faz de conta que o que é, é!... avança o peão de rei.

...
o mistério difícil
em que ninguém repara
das rosas cansadas do dia a dia.

José Gomes Ferreira

terça-feira, 10 de março de 2009

... "Uma História Com Final (aparentemente) Feliz" - 3

3.

Depois daquele começo de conversa, daquela “má notícia” que o Director da Agência lhe dera, houve um silêncio que durou uma eternidade.
Por fim, o Homem lá tartamudeou:
“É pá!... não pode ser. Como tu sabes, esta livrança é fundamental para conseguir manter o difícil equilíbrio em que tenho aguentado a livraria e o espaço cultural.”
“Eu sei, eu sei… por isso apoiei a reforma, nas condições habituais, com toda a minha força…”
“E agora?… mas as garantias?, os avales?”
“Pois! Mas que queres, eles estão a apertar…”
“Mas não pode ser! Como sabes, e melhor que ninguém, tinha aí umas poupanças em depósitos a prazo, e tu convenceste-me a arriscar numas aplicações que deram para o torto… não tenho qualquer liquidez…”
“Claro que sei e, às vezes, culpabilizo-me por te ter metido nisso… mas estava convencido – porque me convenceram – que ia ser uma aplicação segura e muito rentável… e olha que não foste só tu…”
“Eu sei que também tu foste nessa miragem, e mais amigos nossos. E nem eu te estou a acusar de nada… mas o facto é que essas operações, esses “produtos garantidos”, me levaram as poupanças e, agora, só tenho a casa e o automóvel… e, claro, a livraria… cuja sobrevivência depende do crédito que vinha sendo renovado e para que há todas as garantias e avales…”
“Tens toda a razão… mas que queres? Eles é que mandam. Olha: para veres como me preocupei com o teu caso – e não o posso fazer com todos, e tantos são!… tu nem calculas – eu insisti, insisti, e consegui que o Senhor Administrador da área te recebesse. Foi o mais que consegui.”
“Não percebo. Explica lá isso melhor.”
“Bem… face à recusa da minha proposta, eu insisti, argumentei com as tuas garantias, com os avales, falei do interesse – também cultural – da empresa, da tua seriedade, do teu passado impoluto, disso tudo…”
“E?”
“E nada… mantiveram a recusa a partir dos novos critérios da gestão e etc. e tal. Eu re-insisti e acabei por propor que tu lá fosses, que falasses com o Senhor Administrador e lhe mostrasses, de viva voz, o que eu estava a advogar por mails e faxes… e o Senhor Administrador aceitou receber-te… e olha que o homem é um duro, não recebe ninguém… oeu nunca o vi… está lá, no seu gabinete, no último andar da sede… e dali comanda… e vai à televisão de vez em quando, fazer comentários políticos… tu já o viste, com certeza, e conheces o nome: é o Senhor Administrador …”
“´Tá bem, sei quem é… e então?”
“Então é assim: ele recebe-te e até já consegui que a secretária do Senhor Administrador te marcasse dia e hora para a entrevista… se estiveres de acordo, claro.”
“Claro que estou. Tenho alternativa?”
“Não me parece. Vai lá, vai. Vais à sede, a Lisboa. E…olha: boa sorte!”.

Saíra da Agência, daquele “ar de banco” para o ar livre, um pouco confuso, assarapantado seria o termo a escolher se tivesse de ser escolhido um.

2 comentários:

Maria disse...

Estou "em pulgas" para saber dessa conversa com o tal Senhor Administrador...
Tenho que esperar por sexta, não é?
Mas se calhar na sexta, é logo de manhã :)))

Sérgio Ribeiro disse...

Como a "coisa" está a sair (já tenho uma série de fasciculos agendados)... resolvi editar à 3ª, 5ª e sábado por me parecer que há um ritmo a manter. Para os leitores... para A LEITORA. Nem calculas, Maria, como estás a ajudar o "escritor do cordel"!