faz de conta que o que é, é!... avança o peão de rei.

...
o mistério difícil
em que ninguém repara
das rosas cansadas do dia a dia.

José Gomes Ferreira

segunda-feira, 16 de junho de 2008

Brevíssima crónyca

De “sûpato”, como uma erupção vulcânica, daquelas que saem das entranhas do ser vivo de lava e fogo, veio… a crónyca. Porque o dia, como o fora, a exigia.
E o cronysta, quando é assim, só tem uma coisa a fazer. Dar às teclas, e deixar que se faça o parto do que vivo estava, prenhe e à espera do tempo. Nem que inventado fosse (o tempo… há lá coisa mais inventada!), nem que inventado tivesse de ser.




Brevíssima crónyca
de uma visita ao tempo do homem,
guiada por um homem do nosso tempo

Visitantes acidentais, de jeep o homem nos levou. Atravessámos paisagens… de admirar e fotografar, e chegámos a uma ampla esplanada por onde se espraiava o Côa, meio escondido na vegetação.
O homem pegou numa pequena haste de arbusto. O seu ponteiro, a sua batuta. O seu instrumento de trabalho.

Com a pequena haste de arbusto apontava e descobria(-nos) os riscos nas pedras, os traços, os desenhos, com o seu instrumento de trabalho desenhava os animais que tinham sido desenhados por outros que, antes dele, milhares de milhares de anos antes, os tinham desenhado. “Com esta pedra”, ou “com uma pedra como esta”. Ou raspando. Ou picando. Ou.


A cabeça, o dorso, a barriga, os pormenores cuidados, descuidadas as patas, como se sem importância para quem desenhara.
Porquê?, porquês?
Talvez porque. Uns dizem que será talvez por estas razões, outros que será talvez por razões aquelas. Há, também, os que dizem que assim é que foi e fica dito. Aqueles que dizem em definitivo porque por si é dito. Porque são eles os que sabem. Mesmo que pouco saibam.
Mas o “nosso homem” não. O nosso contemporâneo em tudo, o camarada!, diz talvez, e fala da procura, da busca, do estudo. Diz que se se chegou a um adquirido (talvez…), seja onde for, e do adquirido, do talvez adquirido…, se tem de partir para novos caminhos de dúvidas. Percorridos pelos homens. Que foram deixando estas marcas, estes sinais.
Sinais de quê? Sinais para quê? Talvez de. Talvez para.
“Vejam agora ali”. E, ouvido o dito, nós víamos. Desafiados a percorrer, com ele – que leu, que estudou, que discutiu –, caminhos por ele percorridos. Não um caminho, único, mas vários possíveis. Porque uns foram, e estão a ir, por ali, porque outros foram, e estão a ir, por acolá. E encontram-se frequentemente, uns e outros, para trocarem experiências.
E, quando se encontram, falam também de questões sindicais. E de política, e de políticas. De questões culturais e orçamentais. E da luta. Que tudo se junta no que visitáramos. Na busca milenar dos caminhos do homem.

8 comentários:

Anónimo disse...

Excelentíssima, belíssima crónyca!!!
Não consigo dizer mais nada. Apenas deixar um profundo suspiro de emoção. Ah!!!!!!

Campaniça

Justine disse...

E como eu gostei desta lição de materialismo histórico/poético :))

GR disse...

Gostei muito desta viagem.
Lugares calmos de rara beleza.
F. Côa bem precisa ser discutido politicamente, sindicalmente já nem se fala!

Crónyca? Bem visto!

GR

samuel disse...

É com grande satisfação (e proveito) que posso asseverar (boa palavra!) que tudo se passou conforme a crónyca cronica.

M. disse...

Gostei mesmo muito desta crónica. Especialíssima.

bettips disse...

Onde as palavras também se desenham... Que belo foi "saber" assim, com dúvidas emocionantes!
Obrigado, amigos!

Maria disse...

Que excelente passeio, e que bela crónica...

Sal disse...

É uma zona lindíssima.
E a conversa, por ali, também se faz muito nos outros planos.
No ano passado ouvi dizer que o parque de Foz Côa nem orçamento para fotocópias tinha...
Que país!