faz de conta que o que é, é!... avança o peão de rei.

...
o mistério difícil
em que ninguém repara
das rosas cansadas do dia a dia.

José Gomes Ferreira

sábado, 22 de setembro de 2007

Intervalo para crónica

Uma conta com graça
... e com troco em minutos

O jantar(inho) correra bem, Calmo, em tête-à.tête como se diz em francês… mas não naquele que falavam os burgessos da mesa ao lado e que pareciam estar ali para comprovar que nunca tudo pode ser perfeito.
Aliás, entráramos no restaurante – A Tropicana, entre a Foz do Arelho e Caldas da Rainha – cheios de dúvidas. Meio restaurante meio tasca, o cheiro a óleo frito que se olfatava na rua não augurava nada de bom. Mas os receios eram infundados. Lá dentro, meio restaurante meio tasca, não havia cheiros, tudo estava apropriado à condição.
Mandámos vir duas sopitas (de espinafres, preciso eu), que se comeram sem quaisquer protestos por farinha, sal e semelhantes coisas a mais ou a menos, e só tivemos que esperar pelas lulas grelhadas um bocadinho além do desejado, talvez porque o coitado do senhor que servia à mesa era coxo.
Este, o senhor que era coxo – e ainda deve continuar a ser porque aquilo não tinha ar de ter sido queda ou pancada… –, não era de simpatias mas era simpático. Respondeu a tudo o que lhe perguntámos, sem mesuras nem desmesuras, informando quem informado queria ser – sobre onde havia um multibanco, os quilómetros para as Caldas, e mais que fosse.
As lulas estavam mesmo ao ponto da grelhação, se eram congeladas não pareciam, e souberam mesmo bem, com elogios - cá entre nós - para a cozinheira.
Íamos conversando sobre as lulas e mais que vinha ao garfo ou à baila, calmamente, naquela bem-aventurança que às vezes nos toma… apesar dos belgas, ou lá o que eram, e do barulho que faziam.
Perguntei eu pela sobremesa, disse ela que não queria sobremesa nenhuma, mas quando o senhor – o tal que puxava por uma perna mais do que pela outra – falou em uvas, quis logo, e vieram duas doses, tendo ido uma para dentro porque explicámos ao senhor que nós somos assim, de meias doses ou de doses a meias…
Tudo conforme, sem café, nem nescafé, nem chá, que este ficava para o regresso ao quarto do Inatel. Venha a conta foi o que foi dito. E veio.
Eu olhei para o papel, saído da máquina registadora, vi o número mais visível – 22.39 – deixei 24 euros, e disse para ela “foi metade do almoço e ficámos melhor jantados que almoçados”. E saímos, deixando ciciadas umas boas noites que se perderam, decerto, na algaraviada franco-belgo-portuga.
Ao passarmos a porta da rua, ela – que ouve melhor que eu – disse-me “parece que te estão a chamar… esqueceste-te de alguma coisa… do telemóvel ou isso… é o costume”.
Contrariado e contrafeito, voltei à mesa, olhei à volta, olhei por cima, olhei por baixo, e vinha a preparar-me para responder ao injusto remoque, quando, ao chegar à porta, somos interpelados pelo senhor que, coxamente, vinha lá do balcão meio a rir e nos disse “ó homem, você deu-me dinheiro a mais… pagou-me a hora e não a conta do jantar!”.
Pois tinha sido. 22.39 era a hora que a máquina registadora registara ao fazer-nos a conta cuja não passava de 15 euros.
Acompanhei o senhor ao balcão onde me deu o troco, em moedas e não em minutos, e saímos de vez do restaurante. A rir. Cheios de confiança na espécie humana. Mesmo se, ou sobretudo se coxa. Que é como ela anda.

6 comentários:

Maria disse...

É boa a gente da minha terra!!!!!
Também eu me ri com o teu troco (não em minutos).
Sendo que, como tão bem tratado foste, irás voltar lá, um dia destes.... espero...

Dois abraços

Anónimo disse...

Claro que sim. Mesmo que não tivesse grande vontade - mas tenho! - parece-me haver por aí uma conspiração de nostágicas em que estarei enredado.
Viste as fotos em "o quarteto de alexandria" da D. Justine? De umas boas dezenas tiraram-se umas "amostras".

Cá recebidos os dois abraços, guardei um que retribuo, caloroso, endossei o outro, e estão as contas certas. Em minutos e em cêntimos...

Anónimo disse...

Quando forem não se esqueçam de me convidar. Conheço pouco aqueles lados mas vocês dão-me vontade de conhecer. Mais que vontade, necessidade. Abraços a todos.

Maria disse...

sr

Procurei no google o quarteto de alexandria - justine e o que encontrei não se "encaixou" ...
Ignorância e burrice minhas...
Desculpa, sou mesmo burra.....
Voltei ao anónimo, cliquei no justine a azul e apareceu.... hehehehehehe
Tenho leitura para o resto da noite, espero.

Beijos

GR disse...

O empregado foi honesto, porém muito de nós rotulamos, de tanso.
Então o empregado era coxo?!!!
Lembrei-me! quando andava a estudar, um jovem colega era coxo.
Então a prof. de francês (que era muito severa e cínica) dizia: “Venha ao quadro!”
Lá ia o rapaz. Irritado, pois sabia que a prof. iria dizer:
“Lá vai o coxo!
um coxo também se ama,
só a gracinha que tem
de ir aos saltinhos para a cama!”
Sempre que ouço falar de coxos faz-me lembrar aqueles tão longínquos tempos.
Muito disparatado!

GR

GR disse...

Maria,
Finalmente as férias terminaram. Espero que tenham sido óptimas.
Tanta falta fizeste!
Se me permites. Não vale a pena procurares mais!
“Quarteto de Alexandria”, no blog “anónimos.xxi”do lado direito aparece
Recomendado; é o decimo blog RECOMENDADO
Imperdível!

GR