As histórias ante(s)passadas também podem meter animais de estimação. E de recordações. Têm vindo a ser escritas a partir de fotografias em que tropeço e, desta vez, tropecei numa fotografia em que estou com… o Tarzan.
O Tarzan era o cão que entrou lá em casa quando eu era miúdo imberbe mas não louro. Crescemos juntos. Fizemos uma infância paralela, e ele terá envelhecido bem mais depressa que eu. Muitas estórias me vêm à memória, e uma me aparece como curiosa.
No quintal que tínhamos a sorte de ter no meio de Lisboa, entre a rua do Sol ao Rato – que, então, os carros subiam e desciam, e tinha estacionamento dos dois lados – e o pátio das traseiras, o cão fazia a sua vida, sem muito se incomodar com os gatos que por lá transitavam. Apenas os afugentava para não (n)o(s) incomodar.
Ao domingo de manhã o meu pai punha-lhe um açaime e saiamos os três para darmos passeios. O mais frequente era ao Parque Eduardo VII, que então era como ir ao campo… Brincávamos os três, mais os dois que os três que o meu pai não era muito para brincadeiras…, e um “número” habitual era um “diálogo” que o Tarzan entretecia com os cisnes, em mútua e crescente irritação.
Pois num desses domingos, se bem me lembro muito quente, voltávamos do passeio para o almoço em casa quando, ao começar a subir a Rua do Sol, vinha o Tarzan esbodegado, de língua de fora, de um desvão de uma carvoaria que havia ao lado de uma taberna um gato que por lá estava, num gesto traiçoeiro e maldoso – porque nada o justificava – estendeu a pata, de unhas de fora, e vá de arranhar o focinho do pobre cão, fugindo logo para o meio das sacas de carvão.
O Tarzan nem reagiu. Apenas mostrou espanto. E alguma dor. E irritação, claro.
Subimos o resto da rua e, ao chegar a casa, o meu pai teve o cuidado de desinfectar o focinho arranhado do nosso cão. O que mais o incomodou, apesar da aparente bonomia.
E assim parecia acabada a manhã de domingo quando, olhando pela janela da marquise vi o Tarzan em atitude inhabitual. Pata ante pata, aproximava-se do muro que tinha dois níveis e, quando um gato saltava de um para outro, o Tarzan, num salto belo e certeiro, apanhou-o no ar, pela espinha, sacudiu-o com zanga e raiva, e abandonou o corpo do gato já sem vida. Com desprezo. Quase nojo.
A partir desse dia, foram muitos os gatos que tiveram essa (má) sorte. Até começarem a evitar aquele quintal e os seus muros.
Não gostei de ver, mas compreendi o “meu Tarzan” e só recentemente fiz as pazes com os gatos.
O Tarzan era o cão que entrou lá em casa quando eu era miúdo imberbe mas não louro. Crescemos juntos. Fizemos uma infância paralela, e ele terá envelhecido bem mais depressa que eu. Muitas estórias me vêm à memória, e uma me aparece como curiosa.
No quintal que tínhamos a sorte de ter no meio de Lisboa, entre a rua do Sol ao Rato – que, então, os carros subiam e desciam, e tinha estacionamento dos dois lados – e o pátio das traseiras, o cão fazia a sua vida, sem muito se incomodar com os gatos que por lá transitavam. Apenas os afugentava para não (n)o(s) incomodar.
Ao domingo de manhã o meu pai punha-lhe um açaime e saiamos os três para darmos passeios. O mais frequente era ao Parque Eduardo VII, que então era como ir ao campo… Brincávamos os três, mais os dois que os três que o meu pai não era muito para brincadeiras…, e um “número” habitual era um “diálogo” que o Tarzan entretecia com os cisnes, em mútua e crescente irritação.
Pois num desses domingos, se bem me lembro muito quente, voltávamos do passeio para o almoço em casa quando, ao começar a subir a Rua do Sol, vinha o Tarzan esbodegado, de língua de fora, de um desvão de uma carvoaria que havia ao lado de uma taberna um gato que por lá estava, num gesto traiçoeiro e maldoso – porque nada o justificava – estendeu a pata, de unhas de fora, e vá de arranhar o focinho do pobre cão, fugindo logo para o meio das sacas de carvão.
O Tarzan nem reagiu. Apenas mostrou espanto. E alguma dor. E irritação, claro.
Subimos o resto da rua e, ao chegar a casa, o meu pai teve o cuidado de desinfectar o focinho arranhado do nosso cão. O que mais o incomodou, apesar da aparente bonomia.
E assim parecia acabada a manhã de domingo quando, olhando pela janela da marquise vi o Tarzan em atitude inhabitual. Pata ante pata, aproximava-se do muro que tinha dois níveis e, quando um gato saltava de um para outro, o Tarzan, num salto belo e certeiro, apanhou-o no ar, pela espinha, sacudiu-o com zanga e raiva, e abandonou o corpo do gato já sem vida. Com desprezo. Quase nojo.
A partir desse dia, foram muitos os gatos que tiveram essa (má) sorte. Até começarem a evitar aquele quintal e os seus muros.
Não gostei de ver, mas compreendi o “meu Tarzan” e só recentemente fiz as pazes com os gatos.
7 comentários:
Enternecedora história da tua infância.
O teu Tarzan era um lindíssimo pastor-alemão, são inteligentíssimos. Ele somente fez justiça pelas próprias “patas”. Arranhadela de gato, para além de ser perigoso (rapidamente infecta) é também dolorosa. Pobre do Tarzan deve ter sofrido muito.
Não sabia que nesse tempo já se usava o irritante açaime.
Adoro todas as "Histórias ante(s)passadas” mas esta especialmente.
GR
Eu cá não quero ser parcial(até porque não conheci o Tarzan), mas ele há gatos e gatos...e o Tarzan bem podia distingui-los :))
Bela história!
Esta história revela o quão sábia é a natureza. O cão ferido torna-se desconfiado do animal que o feriu.
É uma bonita história, ainda que algo desagradável (principalmente para os gatos)...
bjs
Esta,narração está óptima, e trouxe-me á memória, os nomes de cão que se usavam na época, e que eram Tarzan, Piloto, Tejo, Mondego,
Pirolito, isto nos machos porque as fêmeas eram chamadas de Princesa, Boneca,Flexa,Fadista, Branca, Farrusca.
Hoje é chic porem aos animais,nomes próprios de pessoas!
Bem observado, amigo.
Isto dos nomes e das "modas".
Uma tia minha tinha um Black e a última cadela (paixoneta) do meu pai era a Farrusca.
Tive, há pouco tempo, uma gatita que era a Gátia Vanessa, ilustrando a interpenetração dos nomes dos humanos com os seus bichos de estimação.
Ó Maria Albertina!
Um abraço
Bela história!
Ai carai carai, que a história me fez lembrar cena quase idêndica do meu "Brutus" de "raça" serra da estrela.
Até parece que o bicho marcava uma árvore com o número de gatos que ia abatendo!
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