faz de conta que o que é, é!... avança o peão de rei.

...
o mistério difícil
em que ninguém repara
das rosas cansadas do dia a dia.

José Gomes Ferreira

segunda-feira, 24 de março de 2008

Histórias ante(s)passadas - 13

Todas as famílias, mesmo as pequeninas e pobrezinhas (mais p’ró pequeno-burguesinhas), como aquela em que nasci e cresci, têm variedade. Mesmo que a família seja apenas de dois membros (é o número mínimo!...) são dois e são, por isso, diferentes. Mesmo que o não queiram, e muito mau é que não o queiram!
Na “minha”, quando faço a retrospectiva em que às vezes encalho, tenho "pano para mangas", ou para muitas histórias ante(s)passadas. Embora as ficcione, estou certo que, sem alguma vez querer manchar a memória de alguém, com certeza que os “inspiradores” das estórias não gostariam dos “retratos”. Por mais que eu lhes dissesse (oh, como gostaria de lhes dizer!) que não são retratos. Que são ficções… e do cordel.
Mas o facto é que todos queremos que nos tirem retratos, todos fazemos pose, posamos, ou pousamos, ou poisamos e, depois, todos dizemos que não ficámos bem na fotografia. Nunca ficamos!

A minha tia Ermelinda, que casou no mesmo dia que os meus pais, teve uma vida contraditória. Aparentemente muito calma, de rotinas, à sua imagem cheia de bonomia e bondade, mas decerto muito agitada por dentro.
O marido e, depois, o filho não ajudaram nada a que fosse tranquila a vida, como tranquila ela sempre se manteve, atravessando as procelas e os desertos, a paralisia infantil que a deixou a coxear, o cancro que a levava a ter de fazer quimioterapia (quantas vezes a levei aos tratamentos…), sempre com o mesmo ar de quem segue o seu caminho esteja ele como estiver, tenha os obstáculos que tiver. Sem um queixume. É assim? Pois assim seja!
Nesta foto, que estava ao pé de uma outra antes publicada, e também é da Trafaria, tem o Zé Luís ao colo. O Zé Luís tinha mais um ano e uns meses que eu, pelo que esta foto foi, com certeza, tirada nas férias anteriores à outra. Mas estavam juntas, nas gavetas por onde se perdem.
Gosto de rever estas fotografias. Os toldos da praia, a mãe com o filho ao colo, toda vestida. Ia lá pôr fato de banho uma senhora com o marido na Penitenciária… Aliás, não me lembro de alguma vez ter visto, por essas alturas, a minha mãe em fato de banho. E não tinha o marido em “férias forçadas”, mas ele também não trocava as calças por calções. Só, e vá lá vá lá…, se punha em mangas de camisa e tirava a gravata.
E era gente na casa dos 30 anos, a minha mãe nem isso, com o meu pai com algum avanço, um senhor “de idade” quase ou já entrado nos quarenta!

8 comentários:

Justine disse...

Lembrar esses tempo faz-me sentir que já vivi em vários mundos, mas que esses mundos, ultimamente, têm vindo a substiuir-se muito mais rapidamente que antes...
Impressão falsa, não é??

Maria disse...

...."um senhor “de idade” quase ou já entrado nos quarenta" ????
Tou velha, é?
Tenho fotografias parecidas. Com avó e mãe e tia na praia, vestidos até ao pescoço. O avô nem tirava os sapatos. Ficava todo o dia denro da "barraca", à sombra. Com o chapéu na cabeça, majestosamente sentado na "melhor" cadeira. Não fosse ele o "homem da casa"....
Lembro-me dos fatos de banho iguais ao do Zé Luís. Os das meninas eram ligeiramente diferentes, porque mais subidos à frente... tínhamos dois ou três anos....

Às vezes é bom recuar no tempo, para tempos outros. E tu ajudas tanto....
Obrigada!

Anónimo disse...

Impressão falsa? Q'al quê? Consulta o blog anónimo do sec. xxi (conheces?) ;)) que tem lá algo sobre isso.
Claro que não estás, maria!
Senão que estaria eu?
Mas o que te garanto é que, naquela altura, com a idade que tens hoje, velha estarias... e eu por onde é andaria?!

bettips disse...

A felicidade da memória-esta, que escorre com doçura pelas vidas passadas. Onde aprendemos o rasgo do que somos.
Há que ter tempo para mimar a memória das queridas gentes.
Um abraço amigo.

Anónimo disse...

Bemvinda,Bettips.
Obrigado pelo comentário.
Gosto de fazer estas" coisas", aqui sossegadinho nalguns intervalos de tanta outra coisa que tomo por tarefas.
Mas, se o faço neste cantinho, apesar do recato e de não esperar comentário - e de a eles raro responder -, às vezes tenho pena de não "conversar" sobre o que vou contando.
Sei que há quem os leia e não comente mas sabe-eme bem, de vez em quando, como agora, dizer olá amigos, obrigado por me estimularem a continuar a publicar estas tão sentidas "diversões", que não raro me comovem.
Obrigado aos que o fazem.

Sal disse...

As tuas memórias são deliciosas.
Não deixes de as partilhar connosco aqui no Ficções do Cordel.

Passa no Mar, tenho lá uma surpresa para ti.

beijinhos

GR disse...

Todos temos uma doce “Tia Ermelinda”.
Mas então só as crianças tomavam banho?
Passamos do 8 para o 800, agora despido, é pouco!
Adoro a tua narração e as fotos.

A jovem Sal é uma ternura. Um Sal com muito açúcar.
Linda surpresa.

GR

Anónimo disse...

Aprendi muito