De muitos que nós somos só resta a memória dos que por cá ainda andam.
Assim comecei estas estórias. Que agora recomeço.E comecei-as pelo meu avô materno, Albino Ferreira, homem muito respeitável e sempre pontual, era, quando o conheci, um reformado da Administração-Geral do porto de Lisboa. Recordei-o, então, nessa primeira das recordações, como reformado, que até me parece que o teria sido sempre...
Bonacheirão, jogador de dominó no Jardim Cinema, o seu corpanzil não lembrava o atleta que se vangloriava de ter sido, levantador de pesos e halteres, como o provavam fotografias que gostava de mostrar aos netos. Para os estimular...
Algumas coisas dele terei herdado, como o gosto de trabalhar o físico - que a mim não me passou com a idade - e o de escrever pecinhas de teatro, que a mim veio com a idade.
Mas há uma estória que quero contar.
Numa das excursões que o meu pai organizou a Vila Nova de Ourém, dos oureenses a residir em Lisboa e respectivas famílias mobilizadas, entre os mobilizadas estavam os sogros daquele incurável "oureense nº 1". Tudo correu muito bem, todos muito bem recebidos, com visitas aos lugares de uso e um almoço dos bem fartos e regados. Tinha então o "palhete" qualidades excelsas, por excelsas querendo dizer-se bom paladar, beber fácil e melhor capacidade de trepar por dentro de quem mais que o provasse e não desconfiasse dele.
Assim aconteceu ao meu avô.
No regresso, em camioneta que então fazia o caminho em mais de três horas, passando por Torres Novas, Pernes, Santarém, Cartaxo, Vila Franca, o meu avô dormiu regaladamente e foi directo da garagem para a cama, sem ter acordado no táxi.
Pelo menos foi assim que me contaram. Assim como me contaram que, no dia seguinte, reunidos os excursionistas para acertar contas, o meu avô lamentou não ter visitado os tão falados Castelos protestando por não se ter cumprido parte do programa. Ninguém o quis desmentir, e teve de se esperar pela revelação das fotografias - que então duravam uma eternidade - para lhe provar que, afinal, tinha visitado os Castelos, e em equilíbrio instável só compensado pelo apoio da minha pequena avó Damásia.
Coisas do "palhete"!
5 comentários:
Antes palhete que xanax... :))))
Tenho que sorrir com estas estórias...
... e olha que devia ser um "palhete" muito carregado...
(a garrafa dos 17º, a tal, está guardada. à espera de arranjar mais, para todos...)
Nãaaaaao, foi uma pequena amnésia, e o pavimento à época era muito instável...:))
Mais uma fabulosa história.
Um homenzarrão, perto da tão pequena avó Damásia.
Mas com palheto ou sem ele, gostava de convívio.
Afinal está no sangue a cortesia do bem receber e orgulharem-se da bela terra de Ourém.
GR
Mais uma fabulosa história.
O teu avô era um homenzarrão, perto da tão pequena avó Damásia.
Mas com palheto ou sem ele, gostava de convívio.
Afinal está no sangue a cortesia do bem receber e orgulharem-se da bela terra de Ourém.
GR
Estou com a Justine.
Um homem já não pode ter uma branca (como diria Shaka Zulu) e ainda por cima levam-no a passear em empedrados endemoninhados...
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