IV
Tantos anos foram,
desde os 40 do seu nascimento
aos primeiros do novo milénio.
.
Nunca ele, por um momento, parou para pensar.
A sua vida foi só trabalhar e mais trabalhar,
labuta e mais labuta.
Desenrascou-se, "debruiou-se" c’est tout.
.
E disse e voltou a dizer que nunca nada quis com a política,
que a sua política sempre foi o trabalho!
(Como se o trabalho não fosse a política!...)
Mas sempre humano, solidário,
ajudando como ajudado fora.
.
Sabia, agora, que não gostara do fascismo,
que, no “salto”, também fugira à guerra colonial,
festejou e sentiu orgulho quando a sua Pátria foi Abril,
que abria as páginas dos jornais,
na admiração e na esperança dos demais
- foi quando pôs a bandeira portuguesa, bem à vista!, no vidro traseiro do Renault –
… mas depressa passou, apesar do muito que ficou.
Acreditou nas reacções que a reacção inventou,
no sangue nas ruas, no Alentejo a ferro e fogo,
num País com fronteira em Rio Maior,
e pior!
.
Por essas alturas, viera à terra, à aldeia,
aqui, ouviu do mel e do fel, cantou Grândola e viu a coisa feia,
chegou a entrar em conversas e discussões,
falou de experiências e do Marchais,
contou, com algum entusiasmo, da CGT e de manifs
que nunca fizera mas soubera,
mas foi, também, anti-comunista,
no meio de tantas invenções e provocações.
Aos poucos, triste, voltou às suas tamanquinhas
- de que nunca saíra... -,
sem saber quanto ganhara, quanto perdera,
quanto ficara nele desse tempo que, sendo nosso, dele fora. E é!
.
Talvez, desse tempo, tenho guardado a vontade do retorno,
foi então que vendeu (pouco), trocou, comprou (umas coisitas…),
e começou a pensar em construir.
Para quando chegasse a retraite!
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