faz de conta que o que é, é!... avança o peão de rei.

...
o mistério difícil
em que ninguém repara
das rosas cansadas do dia a dia.

José Gomes Ferreira

quarta-feira, 9 de julho de 2008

Histórias ante(s)passadas - 22

O curriculum do meu tio Cardoso pode alimentar muitas estórias ante(s)passadas. Dava pano para muitas mangas.
Casou com a minha tia Ermelinda, irmã de minha mãe, no mesmo dia em que esta casou com o meu pai. No dia 10 de Junho de 1933. Já aqui o disse, e mostrei fotografias.
Em devido tempo as duas manas se anunciaram grávidas… que então, nas “boas famílias”, essas coisas só aconteciam nos devidos tempos. Embora também nas “boas famílias” houvesse atropelos às regras e aos tempos. Mas eram coisas a manter em recato.
Em Julho de 1934, de minha tia Ermelinda nasceu o meu primo José Luís, e de minha mãe Judite morta nasceu uma menina que foi toda a vida (que não teve) muito chorada como a irmã que eu não tive, eu que nasci em Dezembro de 1935.
Mas que tem isto a ver com o meu tio Cardoso?
O tio Cardoso, Joaquim como meu pai, filho de sapateiro como meu pai era, o dele de vão de escada em prédio na Calçada Marquês de Abrantes, de que a mãe – a avó do Zé Luís – era porteira, tinha o vício do jogo. Mesmo a sério!
Era Joaquim Cardoso, ao que fui sabendo, um excelente profissional administrativo, um guarda-livros, homem de confiança numa qualquer empresa.
(Se estou a ser impreciso é porque esta estória é tão ante(s)passada que é de antes de eu ter nascido e faz parte das tais coisas de que se não falava, que ficavam a recato…)
O caso é que, ao crescer me foi sendo comunicado, com cuidados e caldos de galinha, que o meu tio Cardoso estava na Penitenciária, e eu conheci-o, já com meses a somarem anos – por serem mais de 12 ou de 24 – em visitas a que fui levado para o conhecer e para ele ver como eu crescia.
Preso… mas porquê? Lá descobri – a custo – que se servira de dinheiros que lhe passavam confiadamente pelas mãos para ver se a sorte do jogo o ajudava e, depois, para ver se recuperava o que o azar do jogo lhe dera como (má) sorte, e por aí fora até à Penitenciária.
Gostei do homem. Era alentejano, do Redondo, tinha mesmo cara e jeito de boa pessoa, afável, bonacheirão. E tinha… mistério. Aliás, ainda hoje essa história me parece mal contada porque cedo comecei a perceber que a pena de 10 anos era desproporcionada para o crime que diziam ter cometido. Mas isso fica para outras estórias. Para esta, fica só o registo de que o meu tio Cardoso assim me livrou de ser eu o primeiro cadastrado da família…

5 comentários:

Anónimo disse...
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Anónimo disse...
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Anónimo disse...
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Maria disse...

Não pude deixar de sorrir com a última frase do post...
Se fossem aplicar agora os tais 10 anos proporcionalmente ao que se faz por aí hoje, vê lá quantos anos os que estão agora a falar na AR levariam...

Abreijos

Justine disse...

Há sempre uma "ovelha" destas nas famílias, não é? E às vezes são os melhores, em tantos aspectos...