem tudo lá de fora com o paquete", como dizia o Eça.
Agora, os meios de comunicação e de tranporte são outros mas o problema é o mesmo.

Campaniça

Sérgio Ribeiro disse...

"vem tudo lá de fora com o paquete", que grande súmula... se isto não é contraditório!
Abreijos a dobrar