faz de conta que o que é, é!... avança o peão de rei.

...
o mistério difícil
em que ninguém repara
das rosas cansadas do dia a dia.

José Gomes Ferreira

segunda-feira, 15 de outubro de 2007

Breve crónica

Em Vale de Vargos. Terra (e gente!) heróica na resistência antifascista e na reforma agrária.
Onde se realizava uma sessão da iniciativa "Civilização ou Barbárie", com base em Serpa.
Na sala da Junta, uma "plateia" bem composta naquela manhã de sábado, mais de meia centena de presentes. Depois das intervenções iniciais da mesa (onde estava também o "camarada presidente da Junta"), de um jornalista estado-unidense, de um mexicano, e de dois portugueses, passou-se ao debate.
As análises eram de grande seriedade e muita preocupação relativamente à conjuntura política (estas expressões...), mas o ambiente era caloroso, fraterno, de esperança porque de informação e de luta. Para a luta. Que continua.
E pede a palavra um homem. Daqueles dali. Daquela terra e daquela gente.
Com o seu cerrado "jêto de falari", começou por usar os termos vindos da mesa, agradecendo os contributo e o diagnóstico e, de repente, muda de rumo ao discurso...
Ó amigos... vou mazé contar uma estória:
Numa escola, a professora vê um aluno que lhe pareceu triste "que tens tu, mê filho?" "é que lá na nha casa nasceram uns gaticos...", "atão e não estás contente?", "nã tou não, senhora professora!, nã têm graça nenhuma... são cor de rosa... devem ser do pêesse...". A professora achou por bem não comentar e mudou de assunto. Dias depois, o mesmo aluno parecia muito contente, "olha lá ... já gostas dos gatinhos?", "atão não havera de gostar... já abriram os ólhos! ... são do pêcêpê."
.
(Que pena não ter ficado gravado... tinha muito mais graça!)

12 comentários:

GR disse...

Com discursos únicos e palavras simples os alentejanos demonstram a sua sabedoria!
Quem não entendeu “a moral da história”?
Esta autenticidade faz, pequenos ápices, momentos inesquecíveis!

Os gatinhos não eram primos do Mounty?

GR

Maria disse...

Maravilha da gaticos.... pois se eram lá de casa, só podiam ser... do PCP, claro....

Abreijo

Anónimo disse...

Sérgio, estou a imaginar a cena, o ambiente, o acento cerrado (que para mim tem um significado que não sou capaz de explicar, embora gostasse). Há acontecimentos que, por serem tão simples e, ao mesmo tempo, tão ricos, se tornam difíceis de partilhar. Só mesmo vivendo-os.

Anónimo disse...

Se "abriram os olhos" e sendo alentejanos, esses gaticos só podem ser primos do Mounty...
História bem contada, mas muito melhor ouvida!

Anónimo disse...

Até que enfim fica revelado que o Mounty é alentejano... Ou já estava lá para trás e eu não vi? Acho que o Mounty já merece um blogue só dele com Identificação e tudo... Se bem que o quarteto é quase só dele! Mas ainda tem o quase...

Anónimo disse...

Obrigado a todas (são mesmo só... todas) mas particularmento à Campaniça. Cá por coisas (de Vale de VArgo) e porque até me corrigiu, e em vez de "sotaque" (que não é sotaque, estou de acordo) escreveu "acento". Mas o caso é que não gosto de "acento", parece-me francesismo vindo do "accent". Já sei... é aquele "jêto de falari" que eu gosto tanto de ouvir!
Desculpem lá mas vou emendar. Se posso melhorar, porque não o faço?
E "aprovêto" para seguir uma sugestão de melhoria que aqui a justine me deu que lhe parece que os olhos abertos têm mais força que os olhitos abertos.
Tá aqui está ums estórinha colectiva. E porque não?

Justine disse...

Duas boas ideias a desenvolver: um blogue do Mounty (vou consultá-lo sobre o assunto...) e uma história colectiva - quem tem a iniciativa?

Anónimo disse...

Eu só posso recordar o compadre Chico Malveiro. Era um homem muito parecido com aquele que tu descreves, Sérgio. Operário agrícola, com a casa cheia de filhos e de fome. Sobretudo no Inverno, porque, como a terra estava na mão de dois "senhores", trabalho só havia pela ceifa, no Verão, e depois, na apanha da azeitona e nas mondas.
Numa noite de Inverno, tinha eu mais ou menos cinco anos, o compadre Chico Malveiro (a minha avó tratava-o assim porque era madrinha dum seus filhos) apareceu lá em casa com uma alcofa onde trazia castanhas piladas e amendoins, que ia vendendo para enganar a fome aos filhos. Lembro-me dele sentado à lareira. Falava baixo e contava, por meias palavras, à minha avó qualquer coisa que me despertou a curiosidade. Consegui ouvir o que dizia. Contava que o pai do Álvaro Cunhal tinha ido visitar o filho à cadeia. Lembro-me como se fosse hoje. Dizia ele " deram-lhe a visita porque o Álvaro fazia anos.O pai ofereceu-lhe uma pomba da paz". A minha avó virou-se para mim e fez-me sinal de "bico calado". Nunca me esqueci deste episódio.

Anónimo disse...

Ah! Campaniça, Campaniça... tanta estória para contar. De vida. da vida que vale a pena viver... ou ter sido vivida!
Vamos pegar na sugestão da justine/mountolive? Vamos, aqui, contar estórias em colectivo? Ora agora conto eu, ora agora contas tu.
Esta do compadre Chico Malveiro podia ter sido um bom começo. Mas há tantas outras...

Abreijos

Anónimo disse...

Como muita pena, digo que não tenho jeito para criar histórias. A única coisa que consigo e, confesso, com dificuldade, é lembrar alguns acontecimentos que, por uma ou outra razão, guardei na memória.

Anónimo disse...

Então, campaniça, conta-nos lá um...

Anónimo disse...

Talvez um dia destes.