faz de conta que o que é, é!... avança o peão de rei.

...
o mistério difícil
em que ninguém repara
das rosas cansadas do dia a dia.

José Gomes Ferreira

sexta-feira, 2 de novembro de 2007

A morte da adolescência - 7

“Ai a louça!... Olh’a louça!...”, como se a loiça tivesse alguma importância, como se fosse a coisa mais valiosa no mundo. “Quero lá saber da loiça… pode partir-se toda… quero-te é a ti!”.

Tentou (ou quis?) virar-se. Só afrouxei o abraço quanto bastasse para que se voltasse. Vi-lhe a cara afogueada, os olhos brilhantes, os lábios húmidos. Procurei-lhe a boca. Fugiu com a cara, simulou uma tímida resistência sem palavras.

Enquanto a apertava com um braço, procurava meter a mão dentro da blusa, já meio desabotoada, para chegar aos seios rijos e macios que saltavam do soutien. A toalha caiu-me aos pés, e o meu sexo em riste aninhou-se entre as coxas que, debaixo da saia, se entreabriam e apertavam.

Num cada vez mais estreito corpo-a-corpo, chegámos à minha cama, acabada de fazer, e mergulhámos numa confusão de roupa que se puxava, que se abria, se arrancava, desconhecendo botões, colchetes, molas.

Do silêncio sem palavras passámos às palavras sem sentido, às frases sem nexo, aos pedidos mordidos de boca a boca, às súplicas estranguladas, aos respirares ofegantes. A um ruído surdo.

Arranquei-lhe as cuecas já remendadas como farrapos velhos. Penetrei-a como quem rompe, como quem rasga. Era uma luta, uma batalha. Mas ela lutava comigo, não contra mim. E fincava as unhas nas minhas costas, acelerava com as mãos nas minhas nádegas os meus movimentos.

O meu orgasmo foi rápido, brutal, e inundou-a e à roupa da cama.

O nosso prazer parecia estar na corrida sem freio, não no prazer de correr. Estava no final da corrida. Ou talvez tivesse sido mesmo uma luta, uma batalha. Sem derrotados, mas em que a maior vitória seria a de quem começara por mostrar (ou mostrar-se) que resistia e, aparentemente vencido, se entregara. Mas qual de nós assim fizera? Ou tínhamo-lo feito os dois?

Aquele longo abraço, tão lutado e tão curto, durara a eternidade de uns breves minutos.

Ficámos de costas, lado a lado, olhando o tecto, vendo mais uma vez – mas com olhos diferentes – os desenhos dos nós da madeira.

“E agora?, e agora?”

3 comentários:

Maria disse...

E agora?
Agora continua a contar a estória rapidinho, porque está muito animada....
Aqui para nós a Júlia sabia muito bem o que estava a fazer, preparou o esquema todo, de balde pra cá, balde pra lá, loiça prá qui, loiça pr'acolá e o João Luís.... lá teve que ser...
E agora, autor?

Anónimo disse...

Esta personagem, a Júlia, é chave no "romance" em que o episódio que, a ver do autor, se podia autonomizar e "blogar". E o episódio, que é uma viagem às recordações (vivas, muito vivas!) do narrador serve para a caracterizar. Uma personagem que o autor criou mas que, como parece que acontece com todos os autores, a viu fugir-lhe das mãos e foi conduzindo o autor (como narrador, diga-se!, à cautela de outras interpretações malévolas que possam pensar em vertentes auto-biográficas) para aquilo que ela muito bem queria. Vê-se... ou lê-se!
E ainda se vai ver melhor.

Bom dia, Maria!

GR disse...

E agora?!!!
Para já prevalece o prazer entre um jovem no começo das descobertas e Júlia.
Uma felicidade momentânea! e depois???
JL, juizinho!

GR