6.
A sala de espera do último andar da sede do banco tinha um discreto charme. Da burguesia. Talvez melhor se dissesse que era cautelosamente luxuosa.
O Homem sentiu-se relativamente tranquilizado mas também um pouco intimidado. Seria essa a intenção do ambiente. Do mobiliário e da decoração.
Lembrou-se que não telefonara para a Mulher. Logo puxou do telemóvel e marcou o número. “Era só para te dizer que cheguei bem e que estou na sala de espera do Senhor Administrador.” “E como estás? Nervoso? Há-de correr bem…”. “Nervoso? Um bocadinho…”. “Vá. Força!”. Lembrou-se de uma coisa: “Olha… se fazes favor, telefonas ao…”.
A Secretária do Senhor Administrador apareceu à porta, parecendo ter deslizado da sala contígua, e postou-se entre ombreiras, como se esperasse com alguma impaciência.
Ele, o Homem, atrapalhou-se com o telemóvel, teve a reacção de quem fora apanhado em falta, carregou na tecla de desligar, levantou-se atabalhoadamente. A Secretária abriu um sorriso condescendente “… não tem importância… termine a sua chamada…”. Ele tartamudeou “… já tinha terminado...”. Ela manteve o sorriso que afivelara e disse “o Senhor Administrador está a terminar uma chamada para o estrangeiro e já o atende… serão só mais uns cinco minutos… ou menos… fique à vontade… se quiser alguma revista posso arranjar, mas tem aí o jornal de hoje… com licença...”. “… muito obrigado…”.
Sentou-se de novo. Arrumou-se. Pegou no jornal do dia (de negócios…), que estava sobre a mesa baixa em frente do sofá, e folheou-o. Leu os grandes títulos e a legenda das fotos. “… isto está bonito está…”. Numa das fotos, o Senhor Administrador dizia coisas que o jornal transcrevia. Comentários. Mais conselhos ao Governo que opiniões. Era preciso que, e mais que.
Tinha dificuldade em se concentrar na leitura de uma notícia ou de um artigo mais extenso. Olhava, de vez em quando, para o relógio. Já passara um quarto de hora da marcação da entrevista…
A Secretária do Senhor Administrador apareceu, sempre como quem vem dos camarins para a passerelle, com o sorriso profissional “O Senhor Administrador vai recebe-lo… acompanhe-me, por favor…”.
O Homem levantou-se sobraçando a pasta, e seguiu a Secretária, um palmo acima dele, para o que ajudavam uns saltos altos e pontiagudos na base de umas pernas bem torneadas. Apesar de tudo, não deixou de apreciar esteticamente a mulher que o conduzia pelo curto corredor.
Uma porta foi aberta pela Secretária para ele passar e entrar num amplo gabinete, daqueles que se vêem nos filmes, com uma larga janela sobre a Lisboa pombalina, evidenciando que a decoradora (ou o decorador) tinha sido a mesma da sala de espera.
O Senhor Administrador levantou-se da enorme secretária a que estava sentado, e veio cumprimentar o Homem, passando entre a mesa com o computador e a estante com espaço aberto para o visor da televisão. Encaminhou-se para um jogo de maples, fazendo-se acompanhar pelo Homem.
O Homem sentiu-se relativamente tranquilizado mas também um pouco intimidado. Seria essa a intenção do ambiente. Do mobiliário e da decoração.
Lembrou-se que não telefonara para a Mulher. Logo puxou do telemóvel e marcou o número. “Era só para te dizer que cheguei bem e que estou na sala de espera do Senhor Administrador.” “E como estás? Nervoso? Há-de correr bem…”. “Nervoso? Um bocadinho…”. “Vá. Força!”. Lembrou-se de uma coisa: “Olha… se fazes favor, telefonas ao…”.
A Secretária do Senhor Administrador apareceu à porta, parecendo ter deslizado da sala contígua, e postou-se entre ombreiras, como se esperasse com alguma impaciência.
Ele, o Homem, atrapalhou-se com o telemóvel, teve a reacção de quem fora apanhado em falta, carregou na tecla de desligar, levantou-se atabalhoadamente. A Secretária abriu um sorriso condescendente “… não tem importância… termine a sua chamada…”. Ele tartamudeou “… já tinha terminado...”. Ela manteve o sorriso que afivelara e disse “o Senhor Administrador está a terminar uma chamada para o estrangeiro e já o atende… serão só mais uns cinco minutos… ou menos… fique à vontade… se quiser alguma revista posso arranjar, mas tem aí o jornal de hoje… com licença...”. “… muito obrigado…”.
Sentou-se de novo. Arrumou-se. Pegou no jornal do dia (de negócios…), que estava sobre a mesa baixa em frente do sofá, e folheou-o. Leu os grandes títulos e a legenda das fotos. “… isto está bonito está…”. Numa das fotos, o Senhor Administrador dizia coisas que o jornal transcrevia. Comentários. Mais conselhos ao Governo que opiniões. Era preciso que, e mais que.
Tinha dificuldade em se concentrar na leitura de uma notícia ou de um artigo mais extenso. Olhava, de vez em quando, para o relógio. Já passara um quarto de hora da marcação da entrevista…
A Secretária do Senhor Administrador apareceu, sempre como quem vem dos camarins para a passerelle, com o sorriso profissional “O Senhor Administrador vai recebe-lo… acompanhe-me, por favor…”.
O Homem levantou-se sobraçando a pasta, e seguiu a Secretária, um palmo acima dele, para o que ajudavam uns saltos altos e pontiagudos na base de umas pernas bem torneadas. Apesar de tudo, não deixou de apreciar esteticamente a mulher que o conduzia pelo curto corredor.
Uma porta foi aberta pela Secretária para ele passar e entrar num amplo gabinete, daqueles que se vêem nos filmes, com uma larga janela sobre a Lisboa pombalina, evidenciando que a decoradora (ou o decorador) tinha sido a mesma da sala de espera.
O Senhor Administrador levantou-se da enorme secretária a que estava sentado, e veio cumprimentar o Homem, passando entre a mesa com o computador e a estante com espaço aberto para o visor da televisão. Encaminhou-se para um jogo de maples, fazendo-se acompanhar pelo Homem.
Era mais baixo do que (a)parecia na televisão e nas fotos. Mostrava-se simpático mas distante “Prazer em conhecê-lo… sentemo-nos… desculpe o atraso… foi uma chamada inesperada… sabe? eu sou um escravo da pontualidade… desculpe… e assim o nosso tempo ainda ficou mais curto porque já tenho uma reunião à minha espera… vamos ao que interessa… aliás, recebo-o por insistência do Director da Agência e, embora tenha gosto em falar consigo, espero que compreenda que o meu tempo é escasso…”. ”Com certeza… e muito obrigado por me ter recebido…”. "Toma um café?… uma água? Não?!... diga então…”.
O Homem puxou da pasta e começou.
O Homem puxou da pasta e começou.
3 comentários:
Porque páras aqui mesmo, no início da conversa?
Estou em pulgas, com a pulga atrás da orelha, sei lá...
Boas férias.
Abreijos
A descrição da sala de espera, da secretária e do "senhor director" está tão bem feita que até eu me senti intimidada ou, pelo menos, pouco à vontade.
Aguardemos,pois. com calma, pela próxima 3ªfª.
Campaniça
Maria - a pulga atrás da orelha? Gosto dessa! O dia e meio foi excelente... É preciso aproveitar todo o tempo!
Campaniça - não tens de esperar pelas 3ªs. Ámanhã vai ser a centrevista. E vai saindo às 3ªs., 5ªs. e sábados.
Beijos muito amigos.
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