faz de conta que o que é, é!... avança o peão de rei.

...
o mistério difícil
em que ninguém repara
das rosas cansadas do dia a dia.

José Gomes Ferreira

terça-feira, 11 de março de 2008

Histórias ante(s)passadas - 7

Há dias especiais. E se o 10 de Junho era o “dia da raça”, à boleia do Luís de Camões, que não deveria achar muita graça à graça…, sobretudo quando começou a ser associado à “saga” colonial, com a guerra a ser motivo para os apelos ao sentir patrioteiro dos portugueses, para a nossa família o 10 de Junho de 1933 foi mesmo muito especial. Foi uma espécie de 2 em 1.
Não sei se por questões de economia ou por outras razões, as duas manas, a Ermelinda, já (então, nesses tempos tão idos) com 26 anos, e a Judite, com 23 anos, casaram no mesmo dia.
O que teria sido um grande acontecimento na Rua do Sol ao Rato.
.

O cortejo teria ido até à Igreja de Santa Isabel, que era logo ali ao virar da esquina e, lá, um padre substituto concretizou o que é um sacramento e que dois sacramentos tiveram de ser.
Tudo de casaca e vestido comprido, que então era assim.
Na foto, reconheço os noivos, claro, o meu avô já na fase alentada em que o conheci, a minha avó debaixo de um chapelinho, os Salgueiros, padrinhos dos meus pais, logo atrás o "tio Adrião" e a minha tia Guilhermina, à esquerda os que viriam a ser os meus padrinhos de baptismo, ele alto, careca e, ao que parece, negociante de empréstimos e penhores, ela baixinha e rica, de que guardo boa recordação dele se chamar Sérgio e, por isso, ter este nome de que gosto. À frente, as meninas: à esquerda, a Nela, filha dos Salgueiros, uma boa amiga, e à direita a Casimira, desconhecendo quem está no meio, e então seria mesmo a virtude.
Do que me contava o meu pai, houve bronca nas confissões pré-nupciais, a que o meu pai, com o seu anti-clericalismo, se teria escusado, e o padre titular, em represália, mandou um substituto porque, teria ele dito..., se fizesse o casamento naquelas condições tinha receio que a igreja lhe caísse em cima. Ao que o meu pai respondeu que, lá de velha havia esse risco, agora por ele não se confessar não cairia com certeza,
Só que esse substituto era gago – requinte da represália –, o que fez o noivo, senhor meu pai, intervir, dizendo-lhe, ao ouvido, que os noivos e convidados dispensavam sermões porque já conheciam aquela lenga-lenga de cor e salteado.
Com antecedentes destes, que poderia eu ser (embora anti-clerical não seja... mas isso é outra estória)?

2 comentários:

GR disse...

Reparei na data, 1933!
Fui a um único casamento católico (talvez há 5 anos atrás).
As fotos são muito parecidas, vestido comprido, registo fotográfico nas escadas.
Bonita foto. Bonito nome, Sérgio!
Mas o padre era mesmo um camafeu vingativo! Pois fez muito bem, o senhor teu pai não lhe ter feito a vontade.
Grande casamento!

GR

Maria disse...

Pronto, e eu prá'qui a dizer-me tia....
... não, não era eu a noiva, muito obrigada....