faz de conta que o que é, é!... avança o peão de rei.

...
o mistério difícil
em que ninguém repara
das rosas cansadas do dia a dia.

José Gomes Ferreira

sexta-feira, 7 de março de 2008

Histórias ante(s)passdas - 3

A minha família, por qualquer dos dois ramos, não tem história. Tem estórias. Eu não tenho árvore(s) genealógica(s). Tenho raízes. Sinto que tenho raízes que são feitas de memórias. Que não quero que se percam comigo.
Ainda por cima, ando com este trauma da falta de netos….
E, por exemplo, o filho único da minha prima Casimira cortou com tudo, a começar por ter cortado com a família. Depois, consigo próprio até à prematura e inevitável morte. Uma história triste, de que contarei um episódio a que, hoje, chego a achar piada.
É para já! Depois volto aos outros…

Então é assim.
Gostava do miúdo. Do António Alberto, o primeiro da geração a seguir à minha. Que era filho da Casimira.
Quando sabia que o TóBé ia passar o dia na casa dos meus avós, ao lado da nossa, arranjava o horário para estar com ele uma boa parte da tarde. A brincar com o puto. Eu ai com 15, 16, 17 e ele com menos uma larga dúzia de anos
Eu fiz o liceu, fui para a Universidade, confirmando expectativas, ele chegou ao liceu, andava na ginástica na Académica da Amadora, e eu era assistente convidado dos festivais de fim de época. Pelo menos de um fui… Era o primo que ia ver as habilidades do priminho.
Acabei o curso. Casei. Seguia ao trilho todo, com notória satisfação familiar (só não sabiam de umas clandestinidades que me iam levar à “ignomínia” da prisão e à incompreensível destruição de uma carreira tão bonita).
Pois é, eu seguia o trilho todo, mas ele, o TóBé não. Começou bem cedo a descarrilar…
Um dia desapareceu. Saiu de casa sem dizer “água vai”. Pânico geral.
Lá fiz o que me foi possível. Talvez pouco para o muito que esperariam de mim. Até que, dias depois do desaparecimento, a Casimira me telefonou para o emprego. O TóBé dera sinais de vida. Regressava de Barcelona. Dentro de pouco chegaria a casa, e ela pedia-me, implorava-me..., que chegasse a casa deles antes do pai fazer o trajecto do banco à Amadora. Teria de ser eu a amortecer o primeiro assalto do embate entre pai e filho.
E consegui. Fui o que chegou mais mais cedo e amorteci o primeiro encontro dos dois... Meti-me entre eles e uma parte dos murros e pontapés do pai com endereço ao filho apanhei-os eu.
Lá acalmei os contendores. Deixei o filho entregue à mãe(zinha), levei o pai a tomar um café, alertei-o para a necessidade de regressar ao banco onde era disciplinadissímo funcionário, e voltei ao lar onde regressara o filho pródigo.
Não sabia lá muito bem que lhe dizer. Comecei, canhestro: “é pá! então?… voltaste, hem!” O gajo riu e, desavergonhado, respondeu-me: “acabou-se-me o shampoo e não fui capaz de me habituar à falta dele!”.
Esteve quase a apanhar uns murros e pontapés que eu tinha em recente depósito à conta dele…

Mas, hoje, tenho a impressão que aprendi muito com essa resposta. Pena que ele não tivesse aprendido nada. Com aquela primeira "fuga", e a falta que nos fazem algumas coisas!

6 comentários:

Anónimo disse...
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Maria disse...

NÃO ABRAS O COMENTÀRIO ACIMA! É VIRUS!

Maria disse...

Homem pacífico parece que sempre foste...
O TóBé era fino, com que então falta de shampoo...
E esse "trauma da falta de netos…." não sei não, podes sempre adoptar os netos dos amigos... é o que eu faço...

Abreijos

GR disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
GR disse...

Esqueci-me de dizer, a foto está uma delícia.
Sem com o olhar curioso, tentando ver o futuro!

GR

Sérgio Ribeiro disse...

Obrigado, maria, pelo teu aviso. E pelo resto...
Elimimei um comentário porque estava aqui por engano. Tal como me parece, GR, que este outro comentário, embora sirva para esta estória, também tinha a intenção do outro post. Enganei-me?