À maneira de António Jacinto (para começar…)
e de Manuel da Fonseca (para acabar…)
e de Manuel da Fonseca (para acabar…)
Naquele tempo,
a malta vinha do liceu,
punha os livros no chão,
a fazerem de balizas,
os que usavam calças compridas arregaçavam-nas,
os que usavam ainda calções não precisavam…
e no pátio das traseiras da mercearia do pai do Alfeu
(ó Alfeu abre o cu que lá vou eu…)
a malta fazía grandes desafios!
Naquele tempo,
os que vinhamos a férias (e grandes eram as férias…)
juntávamo-nos no largo da igreja
com os que cá viviam
e pequenas ou nenhumas férias tinham
(ah!, os óculos escuros do Orlando!)
e íamos jogar bilhar p’ró Central
ou escapávamo-nos para a largueza em frente dos Correios
(ih!, tão larga iria ser a avenida e tão estreita é!),
ou para a Feira do Mês, em frente da cadeia e do César dos pássaros,
e que grandes desafios fazíamos
(alguns de nós de pé descalço...)
Meus companheiros de bola de trapo e pé descalço...
como o tempo passou!
como o tempo passou!
Cabelos brancos ou onde é que eles vão,
barrigas redondas, andar arrastado.
barrigas redondas, andar arrastado.
No livro dos assentos da vida,
somando somando,
somando anos e anos,
lembrando casos de ontem,
esquecendo coisas de hoje
somando somando,
somando anos e anos,
lembrando casos de ontem,
esquecendo coisas de hoje
Na vila quieta,
sem vida
sem nada
- onde estão os dias amarelos verdes azuis encarnados?,
onde está aquela alegria antiga, os berros de gooolo!,
os gritos de toma lá que já almoçaste/merda que me aleijaste...?
onde está aquela alegria antiga, os berros de gooolo!,
os gritos de toma lá que já almoçaste/merda que me aleijaste...?
Ó meus amigos desgraçados,
se a vida é curta e a morte infinita,
despertemos e vamos
se a vida é curta e a morte infinita,
despertemos e vamos
Eia!,
vamos fazer qualquer coisa de louco e heróico
como era jogar à bola onde hoje só há carros a passar,
nós a correr atrás de uma bola de trapo
... e alguns de pé descalço.
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[1] Os cucos são aves conhecidas por chocarem os ovos em ninhos feitos por outros/as; também se aplica o epíteto a algumas “aves” humanas que se aproveitam do trabalho dos outros/as
[1] Os cucos são aves conhecidas por chocarem os ovos em ninhos feitos por outros/as; também se aplica o epíteto a algumas “aves” humanas que se aproveitam do trabalho dos outros/as
5 comentários:
Arrepiei-me com a segunda parte do poema/cuco do Manuel da Fonseca, mas foi um arrepio bom, que dá ainda mais força (como se fosse preciso) para gritar no dia 1...
Gostei muito destes poemas.
Mas como a Maria diz (sempre correctamente) a segunda parte "dá ainda mais força...para gritar no dia 1".
GR
Dia 1 de Março,lá esteremos a responder a essas aves humanas!
Abraço
José Manangão
Blog a blog atrás da fotografia e da poesia...gostei e hei-de voltar!
Aos habituais visitantes... olá!
Aos novos... bem-vindos.
Ontem, chamei a este blog "íntimo", e que assim continuará, reservado a quem por aqui passe por acaso e ganhe o hábito ou a curiosidade de "ir passando".
Nem sei se era para ser assim, assim se foi tornando.
De qualquer modo, através dos blogs e do que for, o que vamos fazendo é procurarmo-nos. E encontrarmo-nos. Por exemplo - e que exemplo! - no dia 1 de Março que se aproxima.
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