faz de conta que o que é, é!... avança o peão de rei.

...
o mistério difícil
em que ninguém repara
das rosas cansadas do dia a dia.

José Gomes Ferreira

sábado, 14 de março de 2009

ou ... "Uma História Com Final (aparentemente) Feliz!"

5.

O Homem entrou no táxi pela porta traseira e acomodou-se. Não era o seu costume. Não gostava daquela situação de dois homens num mesmo transporte público, um à frente a conduzir o outro lá atrás, que lhe ordenava onde ir sem qualquer comunicação entre eles. Como se fossem estranhos quando, pelo menos naqueles minutos que poderia durar “a corrida”, estavam ali fechados naquele habitáculo, companheiros de jornada…
Mas, desta vez, queria sossego para se poder concentrar na importante tarefa a que ia, que o esperava. Ou em que o Senhor Administrador o esperava a ele… Sorriu-se de novo.
Depois dos formais bons dias ao motorista do táxi, deu-lhe a indicação da sede do banco, na Baixa, e preparava-se para uma derradeira vista de olhos pelo interior da pasta.
Do banco da frente veio a pergunta que alguns dos taxistas lhe faziam, talvez para corresponderem à sua saudação e sempre correcta indicação de destino, ou apenas por atenção profissional: “Qual é o percurso que prefere?”.
Era assim que, habitualmente, começava uma conversa entre dois homens num táxi, o conduzido a responder que tanto lhe fazia, que o outro é que era o profissional, o condutor a dizer que o senhor podia ter preferências. E a contra-réplica de que não, o senhor é que tem o volante nas mãos e conhece os melhores percursos… mas logo seguido, para que a conversa não morresse ali e prosseguisse, pela indicação de que se fosse ele com o carro próprio iria por aqui e por ali, mas logo acrescentando que isto era sem ter em conta as faixas de rodagem dos transportes públicos… E assim costumava deslizar a conversa sobre quatro rodas, por vezes com apoio do que a rádio ia transmitindo e poderia interessar a dois homens em trânsito.
Desta vez, não. O Homem foi seco sem deixar de ser correcto, urbano. Ou não fosse ele assim e não estivesse na grande urbe. “O senhor é que sabe… é que é o profissional!”. E mais nada.
No entanto, quando um pouco à frente, o rádio transmitia o meio noticiário das meias horas, o condutor daquele táxi, que seria dos que gostam de conversa (porque há os que nem troco dão), ainda tentou comentar o resultado da véspera do Benfica, de que balouçava o galhardete pendurado no tablier. O Homem confirmou não pretender conversar com um polido “não ligo nada ao futebol, desculpe…”, mergulhando nas entranhas da pasta à procura de um papel solto que lhe parecia estar a faltar. Mas não estava.
Naquela hora de manhã a meio, já passada a avalanche do começo do dia e ainda cedo para a vaga intermédia do intervalo do almoço, o trajecto não teve engulhos de trânsito. Desceram a António Augusto de Aguiar, viraram à Fontes Pereira de Melo, rodearam o Marquês, desceram a Avenida e estavam na Baixa, com poucos vermelhos e não tendo pisado nenhum amarelo.
Pago o serviço e deixado o troco, o Homem viu-se à porta da sede do banco com um bem largo quarto de hora de avanço. Entrou num velho café, adaptado a pastelaria-snack e similares onde se faz de conta que se almoça as chamadas refeições ultra-rápidas, bebeu um café e uma água, sem se sentar porque a ansiedade começava a crescer, embora tivesse nascido já bem crescidota.
Encaminhou-se, contando os passos segundo a segundo para chegar à recepção mesmo à hora marcada. Apesar de todos os cálculos e contenções, estava frente à muito produzida secretária do Senhor Administrador com uns minutitos de avanço. Coisa de nada, mas que a esbelta funcionária não deixou de sublinhar com um sorriso muito profissional e o pedido que esperasse que ela o chamasse na sala que para isso servia, na sala de espera, porta ao lado.
Ali se sentou. O Homem e a sua pasta cheia de esperanças.

2 comentários:

Anónimo disse...

O homem e a sua pasta cheia de esperanças"... o que se irá passar a seguir?
Esperemos por 3ª fª.


Campaniça

Maria disse...

Ter de esperar por terça-feira para saber a resposta do Senhor Administrador... se é que a vai dar...

Abraço