faz de conta que o que é, é!... avança o peão de rei.

...
o mistério difícil
em que ninguém repara
das rosas cansadas do dia a dia.

José Gomes Ferreira

segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

Há muitos anos, tantos que somam umas boas décadas, havia uma colecção de cadernos, creio que se chamava “mosaico”, que publicava contos de autores conhecidos.
Muito jovem, lia-os com sofreguidão e de alguns me lembro com frequência. Ainda agora, neste fim-de-semana, ao olhar para uma capa de um semanário, o que me veio à memória foi um conto sobre “o homem que deixara de dormir”, que estou quase quase certo que era de Pitigrilli mas não consegui confirmar.
Contava esse conto, a que talvez eu acrescente ou diminua uns pontos, uma entrevista que uma jornalista fora fazer a um homem que estava a ser famoso porque… deixara de dormir.
A jornalista começou, naturalmente, por perguntar, ao homem que deixara de dormir, porquê essa sua decisão. E o homem respondeu que resolvera deixar de dormir porque achava que dormir era uma perca de tempo, que era assim uma espécie de antecipação da morte, ou uma morte a prestações. Perguntado, depois, como conseguia ele esse objectivo, o homem explicou que fora um esforço de vontade, algum treino, alguns truques.
A jornalista, interessada no tema, continuou a colocar perguntas, a fazer comentários, e a conversa parecia animada quando, no final de um dos seus comentários, talvez um bocadinho longo, a jornalista perguntou, ao homem que deixara de dormir, se não tinha saudades de uma boa soneca. Não teve resposta. Estranhou. Levantou os olhos do caderno onde tomava notas, olhou mais atentamente o homem, no sofá em que estava amodorrado, e percebeu: o homem adormecera!

Que me perdoe o Pitigrilli, se acaso é dele o conto e se puder…, porque o conto só mais ou menos seria assim.

3 comentários:

Justine disse...

Mas o outro vai confessando que dorme 4 horitas, sempre é um bocadinho menos ridículo que o homem do conto...

Sérgio Ribeiro disse...

Será. Mas ainda perdi a esperança de o ver adormecer, em pleno directo da televisão, frente à jornalista. Esta é que não ajuda... faz poucos e curtos comentários.

GR disse...

"...uma espécie de antecipação da morte..."
Por isso morro diariamente no máximo 3h por noite.
Não passa de um mau hábito adquirido, comer e dormir!
Gosto de estar desperta na, 25ª hora!

Adorei o texto.

GR