faz de conta que o que é, é!... avança o peão de rei.

...
o mistério difícil
em que ninguém repara
das rosas cansadas do dia a dia.

José Gomes Ferreira

domingo, 17 de maio de 2009

Portugal (ou a Espanha) fora da moeda do €uro

Fui convidado a participar num programa de rádio integrado no enquadramento mediático da campanha para as eleições europeias. Tratava-se de ouvir antigos deputados contar estórias da sua passagem pelo Parlamento Europeu. Aceitei não sem que, antes, tivesse sentido o incómodo acicate de ter sido convidado por outros, que melhor gostariam de ali ouvir em troca de recordações, já terem morrido. Sou, ao que sinto ou me fazem sentir, um sobrevivente...



E, se sobre recordações de vivências no PE muito teria a contar por ter sido questor durante 5 anos, isto é, vivido nas entranhas daquela "máquina" como membro da vertente política da sua complexa administração, alguns "casos" curiosos seleccionei, de comportamentos vulgares (ou menos que isso) de gente famosa. "Casos", aliás, que guardo para o cumprimento de um projecto de publicação para que existe uma proposta e "portfólio" à espera de resposta desde 1999... Adiante., basta de... "queixas".



O facto é que a Maria Flor Pedroso me surpreendeu, na minha apresentação, referindo um caso de que fui protagonista, e que tem a ver com a criação do euro. Surpreendido - agradavelmente - com a recordação, aqui a reconto com a tranquilidade que, no chamado debate, não teria tido suficientemente.



Avançava-se para a moeda única e, nessa caminhada, eu estava na trincheira dos que lutavam contra a sua criação, pelo modo como estava a ser feita, ao serviço de que interesses (de que classe), com os sacrifícios que iria inevitavelmente implicar, quer na criação, quer na implementação, quer nas suas consequências económicas e sociais (que se estão, aliás, a comprovar, por mais areia que se atire para os olhos...).


Nesse processo, passaram-me pelas mãos e debaixo dos olhos, as maquetas das que viriam a ser as notas e as moedas, já depois de terem passado por instâncias várias e virtualmente responsáveis. Enquanto questor, vi essas maquetas com cuidado e descobri que, nas moedas, o desenho do mapa dos Estados-membros - então 15 - fazia a cuidadosa separação dos países, com o pormenor do minúsculo Luxemburgo estar claramente separado da Bélgica e da Holanda... e haver uma Península Ibérica em que Portugal e Espanha estavam juntinhos como se um único país Estado-membro fossem.



Claro que fiz barulho, todo o barulho possível, incluindo recusando a interpretação simplista de que Portugal estaria incluído na Espanha mas levantando a questão se era a Espanha que chegava, com as suas nações, até ao Atlântico sudocidental ou se seria Portugal que chegava aos Pirenéus incluindo as hispânicas nações!



E a emenda foi feita (embora continuem a faltar Açores e Madeira...). Como se pode verificar, olhando para as moedas que, rapidamente, nos passam pelas mãos. Foi uma batalhazinha que venci na grande luta em que estávamos. E continuamos.



Foi-me agradável tê-lo ouvisto recordado, eu que do episódio estava esquecido.

4 comentários:

Anónimo disse...

A quem é que devo "exigir" a publicação das experiências desses teus tempos, que bem interessantes e saborosas devem ser?

Campaniça

Justine disse...

Este episódio, aparentemente menor, ilustra na perfeição o peso que Portugal tem nessa "Europa" das grandes potências - e torna ainda mais repugnante a subserviência dos nossos governantes a essa tal Europa!

Nocturna disse...

Sérgio
Repito ( com o devido respeito) o post de Anónimo : A quem devemos exigir a publicação das experiências desses teus tempos ....?
Se for preciso ajudar a divulgá-lo , quando sair, já sabes onde estou.
E não calculas o prazer que me daria,fazê-lo .
Um grande abraço
Nocturna

GR disse...

Eu ouvio programa em directo .
Melhor que ninguém contaste as história com mais interesse, alguns segredos pouco desvendados, foste de longe o melhor!

Agora temos o direito de ler mais e mais. E sabes TANTO!

Parabéns!

bjs,

GR