Aqui estou eu, com os meus maduros anos colhendo o doce fruito (ando com esta do Camões metida na cabeça, que é que se há-de fazer?!) desta manhã esplendorosa. Agora posto em sossego, que talvez melhor se dissesse em ressaca, depois de uma noite... agitada.
E sobre ela reflectia. Sobre a noite e o seu final. Que intempestivo foi, com abandono de agradável jantar de empresários do concelho (onde estava como membro da Assembleia Municipal e empresário, pois então), e aproveitamento da deserção para ir assistir, num "café da noite", à representação de textos a que dei as versões finais. O que não estava no programa das "minhas festas".
Mas é que ele há coisas!
Quando, no jantar, começavam as hostilidades pós-repasto que iriam desembocar numa "oração de sapiência" de Bagão Félix sobre a empresa, que até estava com curiosidade de ouvir, eis que a preliminar entrega de prémios, medalhas e essas coisas, aos empresários distinguidos no ano, começou com um relambório a justificar a entrega da 1ª medalha de ouro da ACISO (associação do comércio, indústria e serviços de Ourém), como se fosse um relato histórico com início em 13 de Maio de 1917 e uns pastorinhos que viram (não foi que teriam visto... foi que viram!) uma senhora em cima de uma azinheira, mais brilhante que não sei quantos sóis, e que disse coisas(teria dito, digo eu, até porque tem havido alterações ao que dito foi que teria sido dito...), coisas que depois foi repetindo até Outubro e por aí fora.
Primeiro, fui apanhado de surpresa, a seguir tomei-me do siso que estaria faltando ao aciso relato em jeitos de crónica histórica, e abalei porta fora. Nem a tempo de saber quem iria receber a tal primeira medalha de ouro dos empresários oureenses, mas já confirmei que foi o santuário. Pois... empresário com medalhinha de ouro.
Resmungando, melhor diria blasfemando, fiz os alguns quilómetros entre para lá de Boleiros e Ourém, e aproveitei para ir ao tal "café da noite" ver a dita representação. E cheguei a tempo de em tudo participar. Em mais uma manifestação de ausência de respeito pelos outros, com o espaço dividido em dois públicos, um desinteressado, perturbando, agredindo com "bocas" e aplausos soezes o que não ouviam, outro interessado, a ver e a fruir da esforçada (naquelas condições...) e excelente interpretação de "o cliente nunca tem razão" e "vende-se coração".
E ainda sobrou para, na casa de banho dos deficientes, se juntar o grupo todo a fazer o "briefing" (isso...), para que também fui convidado e em que participei com todo o gosto, tentando ajudar a levantar alguns "estados de espírito", alguma moral que estava, injustamente, pelas ruas da amargura.
Cá por mim, gostei de ouver, assim dito e representado, o que teve a minha redacção final. Naquelas condições, foi excelente. Noutras, mais excelente será.
.
E o sol aquece-me os pés desclaços e a alma. Vamos lá a ver o hóquei daqui a bocado, lá para o fim da tarde.
3 comentários:
Depois do hoquei, e perante todos esses antecedentes, ainda vens para casa a "doer-te a cabeça e o universo", como dizia o outro...
O hóquei correu bem - 2-1 ao Valongo -, o fusal correu quase todo bem - duas vitórias e uma derrota -, a cabeça não me doi mas o que me reconcilia com o universo - que está tão torto!, como dizia um outro - é ler legendas destas, e ter-te aqui ao lado.
Pois fizeste muito bem em teres saído! Como aqui dizemos: “Vou pregar para outra freguesia!”
-Melhor que ninguém conheces toda a História do longínquo e tão belo ano 1917, mais precisamente, Outubro 1917.
- Depois, entre uma medalhinha de ouro entregue a uma instituição capitalista, a narração do Bagão e uma simpática Representação, escolheste a melhor!
Vibraste com adrenalina antes da representação, reunião de grupo fazendo um breve balanço, entre nervos e muita inquietação.
No final o reconhecimento do grupo, do público (quem não apareceu perdeu) e de um tempo que como outros, ficará também na memória!
Quanto ao hóquei, muitos parabéns!
Mais uma belíssima narração.
GR
Enviar um comentário