faz de conta que o que é, é!... avança o peão de rei.

...
o mistério difícil
em que ninguém repara
das rosas cansadas do dia a dia.

José Gomes Ferreira

quinta-feira, 16 de agosto de 2007

1, 2, 3... ainda (e sempre) experiência

Mas não é (só) isto.
Tem de ser (também) mais... de cordel.


Como, por exemplo:

No aeroporto,
enquanto chegava o senhor Papa
Enquanto chegava o Papa, eu estava nos mictórios fazendo o que por lá se faz.
Lavadas as mãos, ia voltar ao "Dia dos Prodígios".
Ao passar a porta dos "reservados", encontrei-me num deserto, tudo ao abandono. Estavam todos, mas todos, à grande janela-varanda, lá ao fundo, a ver o Papa descer a escada-passadeira e a pôr os pés (e as beiças) em solo luso.
No meu caminho de regresso, passei pela loja H. Stern, entre os lavabos e o sofá. E foi a tentação. Até me julguei Adão no paraíso. Que de maçãs!, perdão, que de jóias abandonadas à cobiça (e ao prazer?, e ao milagre?, e ao castigo inevitável?)...
Mas... mas se é verdade que a ocasião faz o ladrão, também só o ladrão aproveita a ocasião. Eu não aproveitei...
Afundei-me no sofá, o livro da Lídia Jorge ao lado, e comecei a a arquit-escrever uma "crónica de bons malandros" a fazerem da chegada do Papa à Portela, e de jóias à descrição, em self-service, a oportunidade de ganharem o dia. Melhor: a semana, o mês, a vida. Facilmente. Com a ajuda (benção?) papal e sem necessidade de engessar pernas e de recorrer ao auxílio de vespas.
Sentei-me a esta escrita por alguns minutos, fixando a ideia. Para contar mais tarde. E para fazer constar. Lembrando-me dos reais malandros que, lá por Fátima minha terra, aguardam aquele homem vestido de branco que deve estar para ali a dar beijinhos no chão, e também as oportunidades que eles não irão desaproveitar. Ah!, se esses malandros estivessem aqui...
12.05.1982
(na espera do embarque para Maputo)

3 comentários:

Maria disse...

Deixa lá.... até o roubo podia ser "abençoado".... hehehehehe

GR disse...

Nem tudo foi mau!
Por uns largos minutos, não houve barulho, nem atropelos mas, silêncio!
Quantos às jóias…há câmaras por todo lado…
E tinhas uma jóia nas mãos (o livro).

Estou mesmo a gostar deste blog!

GR

Sérgio Ribeiro disse...

Ainda bem, GR, que me avisaste disso das câmaras... nem me tinha lembrado! Mas em 1982 creio que não as havia, ainda.
De qualquer modo, estamos no blog das ficções do cordel!