faz de conta que o que é, é!... avança o peão de rei.

...
o mistério difícil
em que ninguém repara
das rosas cansadas do dia a dia.

José Gomes Ferreira

quarta-feira, 25 de junho de 2008

Histórias ante(s)passadas - 21

Desta vez não foi numa fotografia que tropecei. A fotografia, essa que está aí, de um dia chuvoso de há 60 anos no quintal da Rua do Sol ao Rato, estava ao pé da outra, da da estória anterior, ambas de uma Kodak, a minha primeira máquina fotográfica que, recordo-me bem, me custou 90 escudos, ou seja, o equivalente a 45 cêntimos de euro (porque não se diz centavos?… o que isto me irrita!). Mas adiante… senão não há estória.
Então vamos lá.
No que tropecei foi em comentários que algumas sensibilidades mais delicadas (ou felinas)fizeram à reacção do Tarzan arranhado pelo gato da carvoaria do começo da rua e correspondente sentença para tempos futuros. E eram injustos os comentários para com o “meu cão”. Ora, quando tropeço em injustiças tenho de reagir (como se um gato me tivesse arranhado…).
O Tarzan não merecia que, e por minha culpa, se ficasse dele com um juízo injusto, até porque só baseado num episódio. Por isso, conto outro.
Foi o caso de, no fundo do pequeno quintal, o meu pai, saudoso do Zambujal, seu torrão natal (e pára a rima!), ter construído uma capoeira que também coelheira era. E vivia lá pelo menos um casal de coelhos porque deu ninhada.
O caso é que a mãe-coelha, numa excepção ao que a mãe-natureza nos ensina como regra, tinha a aberração de matar os filhotes. Pa evitar o que ainda havia para evitar, o meu pai levantou uma divisória que passou a fazer um T2, separando a mãe-coelha dos sobreviventes filhos-coelhos.
Tudo isto me impressionou muito. E ao Tarzan.

Aconteceu que um dia, em que a minha mãe estava na cozinha a preparar refeições, ou noutras lidas domésticas, o Tarzan veio lá do quintal, com ar muito ansioso, aflito, e começou a puxar pelo avental da dona e quase a arrastou até à capoeira-coelheira. É que a malvada da coelha derrubara o (mal) carpinteirado muro de tábuas e pregos, e completaria o seu assassino atentado às leis da natureza (era uma serial-killer!) não tivesse havido aquela pronta intervenção do Tarzan.
No fim do dia, isto foi contado a quem regressava da “volta pelos clientes” e do liceu, e o Tarzan ficou, para mim e em definitivo, o “rei da(quela) selva”!

10 comentários:

Justine disse...

Ficou apenas provado, com a tua história bem contada, que o Tarzan era inteligente e não gostava de crimes em série, mesmo sendo cometidos por coelhas :))

Anónimo disse...

Sérgio de coelhos eu percebo um bocadinho, pois já cheguei a ter 70 nesta altura do ano era a matança,10 ou 15 de cada vez,, esfolados ,pendurados a enxugar pareciam cabritinhos, prontinhos a ir para o tacho.
mas agora vanos ao porquê das coelhas matarem os filhos:- a explicação ténico-científica é a de que o animal é surda, por tal facto não ouve os filhos, daí resulta tratálos como intrusos, (matando-os)....e esta hém!
O Tarzan deve ter-se apercebido do barulho que os láparos faziam ao serm mortos, e claro deu o alerta: bonita acção!
Afinal, eu tambem ensino algumas coisitas.))

Anónimo disse...

Eu tenho dois amores no reino animal: - os cães e os gatos. Penso que o Tarzan, um amor de cão, reagia como o instinto de vingança próprio da raça canina quando fazia as grandes patifarias aos gatinhos, com a
a explicação que o Sérgio deu e que para ele fazia todo o sentido.
No entanto, ao defender os pobres coelhinhos da loucura da projenitora desnaturada, transcendeu a sua espécie e humanizou-se. Foi muito nobre e comovente da parte do Tarzan que deve ter sido um grande companheiro.
(Acham que,depois desta minha defesa, me vão contratar para advogada de cães?)

samuel disse...

E assim está criada e a dar os primeiros passos a "Comissão Nacional para a Reabilitação do Tarzan".
Dedução típica de "psicologia de mini-mercado": Depois desse episódio com a coelha, o Tarzan deixou de ser apreciador da "Playboy".

GR disse...

O Tarzan era, é! pois ficará para sempre na tua memória, um cão lindíssimo.
Aliás, não existem cães feios. Estes animais têm várias características, são;
leais, carinhosos, compreensivos, inteligentes, corajosos, adoram viver em sociedade, pedindo uma só coisa, afecto e atenção.
Mais uma história de amor e dedicação.
Podemos esquecer o nome de alguém que já conhecemos, não nos lembrarmos do anel de ouro que perdemos, da viagem que já fizemos, do familiar que nunca mais nos visitou. Mas de um cão, Não! Estará sempre na nossa memória e lembrámo-lo com tanta saudade e comoção.

Sérgio e todos os comentadores,

Neste período de férias um livro, (despreocupado) mas muito bonito. Descreve-nos as relações humanas, através de um cão.

Marley & Eu: A vida e o amor do pior cão do mundo (2006)
John Grogan
Editora: Casa da Letras
14€

GR

Anónimo disse...

É só para dizer que a "advogada dos câes" sou eu, a Campaniça.

Campaniça

Anónimo disse...

Cá estou eu outra vez e agora com um tira-nódoas.É para apagar a nódoa de ter escrito "progenitora" com "j".

Campaniça

Sérgio Ribeiro disse...

Estás nomeada, campaniça!
E quanto às "nódoas" tinhas muito trabalho a fazer se a tanto te dedicasses para além daquelas que (te) corriges (é com g ou com j?) nos teus comentários.
Beijos

Sal disse...

Eu tive um cão chamado Sandokan!
Não tem nada a ver com a tua história, mas, lembrei-me, de repente!
O Tarzan era um cão esperto!
A coelha não batia bem da bola!
E este post é giríssimo!
;)))


beijinhos

GR disse...

Passei só para dar os parabéns à Campaniça, nomeada Advogada dos Cães. com o meu voto, também.

GR