faz de conta que o que é, é!... avança o peão de rei.

...
o mistério difícil
em que ninguém repara
das rosas cansadas do dia a dia.

José Gomes Ferreira

sábado, 15 de março de 2008

Histórias ante(s)passadas - 9

No dia 10 de Junho de 1933, deram-se dois nós. Um, o do meu pai, Joaquim Ribeiro, com a minha mãe; Judite que passou a ser Ribeiro Ferreira Ribeiro; outro, o da minha tia Ermelinda com o meu tio Cardoso, também Joaquim.
Não conheço outro caso de casamento duplicado, mas decerto que os há.
No entanto, não era só no nome dos noivos ser o mesmo – e no casamento ser em duplicado – que se ficavam as curiosidades relacionadas com dia especial. Para eles e, claro, para mim.

Sendo os dois noivos homens muito diferentes, tinham pais com a mesma profissão, sapateiros. Embora o meu avô já tivesse morrido há algum tempo, tinha tido essa profissão acumulada com a de agricultor, que era a de todos os que viviam no Zambujal no final do século xix começo do século xx; o pai do meu tio Cardoso, que conheci mal, era sapateiro num vão de escada na Calçada Marquês de Abrantes, onde o casal, para mim os avós do Zé Luís, eram também porteiros.
Mas ainda havia mais. Os dois noivos gostavam de jogar. Às cartas, e não jogos de todo recomendáveis. Tinham mesmo o viciozinho de as bater. E a doer, isto é, a dinheiro. Bem mais o meu tio que o meu pai. E com consequências muito mais graves, porque as do meu pai ter-se-iam ficado por deixar pelo pano verde eventuais economias, e perder noites com alguma frequência, sobretudo na Casa do Alentejo.
Já o meu tio Cardoso, que do Alentejo era, de Redondo, e sempre vi como uma figura curiosa, merecedora de estudo, não se ficou por aí. E sendo, ao que me disseram, um excelente profissional burocrático – "escritas" e essas coisas –, merecedor da confiança dos patrões, abusou dessa confiança, arriscou o que não era dele, e com tal risco que, pouco tempo depois de casar, com o filho para nascer ou acabado de nascer, foi parar 10 anos à Penitenciária. Pena que sempre me pareceu excessiva para o que me diziam ter sido a falta. Mas houve tanta coisa que não me contaram!...
Este episódio, com essa largueza de 10 anos de prisão e suas sequências, poderá ser retomado mas, para agora, a história ante(s)passada é, talvez..., curiosa.
Pouco tempo depois de casados, os dois pares, regressados das respectivas (e essas separadas…) luas-de-mel, juntaram-se num jantar de fim-de-semana, e os dois Joaquins, resolveram “ir dar uma volta”. E foram.
Foram pôr as cartas em dia. E estavam elas tão atrasadas que só voltaram ao convívio a quatro na segunda-feira de manhã!
Teria sido um baptismo para as duas manas! De fogo…

4 comentários:

GR disse...

Ricos Joaquins! Logo após a lua-de mel, irem de “conversar” os dois???
Como os tempos hoje são diferentes!
Quanto aos 10 anos de prisão, impensável nos dias de hoje. Maldito vício.
Pobre tia Ermelinda, tão bonita! com uma vida bastante amarga.

GR

Justine disse...

Esta estória, bem "puxadinha" como tu sabes fazer, dava uma tragédia enorme!!!
Mãos à obra :)

Anónimo disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
Maria disse...

É o que se chama "ficar logo vacinado", neste caso ficarem logo vacinadas....
.. dez anos é muito tempo, caramba...