Não haveria ficção sem a memória. E a memória perde-se, esfuma-se, torna-se, por vezes, ficção involuntária. De muitos que nós somos só resta a memória dos que por cá ainda andam. Todos temos pai e mãe, mas nem todos estamos certos de ter filhos e netos que nos lembrem nas histórias por nós ante(s)passadas.
Sinto necessidade de contar algumas. Para que não acabem comigo alguns restos da vida daqueles a quem tem tanto devo do que sou, e – até! – a quem devo o ser.
Judite, a senhora minha mãe que, quando escrevi este texto completara 96 anos de vida, era a mais parecida das três irmãs com a minha avó Damásia. Não sei – nunca o saberei – onde terminava a ingenuidade e o desconhecimento e onde começava uma sabida auto-defesa, uma certa fuga à realidade.
Sobre ela e esta dúvida, que nunca resolverei, tenho algumas histórias ante(s)passadas, de um viver submisso escondendo uma latente rebeldia.
Esta não será uma história exemplar, por várias razões, mas ainda hoje rio quando a lembro.
A “criada” (assim se dizia) que estivera lá em casa, estranhamente não ida de Ourém, logo nos primeiros dias se mostrara muito atrevida nos “avanços” ao menino da casa que eu era. E se um homem não é de pau, quando não se tem ainda 20 anos e o sangue pulsa a carne é ainda mais fraca...
Sinto necessidade de contar algumas. Para que não acabem comigo alguns restos da vida daqueles a quem tem tanto devo do que sou, e – até! – a quem devo o ser.
Judite, a senhora minha mãe que, quando escrevi este texto completara 96 anos de vida, era a mais parecida das três irmãs com a minha avó Damásia. Não sei – nunca o saberei – onde terminava a ingenuidade e o desconhecimento e onde começava uma sabida auto-defesa, uma certa fuga à realidade.
Sobre ela e esta dúvida, que nunca resolverei, tenho algumas histórias ante(s)passadas, de um viver submisso escondendo uma latente rebeldia.
Esta não será uma história exemplar, por várias razões, mas ainda hoje rio quando a lembro.
A “criada” (assim se dizia) que estivera lá em casa, estranhamente não ida de Ourém, logo nos primeiros dias se mostrara muito atrevida nos “avanços” ao menino da casa que eu era. E se um homem não é de pau, quando não se tem ainda 20 anos e o sangue pulsa a carne é ainda mais fraca...
O caso é que pouco tempo lá esteve connosco porque era, como logo me apercebi, uma ave de arribação e outros voos.
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Naquela tarde, em que ficara em casa a preparar um teste a caminho, quando passava de onde estudava, para a casa de banho, fui surpreendido com a chegada, pela porta da cozinha, da que fora nossa “criada” e de uma irmã mais velha. Queriam falar com a minha mãe e as caras eram de poucos amigos (ou amigas).
Recolhi à mesa de trabalho (ou fugi?), mergulhei nos livros e apontamentos, mas a minha atenção estava a uns escassos metros dali e atravessava portas fechadas que não impediam que me chegassem aos ouvidos vozes relativamente alteradas.
Que se estaria a passar, perguntava-me a não muito tranquila consciência?
Depois, houve uma porta que se fechou com algum estrondo e um silêncio. Pesado, anunciador de tempestade.
Logo me entra a minha mãe onde eu estava e, em lágrimas se agarra a mim e soluça “Ai, Sérgio, o que o teu pai fez?! Tirou a virgindade à rapariga…”.
O meu riso, de surpresa, quase garagalhada nervosa, de descompressão, incontrolada, mudou por completo o cenário. As lágrimas de minha mãe estancaram repentinamente. Num relance deve ter percebido tudo.
Só disse “Vocês…” e saiu porta fora.
Não chegou a haver crise…
Naquela tarde, em que ficara em casa a preparar um teste a caminho, quando passava de onde estudava, para a casa de banho, fui surpreendido com a chegada, pela porta da cozinha, da que fora nossa “criada” e de uma irmã mais velha. Queriam falar com a minha mãe e as caras eram de poucos amigos (ou amigas).
Recolhi à mesa de trabalho (ou fugi?), mergulhei nos livros e apontamentos, mas a minha atenção estava a uns escassos metros dali e atravessava portas fechadas que não impediam que me chegassem aos ouvidos vozes relativamente alteradas.
Que se estaria a passar, perguntava-me a não muito tranquila consciência?
Depois, houve uma porta que se fechou com algum estrondo e um silêncio. Pesado, anunciador de tempestade.
Logo me entra a minha mãe onde eu estava e, em lágrimas se agarra a mim e soluça “Ai, Sérgio, o que o teu pai fez?! Tirou a virgindade à rapariga…”.
O meu riso, de surpresa, quase garagalhada nervosa, de descompressão, incontrolada, mudou por completo o cenário. As lágrimas de minha mãe estancaram repentinamente. Num relance deve ter percebido tudo.
Só disse “Vocês…” e saiu porta fora.
Não chegou a haver crise…
10 comentários:
Pois claro, é homem, estas coisas compreendem-se, e têm de ser desculpadas, etc., etc., e rebéubéu pardais ao ninho...
Não posso deixar de sorrir....
Lembrei-me de outra estória contada aqui também com uma "criada", mas essa, a estória, tinha a ver com uma tal mudança de roupa de cama...
E a vossa cumplicidade... ela só poderia dizer mesmo o que disse e ir porta fora...
Olhó alívio... :)
(p.s. acho-te parecido com o teu pai mas nos olhos com a tua mãe.)
Eu, que ando por estas "navegações" encantado com tudo o que por aqui coloca a dona justine, hoje não.
Também se poderia dizer, sobre o comportamento da rapariga ficcionada (?!) para a estória: "pois claro, é mulher, estas coisas compreendem-se, e têm de ser desculpadas, etc., etc,. e rebébéu pardais ao ninho...".
Mas não digo, não escrevi, nem nunca pensei... a não ser agora.
É que os dois comportamentos, o do jovem de 17/18 anos e da jovem de talvez 20/21 até podia ser "bonito", como de jovens que se "encontram"... mas, no caso - decerto mal contado -, se foi "feio" começou por o ser do lado feminino. Com todas as atenuantes sócio-sociológicas... mas foi e, depois, continuou, com a tentativa de escândalo e aproveitamento que diria chanatagístico.
Bolas, fizeste-me, justine querida, falar a sério! E muito ficou por dizer...
Beijos
M'olive, entrar em polémica? Náhhhh, nem pensar, e muito menos sobre este assunto!
É que eu também estava a falar a sério, mas, diria, de uma maneira mais... feminina :)) O que não é de estranhar!
Justine, tens a minha solidariedade!!!
(gostei do "rebéubéu pardais ao ninho - expressão fabulosa!)
Sérgio, sérgio... num post fazes-me chorar, no outro fazes-me rir...
beijinhos
Este é o lugar ideal para vir tirar uma teima: serás o mesmo Sérgio Ribeiro que eu estou a pensar? Encontrei o teu nome num comentário no Cantigueiro, hoje fiz umas perguntas à minha mãe e bateu certo: o local, a idade... Lembras-te da Lena Montez? Esta que aqui te vem lembrar mais "histórias ante(s)passadas era uma miúda quando te conheceu, já nem te lembras de mim. Mas parece que ainda somos da família, não é?
Lena Montez?
Será que és quem eu estou a pensar que és? Se és... há mesmo histórias ante(s)passadas em que entras, e até tenho aqui um foto que virá a calhar.
Temos de tirar isto a limpo.
Volto ao comentário anterior até porque - talvez pela emoção... - saiu como de anónimo.
Já fui ao teu blog, kaótica, e faço-te só uma pergunta: Adrião da parte da mãe, e Montez da parte do pai?
Como é que eles estão, se eles são!
Olá Sérgio Ribeiro
Essa mesmo!
A minha mãe está bem, mas o meu pai faleceu faz dia 22 de Maio um ano. Foi uma doença grave, detectada em Novembro de 2006. Foi muito triste, uma grande perda para todos que o conheceram.
A blogosfera afinal é uma aldeia e cá nos viemos encontrar, por via do Samuel que, vê lá tu bem, morou na minha rua em Linda-a-Velha.
Já agora lanço um convite: no meu blogue está um Jantar Blogosférico que vai acontecer dia 2 de Maio no Barreiro. Que tal encontrarmo-nos por lá?
Um abraço!
Caríssima Kaótica (por enquanto)
Obrigado pela confirmação daquilo que estava quase certo. Embora com a informação de que o teu pai morreu, o que causou muito pena pois tinha dele uma imagem excelente. Pouco - mas alguma coisa - conversámos. Talvez o mínimo suficiente para ter vontade de mais conversar... mas a vida é assim. Lembro-me, aliás, que me parece que a última vez que nos encontrámos estava ele em funções (dofíceis, bem complicadas) de chefe de gabinete de um 1º ministro. Por aqui me fico... e com um abraço de solidariedade para a tua mãe e para ti.
Dois acrescentos: com o impacto do nosso "encontro", e de uma fotografia por aqui encontrada, saiu-me, de sopetão, uma história ante(s)passada. Espero que lá vás ver e a mostres à tua mãe.
Tenho um encontro de blogueiros no sábado, que inclui visita ao Forte de Peniche... esse do Barreiro, temos de conversar mais... Está bem?
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