faz de conta que o que é, é!... avança o peão de rei.

...
o mistério difícil
em que ninguém repara
das rosas cansadas do dia a dia.

José Gomes Ferreira

sexta-feira, 2 de novembro de 2007

A morte da adolescência - 6

Refugiei-me na casa de banho e no ritual do duche.

Mas chegava lá a voz que mais alto cantava e parecia perseguir-me.

Preparei o duche, com maior rapidez que o habitual, e deixei cair a água sobre o corpo suado que tremia. E não era de frio…

O cheiro bom ao fumo da lenha, que se misturara na quentura da água deu-me curtas tréguas na obsessão daquela voz, daquela mulher que adivinhava a fazer a minha cama.

Ensaboei-me todo, vagarosamente, e, esquecido do espelho, dos músculos, das poses “à Charles Atlas”, demorei-me a acariciar o sexo, deixando-o crescer, encher-me a mão. Comecei os movimentos que me levariam ao orgasmo, com a espuma do sabão a ajudar a fricção e a aumentar o prazer… Mas parei. Sem dificuldade.

Fiz escorrer o sabão, enrolei uma toalha à volta da cintura e regressei ao sol. Trouxe o espelho para o terraço e comecei, enquanto o sol me enxugava o corpo, a fazer as poses da “tensão dinâmica”, as duas mãos opondo-se e resistindo, torções do tronco em esforço, rodar a cabeça para os músculos do pescoço. Tentando concentrar-me. Não ouvir nada, não (pre)sentir nada.

Mas sabia que não estava só, que era observado pelo canto de uns olhos, através da porta da cozinha. Caíra um silêncio pesado em toda a volta. Ou só se ouvia o coração e as artérias batendo dentro dos corpos.

Era preciso dizer ou fazer alguma coisa, quebrar aquela crosta, sair daquele lago-pântano, saltar das areias movediças “ó! Júlia… há aí leite?”, “atão nã havera d’haver?... quer qu’aqueça?... com tantas ginásticas deve estar com fome… quer que lho leve?”, “não, não!... eu vou aí…”.

Em dois saltos, entrei pela cozinha adentro “ai, credo!, inté m’assustou… veja lá se lhe cai a toalha…”. Riu com os dentes todos. E os olhos. “Se calhar, vias alguma coisa que nunca viste…”, “… se calhar, via… se calhar, não...”.

Os nossos corpos estavam muito perto. Quase se tocavam. Ouviamo-nos as respirações. De costas para mim, a Júlia lavava a loiça do pequeno-almoço. Quando acabei de beber o leite, ao pôr o copo junto da outra loiça, deixei o meu braço roçar o corpo dela “olh’a louça!... ai a louça!”. E mimou um cuidado exagerado para que os copos, e os pratos, e as canecas, não se partissem, enquanto os nossos corpos se tocavam abertamente, o meu peito nu nas suas costas, sem mais palavras ou disfarces. O meu braço rodeou-lhe a cintura e apertou-a contra mim. Riu um riso outro, nervoso, e os nossos corpos moldaram-se. O meu sexo encostou-se ao redondo das nádegas bem desenhadas. As minhas mãos subiram até aos seios, e agarraram, e apertaram, e procuraram a carne quente e fresca, tensa.

3 comentários:

Maria disse...

Isto não se faz.... parar na melhor parte...
Os jovens de 17 / 18 anos não páram assim....
hehehehehehehehehe!

Anónimo disse...

Ah pois não!

GR disse...

O jovenzinho não perdia tempo!!!
Quero-me rir se os pais entram!
Porém, um rapazinho com 17 anos nqda mais há a esperar!

GR