“… até estava a dar muito boa conta do recado… Mas vai para França… vai ter com o Xico da Soutaria, que foi para lá há para aí uns dois anos mas que veio cá neste verão. Às escondidas. Parece que acertaram tudo… Vão casar. Vai amanhã. De comboio. Arranjou papéis e tudo … A rapariga é mulher danada!”
O meu pai, já afundado no sofá coçado e perfeitamente afeito aos volumes do seu corpo, mergulhou os olhos no jornal, não sem antes ter deixado a sua sentença, resmungada e quase inaudível, mas que andava à volta de qualquer coisa como ingratos e mal-agradecidos.
A minha mãe continuou, como se nada tivesse ouvido mas respondendo a um e dirigindo-se – parecia-me… – a outro. “Pois é! Vamos ficar descalços… Mas já esperava. Não foi surpresa. Ela tinha-me avisado quando fizemos o ajuste. É namoro antigo… e se calhar eles apressaram-se… É lá com eles. Que sejam felizes. Nós cá nos arranjaremos. Não é, filho?”. Levantei-me da mesa, dei-lhe um beijo e fugi para o meu quarto.
Era verdade, lembrava-me bem do Xico, com mais um ou dois anos que eu, companheiro de brincadeiras de cachopos e, depois, da bola e dos copos. Do que me tinha esquecido é que, entre miúdos, se dizia que ele andava de beicinho pela Júlia, que a queria para conversada. Depois, como se, para mim, ele tivesse crescido de repente, soube que abalara “de salto”, esse caminho feito por tantos e tantos jovens da aldeia, alguns antes de irem às sortes.
Mas estava em estado de choque. Incapaz de juntar duas ideias. Já não sai do quarto, como às vezes fazia quando tinha matérias para estudar. E se tinha!… mas não eram da universidade.
Dormi mal, sobressaltado. De manhã, ainda mais cedo que o costume, levantei-me excitado, nervoso. Não queria tomar qualquer iniciativa. Vi que tinha sido o primeiro a levantar-me. Demorei-me na casa de banho. Ela não foi ter comigo.
Não aguentava mais. Arranjei-me à pressa e procurei-a. Estava na cozinha, atarefada, numa grande (ou simulada) azáfama.
O meu pai, já afundado no sofá coçado e perfeitamente afeito aos volumes do seu corpo, mergulhou os olhos no jornal, não sem antes ter deixado a sua sentença, resmungada e quase inaudível, mas que andava à volta de qualquer coisa como ingratos e mal-agradecidos.
A minha mãe continuou, como se nada tivesse ouvido mas respondendo a um e dirigindo-se – parecia-me… – a outro. “Pois é! Vamos ficar descalços… Mas já esperava. Não foi surpresa. Ela tinha-me avisado quando fizemos o ajuste. É namoro antigo… e se calhar eles apressaram-se… É lá com eles. Que sejam felizes. Nós cá nos arranjaremos. Não é, filho?”. Levantei-me da mesa, dei-lhe um beijo e fugi para o meu quarto.
Era verdade, lembrava-me bem do Xico, com mais um ou dois anos que eu, companheiro de brincadeiras de cachopos e, depois, da bola e dos copos. Do que me tinha esquecido é que, entre miúdos, se dizia que ele andava de beicinho pela Júlia, que a queria para conversada. Depois, como se, para mim, ele tivesse crescido de repente, soube que abalara “de salto”, esse caminho feito por tantos e tantos jovens da aldeia, alguns antes de irem às sortes.
Mas estava em estado de choque. Incapaz de juntar duas ideias. Já não sai do quarto, como às vezes fazia quando tinha matérias para estudar. E se tinha!… mas não eram da universidade.
Dormi mal, sobressaltado. De manhã, ainda mais cedo que o costume, levantei-me excitado, nervoso. Não queria tomar qualquer iniciativa. Vi que tinha sido o primeiro a levantar-me. Demorei-me na casa de banho. Ela não foi ter comigo.
Não aguentava mais. Arranjei-me à pressa e procurei-a. Estava na cozinha, atarefada, numa grande (ou simulada) azáfama.
.
.
(amanhã termina esta estória, episódio de um "livro na gaveta",
ficções... do cordel)
3 comentários:
Como classificar Júlia? A pobre Júlia!
Talvez gostasse mesmo do menino JL. Porém, sabia-o bem, era um “amor” impossível, não só para ela mas, sobretudo para ele o JL.
Estará grávida? O pai será o “silêncio” , com nome de Xico!
Estará a sofrer, por ter que ir para terras de longínquas? Pobre Júlia!
Como a maioria dos rapazes há um período, em que eles não utilizam o cérebro para pensar, especialmente na adolescência, depois… “coitadinhos” sentem-se tristes, vítimas da má sorte, desamparados, abandonados! Até encontrar a próxima amiga, conhecida, começando novo fleurt.
GR
..."que a queria para conversada"...
Acho que não lia esta expressão há décadas...
Era a vida, na época. A abalada para França ou outro país à espera de um futuro que aqui não era promissor.
Situação que, infelizmente, já começa a sentir por aqui... e ei-los que partem, outra vez...
O João Luís vai ter na sua vida de rapaz de 17 anos (quase 18) outras experiências idênticas.. tantas....
Um beijo ao João Luís...
Outro para o Autor (que ontem esteve muito bem, e que vou rever agora...)
Ah! minhas amigas.. que bom ler-vos. Estou publicando isto, que estava na gaveta, entre centenas de páginas de esboços, e, ao reescrevê-lo para aqui, nem calculam as ajudas que, por vezes, me deram...
Vou terminar o episódio e é mais um "original" que fica em dívida para com vocês. Desculpem o atraso mas, sabem?..., de vez em quando tenho tarefas como aquela que viram na TV... atiram-me aos lobos, à selva. E lá vou eu, contrafeito que aqui é que estou bem. Mas, depois, fico satisfeito embora a perturbação na minha vida seja enorme. Um dia destes sai prosa sobre isto...
E tu, Maria, tiveste coragme de aquentar uma 2ª edição na RTPN? Pois eu estive até às 4 e 1/2 a ver aquilo. Para a autocrítica... e também um bocadinho para o narciso.
Abreijos.
Enviar um comentário