Há uns três anos, numa série de 10 "posts" em que contei, aqui, uma ficção do cordel a que chamei O Puto Reguila, germinada – como todas a ficções, de cordel ou não – em vivências, estas de uns anos antes, escrevi o que segue:
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«(…) Um dia, mostrei lhe um calendário, daqueles pequenos, tipo auto-colante, que me fora enviado pelos serviços de turismo de um qualquer país longínquo. O Toino ficou entusiasmado. Sem que ele mo pedisse, porque não era do género de pedir coisas, dei lho. Os olhos riram-se-lhe, meteu-o dentro da camisa e abalou com um obrigado em surdina mas bem lá do fundo dele.
Assim se criou uma espécie de costume. Ele começou a fazer colecção de calendários com motivos vários, e eu passei a ser o seu fornecedor.
Nalguns casos, acompanhado o fornecimento por pequenas conversas sobre os motivos escolhidos para nos informarem, ou influenciarem, no verso, a pretexto de, no reverso, nos fazerem a oferta de um pequeno rectângulo de cartolina com a organização dos dias do ano que está para chegar ou que começou há pouco.(…)»
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Assim se criou uma espécie de costume. Ele começou a fazer colecção de calendários com motivos vários, e eu passei a ser o seu fornecedor.
Nalguns casos, acompanhado o fornecimento por pequenas conversas sobre os motivos escolhidos para nos informarem, ou influenciarem, no verso, a pretexto de, no reverso, nos fazerem a oferta de um pequeno rectângulo de cartolina com a organização dos dias do ano que está para chegar ou que começou há pouco.(…)»
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Anos passaram sobre isto que escrevi e publiquei, estes que nos trouxeram ao ano em que estamos, e encontrei hoje o inspirador do “puto reguila”. Na Festa do Zambujal. Está com 27 anos, vive (e trabalha!) em Paris… faz a sua vida. Fiquei contente.
Só que. Só que falámos sobre o passado, e sobre o que escrevi a propósito de um certo puto reguila. Começou por de rir, depois como que uma cortina desceu sobre os seus olhos: “… sabe?... cheguei aos 17 mil calendários e auto-colantes… arrumava-os, metia-os em pastas… eram o meu tesouro!... um dia, meu pai, numa das suas fúrias, foi-se a elas e queimou-as todas… mas não quero falar disso!”.
Eu também não! Ou quero?... Talvez noutra ocasião.
Felicidades lá por Paris, “puto reguila”.
Eu também não! Ou quero?... Talvez noutra ocasião.
Felicidades lá por Paris, “puto reguila”.
1 comentário:
Os pequenos (ou grandes) crimes caseiros! A incompreensão perante tanta insensibilidade paterna (ou maldade?)
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